Correio braziliense, n. 19386, 23/06/2016. Política, p. 5

Hora de retomar as nomeações

CRISE NA REPÚBLICA » Temer dará início na semana que vem às indicações para cargos nas estatais. Processo começará pelo setor elétrico
Por: PAULO DE TARSO LYRA E NAIRA TRINDADE

 

PAULO DE TARSO LYRA
NAIRA TRINDADE

 

 

Para não melindrar ainda mais o mercado e a base aliada, o presidente em exercício, Michel Temer, deve retomar as nomeações para as estatais, começando pelo setor elétrico, a partir da próxima semana. Também torce para que o processo do impeachment seja de fato acelerado para que os investidores nacionais e estrangeiros aportem de uma vez os recursos no país. E evitará, até o último momento, se envolver no debate sucessório da Presidência da Câmara, alegando que, para todos os efeitos, o cargo é de Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Em jantar na casa do senador Zezé Perrella (PDT-MG), na noite de terça-feira, Temer fez questão de agradecer pessoalmente ao Presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a aprovação do projeto de lei que define novas regras para nomeações de empresas públicas. Mais do que aprovar, o Planalto comemorou o fato de os senadores terem restituído o texto original, que impõe uma quarentena de três anos para que dirigentes partidários e sindicais possam ser indicados para esses cargos.

A Câmara tinha derrubado a quarentena, estabelecendo apenas a obrigatoriedade de que as duas funções — dirigente político/sindical e executivo de estatal — fossem exercidas simultaneamente. “A intenção do Planalto, corroborada pelo Senado, era estancar a farra que existe hoje de indicações políticas”, afirmou ao Correio um interlocutor palaciano. Temer poderá escolher nomes técnicos ou do mercado para os postos, mas não abdicará de ouvir os presidentes e líderes de partidos aliados. “Eles, contudo, saberão que as regras são essas e terão que se adaptar a elas”, completou o aliado do presidente.

 

Investimentos

Temer e os integrantes da equipe econômica também debateram ontem, durante reunião no Palácio do Planalto, a necessidade de que o processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff seja aprovado o mais rapidamente possível. A insegurança da atual situação não é apenas política, mas econômica. Temer, de fato, anda incomodado com o carimbo da interinidade. Mas são os relatos dos investidores que têm tirado o sono do presidente.

Na reunião palaciana, o peemedebista ouviu o alerta de um ministro de que diversos empresários estão dispostos a investir no país e a ajudar a recuperar a economia nacional. Mas que só farão isso após a certeza de que o atual governo não será mais interino. Assusta a esse grupo de empresários a possibilidade de Dilma Rousseff retornar ao Palácio do Planalto.

O governo já tem, inclusive, os principais destinos em que deseja aportar o capital estrangeiro: a venda de terras como garantia para a liberação do crédito; investimentos nas companhias aéreas — a medida provisória foi aprovada na terça-feira na Câmara, permitindo um aporte de até 100% de capital externo nas empresas nacionais —; e os investimentos no pré-sal. O governo acredita que a atratividade deste setor ficará ainda maior caso a Câmara aprove o projeto que desobriga a Petrobras de ser exploradora única e ter 30% do capital investido na exploração dos campos de petróleo.

Se tenta vender otimismo no campo econômico, o Planalto quer ser o mais cauteloso possível na área política. O Correio mostrou ontem que a sucessão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na Presidência da Câmara poderá provocar um cataclisma na base aliada, com o lançamento de diversos candidatos aliados ao Planalto, alguns deles, inclusive, apoiados por parlamentares da oposição.

Os estrategistas palacianos informaram ontem que não há a menor hipótese do Planalto se envolver neste debate no momento atual. Justificam a cautela afirmando que ninguém ganha mexendo nesse vespeiro agora. “Definir um nome para apoiar com tanta antecedência é um risco e um erro”, afirmou um interlocutor palaciano.

 

TSE aplica multa milionária em Perillo

O plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu multar o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), em R$ 1 milhão, a serem recolhidos ao Tesouro Nacional por “doações sem identificação das fontes na prestação de contas da campanha de 2014”. A decisão modificou a sentença anterior, do Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TRE/GO). Pelo voto do relator, ministro Herman Benjamin, a decisão de quem pagará a multa — se o governador ou o PSDB — caberá ao Tribunal Regional Eleitoral de Goiás porque a defesa de Perillo informou, em sustentação oral, que as doações foram divididas em dois cheques, um de R$ 250 mil e outro de R$ 750 mil.