Título: Depois da euforia, a ressaca
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 29/10/2011, Economia, p. 18

Um dia após o entusiasmo com o acordo dos líderes da União Europeia para socorrer a Grécia e capitalizar os bancos, os mercados financeiros viveram a amarga realidade ontem. Numa atitude mais realista, os investidores ressaltaram as incertezas quanto ao pacote grego e ao reforço no Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef). Muitas dúvidas ainda cercam as medidas anunciadas para evitar o contágio de outros países pela crise da dívida, o que levou as principais bolsas de valores do continente a fechar no vermelho: Londres (-0,2%), Madri (-0,5%) e Paris (-0,59%). A exceção foi Frankfurt, que conseguiu subir 0,13%.

Do outro lado do Oceano Atlântico, a cautela também predominou, o que não impediu as bolsas de Nova York e de São Paulo de fecharem em leve alta. Na paulista, o Ibovespa oscilou de uma mínima de -0,86% a uma máxima de 0,67%, mas acabou encerrando com valorização de 0,41%, aos 59.513 pontos. O ganho entre segunda-feira e sexta foi de 7,71%, na melhor semana do ano para o indicador. No mês, o desempenho é positivo em 13,74%, ainda insuficiente para anular as perdas acumuladas no ano, que chegam a 14,13%. Em Wall Street, o índice Dow Jones avançou 0,18% e o S&P 500, 0,04%.

Protestos O anúncio do pacote de ajuda à Grécia não tranquilizou os ativistas gregos. Milhares de pessoas foram às ruas contra as medidas de austeridade fiscal com que o governo do primeiro-ministro George Papandreou se comprometeu. Houve confronto com a polícia depois que jovens bloquearam uma parada militar em Tessalônica, forçando o presidente do país, Karolos Papoulias, a desviar seu caminho. Em Atenas, policiais também enfrentaram estudantes que tentaram impedir um comício do ministro da Educação empunhando bandeiras em que se lia: "Não estamos à venda".

Houve palavras de ordem contra o presidente francês, Nicolas Sarkozy, que disse ter sido um "erro" a entrada da Grécia na Zona do Euro, expondo as divergências entre os líderes do continente. Depois do calote de metade da dívida grega, a agência de classificação de risco Fitch anunciou que pode elevar a nota do país de CCC para B, o que o levaria à categoria de investimento especulativo — hoje, os papéis são considerados "lixo".

Milhares de italianos protestaram em Roma contra a intenção do governo do primeiro-ministro Silvio Berlusconi de aumentar a idade mínima para a aposentadoria. A pressão dos líderes para que os países mais endividados, como a Itália, adotem planos críveis de cortes de gastos continua. Ontem, o Tesouro italiano fez uma emissão de títulos no valor de 7,9 bilhões de euros. A operação foi um teste sobre a confiança dos investidores na solvência italiana, mas o resultado não foi satisfatório. Os juros exigidos no papel com vencimento em 2022 chegaram a 6,06%, um novo recorde. A demanda foi considerada decepcionante e o Tesouro não conseguiu lançar os 8,5 bilhões pretendidos.