Senado aprova indicado por Temer para Abin

 

18/08/2016
Letícia Casado

 

O Senado aprovou ontem a indicação de Janér Tesch Hosken Alvarenga para o cargo de diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Dos 47 senadores que participaram da votação, 43 votaram pela aprovação, três foram contra e um se absteve. Funcionário de carreira da Abin, Alvarenga era diretor do Departamento de Inteligência Estratégica da agência. Por mais de sete anos ocupou cargos de assessoramento e de direção no GSI, foi superintendente estadual em Goiás e em Pernambuco e adido de Inteligência do Brasil na Colômbia.

Durante a tarde, Alvarenga foi sabatinado na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado, que aprovou seu nome por 12 votos a um.

Aos senadores, Alvarenga disse que a agência não monitora movimentos sociais e que a Abin está em conversas com o Ministério do Planejamento para abrir vagas em concursos públicos.

O Valor apurou que a Abin negocia com o Planejamento a abertura de cerca de 600 vagas a serem preenchidas por meio de concursos nos próximos quatro anos. O efetivo da Abin não é público, mas fontes da área de investigação estimam que a agência tenha entre 2 mil e 3 mil funcionários. Alvarenga se limitou a dizer que o atual número "é insuficiente para o que a agência precisa".

"Sabemos que há orientação do governo federal para que haja abertura de concursos públicos e está sendo verificada a melhor condição para que a gente possa preencher vagas nos próximos anos. No momento, é a solução com a qual estamos trabalhando", disse Alvarenga.

Investigadores ouvidos pela reportagem disseram que, além de pessoal, faltam equipamentos e condições de atuação para a Abin, a qual veem "engessada"; a agência teria, por exemplo, dificuldades para conseguir fazer quebras de sigilos de suspeitos e avançar em investigações próprias, que independam de outros órgãos de segurança. O principal exemplo citado é a CIA, agência de inteligência americana, que tem condições financeiras, tecnológicas e de pessoal para produzir dossiês e apresentá-los a outros órgãos de investigação para que continuem com o levantamento de informações.

A indicação de Alvarenga foi feita pelo ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, Sérgio Etchegoyen, e pelo presidente interino, Michel Temer.

De acordo com uma fonte da agência, Temer e Etchegoyen escolheram Alvarenga dentre uma lista tríplice. Ele teria o objetivo de fazer "trabalho de inteligência estratégica e não de polícia" - Alvarenga era diretor dessa divisão.

O decreto presidencial que regulamenta a agência determina que cabe ao departamento de inteligência estratégica "obter dados e informações e produzir conhecimentos de inteligência sobre a situação nacional e internacional necessários para o assessoramento ao processo decisório do Poder Executivo".

Alvarenga substitui Wilson Roberto Trezza, que ocupou o cargo por oito anos e pediu demissão no primeiro semestre. Reportagem publicada em maio pelo jornal "Folha de S.Paulo" informou que a decisão de Temer de recriar o GSI sem discutir a ideia com o comando da Abin culminou no pedido de demissão de Trezza. (Colaborou Vandson Lima)

 

Valor econômico, v. 17, n. 4072, 18/08/2016. Política, p. A8