No primeiro dia do julgamento do impeachment no Senado, o presidente interino Michel Temer, em tom descontraído, afirmou que este é um processo "natural" na democracia. O pemedebista manteve a rotina de despachos no Palácio do Planalto e, durante a tarde, comandou a solenidade de acendimento da tocha paralímpica. Ele confirmou que comparecerá à abertura dos Jogos Paralímpicos, no dia 7, no Rio de Janeiro, seja a posição em que estiver.

Ao final da cerimônia, questionado pelos jornalistas se estava "nervoso" ou "inseguro" com o resultado do impeachment, que chega à reta final, Temer minimizou o fato e respondeu com bom humor. "Ah, imagina, é uma coisa tão natural na democracia". Desde a retomada democrática, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, o impedimento da presidente afastada Dilma Rousseff é o segundo na história brasileira. O primeiro presidente alvo de impeachment foi Fernando Collor, em 1992, hoje senador pelo PTC de Alagoas. Collor, que renunciou antes da conclusão de seu julgamento, vota a favor do afastamento definitivo de Dilma.

Ontem Temer estava bem humorado ao ouvir o discurso do atleta paralímpico Yohansson Nascimento, que declarou estar preparado para ganhar mais medalhas para o Brasil. O interino anunciou que participará da abertura dos jogos, "em qualquer circunstância".

"Eu quero, em primeiro lugar, anunciar que, em qualquer circunstância, esteja eu na posição que vier a estar, com muita emoção, com muita alegria cívica e com muito patriotismo, eu irei à abertura dos Jogos Paralímpicos", afirmou, a uma plateia formada por ministros, autoridades e cerca de 50 paratletas.

Temer está confiante na vitória e conta com pelo menos 61 votos favoráveis ao impeachment, embora seus aliados se esforcem para alcançar o placar de 63, com a adesão do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e do senador Elmano Férrer (PTB-PI), que é aliado do PT em seu Estado. Temer gostaria que o julgamento fosse concluído até terça-feira, dia 30, para embarcar com antecedência para a China.

Ontem, no início do evento, Temer desceu a rampa do Planalto ao lado do ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP). Foi a primeira vez que reapareceram em público após a declaração de Barros, que repercutiu negativamente, de que "os homens trabalham mais que as mulheres". Mas apesar dos rumores de que substituiria Barros, Temer não cogita mudar o titular da Saúde logo depois do impeachment. Barros foi aconselhado, contudo, a suspender entrevistas no momento.

Ontem, no discurso durante a solenidade, Temer comemorou o sucesso da Olimpíada no Rio de Janeiro e elogiou a organização do evento. "O Rio de Janeiro é a capital do Estado, mas a partir do dia 5 passado, passou a ser capital do mundo. E nós verificamos como, de fato, o mundo todo tirou o chapéu para o Rio de Janeiro mas, especialmente, para o Brasil. Nós fomos capazes de organizar um evento que ganhou o aplauso internacional", avaliou. Ele disse que se o Brasil conquistou 19 medalhas na Olimpíada, esse número chegará a pelo menos 23 nos Jogos Paralímpicos.