Valor econômico, v. 17, n. 4078, 26/08/2016. Política, p. A8

PF vê contradição em depoimento de Lula

Petista disse desconhecer ex-diretor da OAS, o que não se confirmaria em mensagens em celular

Por: André Guilherme Vieira

 

Relatório de análise concluído pela Polícia Federal (PF) aponta que mensagens do celular do empreiteiro José Adelmário Pinheiro Filho, o Léo Pinheiro da OAS, contrariam a versão apresentada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em depoimento prestado à Operação Lava-Jato em março deste ano, durante a fase Aletheia.

Durante a oitiva, Lula afirmou não conhecer o ex-diretor da OAS Paulo Gordilho, um dos investigados por supostas reformas e benfeitorias realizadas no sítio Santa Bárbara, em Atibaia, e no tríplex do condomínio Solaris, no Guarujá.

O laudo da Lava-Jato ressalta a troca de mensagens entre Léo Pinheiro, Paulo Gordilho e a filha dele, Isnaia.

"Lula revela que não conhece o senhor Paulo Gordilho, ex-diretor da OAS Empreendimentos, declaração esta que vai em sentido contrário do contexto da troca de mensagens inseridas, uma vez que pelo teor dessas mensagens era possível notar que havia alguma relação de proximidade entre Paulo Gordilho e o ex-presidente Lula", diz o documento.

À Polícia Federal, Lula disse que não conhece nenhum ex-diretor da OAS, segundo o termo de depoimento tomado em março no aeroporto de Congonhas, em São Paulo.

A PF também destaca, no laudo, mensagens em que Paulo Gordilho relata à filha encontro "na fazenda de Lula", em Atibaia. Nesse encontro estariam também a ex-primeira-dama Marisa Letícia, segundo a mensagem de Gordilho obtida pela Polícia Federal.

"Além disso, Paulo Gordilho conta que haverá um segundo encontro com dona Marisa no decorrer daquela semana para tratarem dos mesmos assuntos. Vale destacar também que Paulo Gordilho tem demasiada preocupação com o sigilo do encontro, pedindo à sua filha 'sigilo absoluto' do mesmo", diz o laudo.

Para a PF, "as mensagens demonstram a atuação de Paulo Gordilho, e consequentemente da construtora OAS, em obras realizadas no sítio em Atibaia, indicando ainda a ciência por parte do ex-presidente Lula acerca do assunto, pois em certo trecho ele escreve 'ele quer uma coisa e Marisa quer outra e lá vai (sic) eu e o Léo dar opinião', além de citar o encontro entre os mesmos".

A análise aponta ainda que informação prestada por Lula, no depoimento, sobre o fato de que ele e Léo Pinheiro visitaram o sítio de Atibaia apenas uma vez, durante um churrasco, coincide com as trocas de mensagens. Nelas, Gordilho diz à filha que vai a um churrasco em Atibaia "na fazenda de Lula" e que ele, Lula e Léo Pinheiro estariam presentes.

A PF também vê contradição no fato de Lula ter negado que Gordilho tivesse relação com o tríplex do Guarujá. "As declarações são no sentido contrário dos fatos, pois em troca de mensagens entre Paulo Gordilho e Léo Pinheiro, quando este questiona Paulo Gordilho se o projeto da cozinha do Guarujá estaria pronto, Paulo Gordilho responde de forma afirmativa."

Em nota, a defesa de Lula afirmou que "o ex-presidente Lula e seus familiares não são proprietários de qualquer imóvel no Edifício Solaris, no Guarujá, ou em Atibaia. Os imóveis pertencentes a Lula estão devidamente declarados à Receita Federal".

Ainda segundo o comunicado da defesa, "a obsessão da Lava-Jato em tentar incriminar o ex-presidente e atacar sua reputação e de seus familiares faz com que os investigadores se valham de procedimentos ocultos e de seguidos vazamentos de questões absolutamente irrelevantes, gastando tempo e recursos públicos do Estado".