Aliados da petista não veem efeito na votação no Senado

Ricardo Brito

17/08/2016

 

 

Ao contrário do que afirmaram em público, aliados da presidente afastada Dilma Rousseff no Senado admitem reservadamente que a carta divulgada pela petista ontem não terá efeito para reverter a provável condenação dela por crime de responsabilidade no julgamento final do impeachment , que começa a ser votado no dia 25 na Casa.

A avaliação dos senadores simpatizantes de Dilma é de que ela perdeu o momento para se aproximar do Congresso e da população. Um deles avaliou que “não há nenhuma chance de mudança” dos votos.

A ideia de fazer uma carta surgiu em maio, dias após ela ser afastada temporariamente pelo Senado, no dia 12. Na época, a Executiva Nacional do PT afirmou que a petista deveria fazer, o mais rápido possível, um programa.

Ela, porém, só apresentou o documento agora.

Durante o agravamento da crise, a discussão sobre novas eleições, que chegou a ter a simpatia do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), perdeu fôlego e Temer consolidou seu placar entre os senadores – houve mais votos a favor na sentença de pronúncia do que no afastamento.

Em público, líderes oposicionistas vão manter o discurso de que a carta poderá reverter votos para Dilma no plenário. Para o líder da oposição no Senado, Lindbergh Farias (PT-RJ), a divulgação mostra que a petista “não jogou a toalha” e que a população precisa ser consultada sobre os rumos de quem vai comandar o País. O petista aposta que o comparecimento de Dilma ao Senado, durante o julgamento, terá ainda mais efeito do que a carta para absolvê-la.

“Uma conversa cara a cara pode virar o jogo”, acredita.

Mas a estratégia de divulgação da carta de Dilma incomodou senadores apoiadores da petista. Embora alguns tenham dado contribuições ao texto, eles não receberam o texto antes do pronunciamento.

Críticas. Senadores aliados de Temer desqualificaram a carta e a consideraram inócua para reverter a votação no Senado. O líder do PSDB na Casa, Cássio Cunha Lima (PB), chamou a carta de “ato de desespero político”.

“Depois de ter virado as costas para o Congresso Nacional e a sociedade, ela quer agora dialogar? É uma medida intempestiva, fora do timing”, avaliou.

O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), disse que a carta demonstra que Dilma está “completamente desconectada” com a realidade. “Ela trata do momento de crise que o País enfrenta como se não fosse ela a responsável”, criticou.

O presidente do DEM, senador José Agripino (RN), considerou o gesto “pura apelação”.

“É inconstitucional e derrotista.

Quando a Câmara aprovou a autorização da abertura do processo de afastamento, Dilma poderia ter anunciado essa proposta de plebiscito com compromisso de renúncia imediata. Aí, sim, haveria sinceridade.”

Reta final

“(Ela) Não jogou a toalha.”

Lindbergh Farias

SENADOR (PT-SP)

“(A carta) É fora do timing.”

Cássio Cunha Lima

SENADOR (PSDB-PB)