Correio braziliense, n. 19368, 05/06/2016. Política, p. 4

"Quanto mais rápido, melhor" - Entrevista com Leonardo Picciani

Para ministro do Esporte, o ideal é que o impeachment esteja votado antes das Olimpíadas

Por: Denise Rothenberg, Leonardo Cavalcanti e Paulo de Tarso Lyra

 

Líder do PMDB reeleito, em fevereiro, com o apoio da presidente da República afastada, Dilma Rousseff, e escolhido ministro do Esporte pelo presidente em exercício, Michel Temer, Leonardo Picciani garante que não vê contradições nesta situação. “A minha interpretação jurídica pessoal me levou a votar contra a abertura do processo de impeachment. Eu expressei a posição e fui voto vencido”, afirmou. Picciani defende que a situação política esteja resolvida antes do início das Olimpíadas, em 5 de agosto. “Quanto mais rápido o impeachment estiver solucionado, melhor”. E não prevê surpresas. “Ao que me parece, é remota a chance disso (Dilma voltar) ocorrer”, asseverou. Picciani está animado com a Olimpíada, apesar da epidemia de zika e da barbárie do estupro coletivo. Em entrevista exclusiva ao Correio, o ministro não prevê que a Operação Lava-Jato possa atrapalhar o governo Temer, assegurou que Pedro Paulo será o candidato do partido à Prefeitura do Rio em outubro e adiantou que o atual prefeito, Eduardo Paes, poderá ser o nome da legenda ao Planalto em 2018.

 

Qual o tamanho do estrago provocado pelo estupro coletivo, na imagem do Rio, a 60 dias do início das Olimpíadas?

Esse caso do estupro coletivo é uma verdadeira barbárie e deve ser tratado como tal. Mas eu não creio que isso abale a imagem da cidade. As providências foram tomadas. As demais questões de segurança, que estão a cargo do Ministério de Justiça e do Ministério da Defesa, estão muito bem organizadas. O Rio tem tradição de sediar grandes eventos sem nunca ter tido problemas.

 

Mas nenhum é tão grande quanto esse...

Sim, os Jogos Olímpicos são de uma maior magnitude. Mas, por exemplo, na Jornada Mundial da Juventude, a missa celebrada pelo Papa Francisco teve três milhões de pessoas no Aterro do Flamengo.

 

O país vive um anticlímax em relação à Olimpíada. O país era outro na época da escolha do Rio como cidade-sede. Como é que o senhor vê o atual evento nesse cenário brasileiro?

As Olimpíadas foram um compromisso que o Brasil assumiu com a comunidade internacional quando se candidatou e teve a confiança do mundo para fazer; evidentemente que em um cenário diferente. Temos que encarar isso como uma oportunidade. Nós nos candidatamos, vencemos e vamos sediar os jogos Olímpicos, com crise ou sem crise. A oportunidade é de restabelecer a credibilidade e a confiança do país, de fazer uma grande festa e de firmar o Brasil como destino turístico.

 

O senhor foi um dos últimos a desembarcar do governo Dilma. Como foi essa passagem?

Eu tenho uma compreensão de que o impeachment não é uma eleição indireta. O impeachment é um processo de impedimento do mandatário do país e foi sobre esse processo que eu, como deputado, me debrucei. A minha interpretação jurídica pessoal me levou a votar contra a abertura do processo de impeachment. Uma das regras fundamentais do parlamento é o respeito às decisões colegiadas. Eu expressei a posição e fui voto vencido.

 

Mas o senhor mantém a sua opinião?

Como eu tenho clareza de que o impeachment não é uma eleição indireta, meu voto não foi contrário ao presidente Temer.  Eu estava opinando se deveria prosseguir, ou não, o processo. Sendo eu do PMDB e tendo uma longa convivência com o presidente Temer, eu tinha uma obrigação de, uma vez convidado, estar à disposição e ajudá-lo nessa missão.

 

A chance de a presidente Dilma voltar ao poder após a votação no Senado existe?

Eu não acompanho o dia a dia desta discussão no Senado. Agora, ao que me parece, é remota a chance disso ocorrer.

 

Interlocutores do Planalto dizem que seria importante para o país chegar à Olimpíada com a situação do impeachment definida. Concorda?

Quanto mais rápido o impeachment for votado, melhor. No entanto, o Senado tem que seguir o que determina a constituição, a Lei do Impeachment e o seu regimento interno; isso pressupõe cumprir os prazos estabelecidos. Eu creio que, dentro dos prazos que o ordenamento jurídico estabelece, o Senado cumprirá essa tarefa, mas não precisa ter açodamento, deve ser feito dentro da legalidade.

 

Esse início de governo Temer tem sido muito criticado. Está havendo mais dificuldade para colocar o governo nos trilhos do que se esperava antes?

Vínhamos de uma situação em que o governo tinha perdido o apoio político, a presidente Dilma tinha perdido completamente a sua maioria congressual. Já no início da gestão do presidente Temer, ele conseguiu recompor essa maioria congressual, aprovar a meta fiscal, nós temos tido sucessos e vitórias nas matérias do dia a dia. Na questão dos ministérios, eu acho que a decisão de enxugar pastas é uma decisão acertada — inclusive, o PMDB sempre defendeu isso. Não há demérito nenhum em rever determinados atos quando se tem a compreensão de que essa revisão será em benefício do país. Pessoalmente, eu acho que o presidente Temer acertou no caso da Cultura.

 

Até que ponto a Lava-Jato pode inviabilizar o governo?

Eu não acredito que a Lava-Jato possa inviabilizar o governo e nem que o governo possa inviabilizar a Lava-Jato. Um dos pontos positivos que nós vivemos no Brasil é que a Lava-Jato teve um papel importante, é a demonstração do funcionamento das instituições. Quem tem que ser investigado está sendo investigado, quem tem que se acusar está se acusando.

 

E como o governo deve agir?

O governo tem que tomar as medidas que são importantes para governar o país, para retomar o desenvolvimento econômico e os indicadores positivos. Não devemos misturar as duas questões, a Lava-Jato deve ter liberdade de investigação e o governo deve cumprir o papel de governar.

 

A Lava-Jato pode enfraquecer o PMDB?

Não creio que a Lava-Jato possa trazer embaraços ao PMDB de forma institucional. Se houver integrantes do partido que tenham alguma explicação para dar, terão que dar, mas nunca houve nenhuma atuação orgânica em qualquer tipo de desmando.

 

Na sua avaliação, o Jucá (ex-ministro do Planejamento Romero Jucá) volta para o governo?

Não me cabe fazer essa avaliação. Eu acho que ele tomou a medida correta, de se afastar até que a situação esteja esclarecida e acredito que, sendo esclarecido de forma positiva, ele retornará sem problema nenhum ao governo.

 

Como está a candidatura do PMDB à prefeitura do Rio?

O candidato é o Pedro Paulo. Não tem nenhum plano B.

 

Mas não é um candidato difícil do ponto de vista de eleitorado, por todas as acusações que pesam contra ele?

Será uma eleição dura, mas foi a opção tomada pelo partido. O Pedro tem essas dificuldades que terá de enfrentar nas eleições. Por outro lado, nós temos a convicção de que ele é o candidato que mais bem conhece a gestão da cidade, é o que tem o maior preparo gerencial para governar a cidade.

 

O governo estadual do PMDB passa por problemas financeiros severos. Como convencer a população que os problemas não se repetirão na gestão municipal?

O governo do PMDB na capital é bem avaliado; já foi melhor, mas hoje em dia é bem avaliado. A máquina da Prefeitura, que teve o Pedro Paulo como principal braço direito do governo, é uma experiência de sucesso. Portanto, sob esse aspecto, esse governo do PMDB na capital é altamente positivo.

 

O Paes é o nome mais forte do PMDB para 2018?

Não se disputam duas eleições ao menos tempo. Primeiro nós vamos disputar 2016 e vamos ajudar o presidente Temer a tirar o país dessa enrascada, depois nós vamos pensar em 2018. Mas ele é um candidato natural.

 

Se o Temer tiver sucesso, ele é um bom nome para 2018?

Evidentemente que, tendo sucesso em sua tarefa, esse sucesso será reconhecido pela população e ele terá condição de ser candidato.

 

Como está a relação do Eduardo Cunha com o PMDB do Rio?

Ele tem se relacionado pouco com o PMDB do Rio. O Eduardo Cunha sempre foi um quadro importante no partido, mas sempre atuou de forma independente. Nunca foi um militante orgânico.

 

Existe a possibilidade de que o resultado final do Brasil nestas Olimpíadas seja pior que o das anteriores?

Eu tenho a expectativa de que o resultado seja melhor do que o das últimas Olimpíadas. Nunca se investiu tanto na preparação dos atletas. Mas o esporte não é matemática, surpresas acontecem, às vezes positivas e às vezes negativas. Nós esperamos e torcemos para que as surpresas positivas sejam em maior número.

 

Frases

“Eu não acompanho o dia a dia desta discussão no Senado. Agora, ao que me parece, é remota a chance disso (Dilma voltar) ocorrer”

 

“Nós nos candidatamos e vamos sediar os Jogos Olímpicos, com crise ou sem crise. A oportunidade é de restabelecer a credibilidade e a confiança do país”

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