Correio braziliense, n. 19454, 30/08/2016. Brasil, p. 9

Esplanada recebe as cores da cidadania

Número de manifestantes fica abaixo do registrado em fases anteriores do impeachment. Secretaria de Segurança do DF estima que 60 mil pessoas participarão dos protestos até o fim do processo

Por: Patricia Rodrigues, Nathália Cardim e Thiago Soares

 

Enquanto a presidente afastada, Dilma Rousseff (PT), fazia a defesa de seu mandato, do lado de fora do Congresso Nacional a movimentação não foi intensa. Diferentemente do que aconteceu em etapas anteriores do processo, as manifestações que estavam programadas ganharam pouca força e se tornaram mais acanhadas. Na parte da tarde, vieram mais pessoas. A Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Paz Social do Distrito Federal (SSP-DF) estima que 60 mil pessoas irão à Esplanada dos Ministérios até o término do julgamento. Número menor que aquele registrado em 17 de abril, quando a Câmara autorizou a abertura do processo de impeachment. Na ocasião, cerca de 90 mil pessoas passaram pelo local. Na maior concentração de manifestantes, à tarde, a PM estimou 1.500 pessoas.

Cerca de 350 integrantes de grupos que apoiam a petista se concentraram em frente ao Palácio da Justiça, por volta das 9h, para prestar solidariedade e acompanhar o discurso de Dilma. Com flores nas mãos, os manifestantes entoaram palavras de ordem contra o presidente interino, Michel Temer.

A ausência de Dilma não desanimou os manifestantes. A aposentada Malvina Lima, 64 anos, se diz ex-assessora da Marta Suplicy e veio de São Paulo para apoiar a presidente. “Fui exonerada por não compactuar com o golpe. Não tenho nada a temer”, disse. Malvina afirma não pertencer a movimentos populares e acredita ser importante o ato simbólico de levar flores. “Ela é mulher, merece carinho e respeito. Deu o sangue para que tivéssemos uma vida melhor. Ela é a segunda pessoa (mais importante) depois de Jesus Cristo”, afirmou.

Com uma bandeira autografada por Dilma a tiracolo, a professora Domane Souza, 57, afirmou ter vindo para mostrar que a presidente não é uma qualquer. “Ela não está sozinha. Artistas, juristas, historiadores e professores não aceitam o golpe. Sonho com o dia em que haja justiça para pobre e negro”, afirmou.

A desconfiança com Temer é uma das principais razões que fizeram os manifestantes irem às ruas. “Ele já mostrou as pautas, retirará direitos”, protestou a professora Beatriz Cerqueira, 38. A manifestante deixou Belo Horizonte, na madrugada de ontem, com colegas de magistério, para apoiar a presidente afastada.

O empresário André Rhouglas, 55 anos, veio de Minas Gerais e chegou à capital no domingo para participar dos atos. Carregando uma porção de correntes e uma cruz, Rhouglas veio caracterizado de empresário falido a fim de ressaltar a imagem da crise econômica no país. “Eu participei de todas as manifestações, já cheguei a fazer greve de fome. Agora estamos na reta final, quero sair daqui com um resultado satisfatório para o Brasil”, afirmou.

Os primeiros manifestantes do grupo pró-impeachment começaram a se reunir às 8h. Moradora do Cruzeiro, Auda Magalhães, 61 anos, chegou ao local vestida nas cores verde e amarelo. Auda participou de todos os atos, prometeu ficar até o fim do julgamento e disse que a cooperação das pessoas é essencial para o desenvolvimento do Brasil.

 

Caminhada

A Esplanada teve mais movimentação à tarde. Integrantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e frentes, como a Brasil Popular, União da Juventude Socialista e apoiadores diversos da presidenta Dilma Rousseff, saíram do estacionamento do Ginásio Nilson Nelson às 16h30 e seguiram rumo ao Congresso Nacional em ato contra o impeachment.

Segundo a PM, cerca de 1.500 pessoas participaram da manifestação. À noite, mesmo com a saída das pessoas do trabalho, a movimentação não aumentou. Daqueles que desceram à tarde, cerca de mil manifestantes continuaram em frente ao Congresso. As arquibancadas montadas para o desfile do 7 de Setembro se transformaram em uma grande base para os ativistas contra o impeachment. Alguns, segundo a Polícia Militar, estava com material proibido para esse tipo de mobilização, como canos e hastes usadas em bandeiras.

Do lado pró-impeachment cerca de 200 pessoas, segundo estimativas da PM, ficaram em frente do Congresso Nacional, a maioria vestida de verde e amarelo. Eles gritam palavras de ordem como “Fora PT” e “Fora Dilma”.