Correio braziliense, n. 19405, 12/07/2016. Política, p. 2

Disputa pulverizada para presidente da Câmara

Com oito candidaturas oficializadas e outras oito em gestação, deputados avaliam que qualquer prognóstico sobre favoritismo é precipitado por causa de divisão interna em legendas grandes, como PT, PSDB e PMDB

Por: Paulo de Tarso Lyra

 

Na véspera da eleição para presidente da Câmara, uma pulverização de candidatos, interesses e padrinhos políticos impede qualquer prognóstico de favoritismo. Em tese, os nomes mais fortes, entre os 16 pré-candidatos — oito deles já oficializados — são Rogério Rosso (PSD-DF), Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Giacobo (PR-PR). Mas a teimosia de alguns candidatos com menos chances de vitória e as divisões internas em legendas importantes como PT, PSDB e PMDB jogam a disputa em um túnel de incertezas. A eleição está marcada para começar às 19h de amanhã.

Depois de resistir muito, Rosso confirmou a candidatura na manhã de ontem (leia mais na página 3). Mas reconhece que o campo político está muito dividido. “O ideal seria uma candidatura de consenso. Mas ninguém quer retirar o nome”, lamentou. Presidente do Solidariedade, o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (SP), acredita que o ideal seria a base conseguir se unificar em um único nome.

Esse acordo, na argumentação de Paulinho, seria uma saída para unificar o Centrão e o Centrinho, e passaria por uma combinação envolvendo a eleição temporária de agora e a de 2017. “Poderia até haver vários candidatos, menores, sem chances. Mas acertaríamos que, quem vencesse agora, cederia a preferência para lançar o nome com o apoio do Planalto à Presidência da Câmara em fevereiro do ano que vem”, sugeriu ele.

Em um almoço realizado ontem, com a presença de diversos integrantes do Centrão, a proposta de Paulinho acabou rechaçada. Ninguém do grupo quer correr o risco de ter que entregar o comando da Casa para o PSDB no ano que vem, por um período de dois anos. Pior. Como em 2018 tem eleições para um novo Congresso que tomará posse em 2019, quem for eleito presidente da Casa em 2017 poderá concorrer à reeleição ao posto dois anos depois.

O DEM também tem uma dificuldade, essa interna. O partido quer lançar o nome de Rodrigo Maia (RJ), que quase se tornou líder do governo, mas acabou atropelado pelo Centrão, que emplacou o nome de André Moura (PSC-SE). O problema é que José Carlos Aleluia (DEM-BA) ainda não desistiu oficialmente da pré-candidatura. “Ele já é presidente da Fundação Liberdade e Cidadania, ligada ao partido. Poderia abrir mão em nome da unidade do partido”, reclamou um interlocutor demista. Esta demora atrasa, inclusive, a formação de alianças. “Se você sai de casa e não tem apoio sequer da família, vai ter de quem?”, questionou o líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR). Em tese, o PPS apoiará um nome que vier do grupo DEM-PSDB-PSB.

No início da noite de ontem, o PSB, em reunião interna, fechou o apoio à candidatura de Júlio Delgado (MG). Ele derrotou os deputados Heráclito Fortes (PI) e Hugo Leal (RJ), que também pleiteavam o posto. Delgado já concorreu à presidência da Casa contra o próprio Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e deseja arrebanhar os votos de quem é contra o estilo Cunha de comandar a Casa. “Nós entendemos que a eleição está muito pulverizada e, dessa maneira, fica bom para nós, pois aumentam as nossas chances. A partir de hoje, vamos conversar com as demais legendas para buscar consensos que viabilizem o nome do Júlio, que já é bem conhecido na Casa”, disse ao Correio o líder do PSB na Câmara, Paulo Foletto (ES).

 

Perfis

Entre os próprios socialistas, no entanto, há divisões, com perfis diferentes de candidatos: Heráclito é um nome tradicional, da velha guarda e, em tese, pode agregar mais apoios; Delgado é considerado muito combativo e dificilmente teria apoio do Centrão, por ter se empenhado pessoalmente na cassação de Eduardo Cunha. E Leal é cristão novo entre os socialistas.

O PSDB deve reunir-se hoje para definir o rumo. “A tendência é ficarmos ao lado de quem sempre estivemos: DEM e PPS”, antecipou um cacique tucano. Especialmente porque, como maior legenda do chamado Centrinho, teria preferência para indicar o nome para a presidência da Casa em fevereiro do ano que vem. Dois são especulados para a futura disputa: o líder da bancada, Antonio Imbassahy (BA), e o ministro das Cidades, Bruno Araújo.

Os tucanos sequer se importam com os questionamentos que serão feitos por integrantes do Centrão de que, marchar ao lado do PT na disputa pela presidência da Câmara, jogaria incertezas na votação do impeachment no Senado. Para os parlamentares do PSDB, a legenda não estaria ligada diretamente aos petistas e sim, de maneira transversal, o que a isentaria de questionamentos.

Considerado azarão até o fim de semana, o nome do segundo-vice-presidente da Câmara, Giacobo (PR-PR), começou a ganhar força. Primeiro porque o partido dele votará unido, seguindo as ordens do ex-presidente e eterno líder Valdemar Costa Neto — condenado no caso do mensalão. Além disso, como foi candidato avulso à Mesa Diretora no ano passado, acabou distribuindo alguns cargos que pertenciam a ele em troca de apoios.

 

Corrida aberta

Confira os vários candidatos a presidente da Câmara

 

Já oficializados

Fausto Pinato (PP-SP)

Deputado de primeiro mandato, foi o relator inicial do processo de cassação de Eduardo Cunha no Conselho de Ética

 

Carlos Henrique Gaguim (PTN-TO)

Também no primeiro mandato, já distribuiu santinhos e tem as chamadas Gaguetes (meninas com calça legging e cartazes) pedindo votos para ele na Câmara

 

Carlos Manato (SD-ES)

Está no quarto mandato parlamentar

 

Marcelo Castro (PMDB-PI)

Presidente do PMDB-PI, ex-ministro da Saúde, está no quinto mandato

 

Fábio Ramalho (PMDB-MG)

Está no terceiro mandato parlamentar

 

Fernando Giacobo (PR-PR)

Deputado de quarto mandato, é o segundo vice-presidente da Câmara

 

Cristiane Brasil (PTB-RJ)

Deputada de primeiro mandato, é filha do ex-deputado Roberto Jefferson

 

Luiza Erundina (PSol-SP)

Em quinto mandato, já foi prefeita de São Paulo

 

Ainda não inscritos

Rodrigo Maia (DEM-RJ)

Em quinto mandato, já foi presidente nacional do DEM, quando ainda era PFL

 

José Carlos Aleluia (DEM-BA)

Parlamentar de sexto mandato, foi secretário municipal de Transportes da Bahia e presidente da Coelba

 

Julio Delgado (PSB-MG)

Está no quinto mandato parlamentar

 

Rogerio Rosso (PSD-DF)

Parlamentar de primeiro mandato, é ex-governador de Brasília e líder do PSD na Câmara

 

Osmar Serraglio (PMDB-PR)

Presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, relator da CPI dos Correios, está no quinto mandato

 

Esperidião Amin (PP-SC)

Duas vezes governador de Santa Catarina, ex-senador, ex-prefeito de Florianópolis, está no terceiro mandato como deputado federal

 

Milton Monti (PR-MG)

Está no quinto mandato como deputado federal

 

Beto Mansur (PRB-SP)

Parlamentar de quinto mandato, é secretário-geral da Câmara

 

Frase

“Se você sai de casa e não tem apoio sequer da família, vai ter de quem?”

Rubens Bueno, líder do PPS na Câmara

_______________________________________________________________________________________________________

Dilemas de PT e PMDB

 

Os dois maiores partidos da Câmara — PT e PMDB — vivem situações distintas na disputa pela presidência da Casa. O PMDB, partido do presidente em exercício, Michel Temer, já tem dois nomes pré-inscritos: Fábio Ramalho (MG) e Marcelo Castro (PI). “Vai ser uma eleição muito mais do corpo a corpo, do conhecimento pessoal dos candidatos, do que uma eleição com decisões dos líderes”, disse Fábio Ramalho.

Para ele, o cenário de pulverização de candidaturas o fortalece na disputa. “Como não há um consenso natural em torno de uma candidatura, os deputados tenderão a lembrar com quem têm um relacionamento mais próximo”, apostou ele. Fábio Ramalho disse que não terá uma candidatura independente e avisou: “Não renuncio em hipótese alguma”. O outro pré-candidato é Marcelo Castro, ex-ministro da Saúde do governo Dilma Rousseff. Ele, inclusive, contaria com o apoio de parte da atual oposição ao governo Michel Temer.

Já o PT decidiu que não apoiará nenhum nome que tenha votado favorável ao impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff. Documento interno aprovado pela legenda após uma longa e tensa tarde de debates definiu que o partido vai buscar um candidato que tenha ficado alinhado ao PT e que tenha viabilidade de chegar ao segundo turno. A possibilidade mais forte é um apoio a Marcelo Castro. A legenda descumpre, assim, uma opinião dada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que achava que Rodrigo Maia (DEM-RJ) teria mais chances de derrotar o Centrão. (PTL)