Título: BCE vê recessão e corta juros
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Fonte: Correio Braziliense, 04/11/2011, Economia, p. 11

Autoridade monetária europeia reduz taxa para 1,25% ao ano, mas não se compromete a ampliar a compra de títulos públicos

Frankfurt — Em uma decisão que surpreendeu o mercado, o Banco Central Europeu (BCE) reduziu ontem os juros da Zona do Euro para 1,25% ao ano. A queda de 0,25 ponto percentual aconteceu apesar de a inflação dos últimos 12 meses ter ficado em 3% pelo segundo mês consecutivo em outubro, mostrando que a autoridade monetária europeia optou por tentar evitar um enfraquecimento ainda maior do nível de atividade econômica em vez de segurar a alta dos preços. A maioria dos economistas previa a manutenção da taxa em 1,50%. Na entrevista na qual explicou a decisão, o presidente do BCE, o italiano Mario Draghi, disse que a região pode viver uma "recessão leve" nos últimos meses de 2011.

O corte, que teve o apoio unânime da direção da entidade, marcou uma mudança de curso, após duas elevações dos juros, em abril e julho, quando o BCE se tornou o primeiro entre os grandes bancos centrais a apertar a política monetária mesmo com o acirramento da crise financeira. Foi a primeira reunião presidida por Draghi depois de ser empossado na última terça-feira, substituindo o francês Jean-Claude Trichet, que estava no cargo desde 2003. "Que começo! É óbvio que o BCE pegou o vírus da crise e está tentando tudo o que pode para evitar uma recessão plena", disse o economista da ING Carsten Brzeski.

Draghi entrou em um verdadeiro redemoinho em sua primeira semana à frente do BCE, com os líderes da Zona do Euro contemplando um possível futuro sem a Grécia e a paralisia política ameaçando sua terra natal, a Itália. Apesar de se mostrar agressivo na política de juros, ele não se comprometeu a intensificar o programa de compra de títulos públicos para apoiar países como a própria Itália ou a Espanha, cujos governos vêm tendo crescentes dificuldades de se financiar no mercado privado. Inaugurada por Trichet, essa política provocou polêmica e causou a renúncia de dois representantes alemães na instituição. "Nosso programa tem três características: é temporário, é limitado, e justifica-se em restaurar o funcionamento dos canais de transmissão da política monetária", disse Mario Draghi.

Incertezas Ele foi menos lacônico ao comentar as perspectivas da região. "O que estamos observando é um crescimento lento em direção a uma recessão leve no final do ano", afirmou. Por conta disso, o BCE também deve rever para baixo as previsões de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da Zona do Euro em 2012. Para Draghi, a economia do bloco está diante de fortes incertezas, em meio a um cenário de "intensificação das tensões em certos segmentos dos mercados financeiros". Nesse ambiente, previu, a inflação recuará para menos de 2% no próximo ano.

Socorro de US$ 6 bilhões A paraestatal Freddie Mac, gigante norte- americana do setor hipotecário, anunciou que precisará de uma injeção de US$ 6 bilhões do Estado, após divulgar mais um prejuízo, de US$ 4,4 bilhões, no terceiro trimestre. A perda é bem superior à do trimestre anterior (US$ 2,1 bilhões) e à do terceiro trimestre de 2010 (US$ 2,5 bilhões). Se o novo socorro for aprovado, o total injetado pelo governo na entidade, desde 2007, chegará a US$ 72,2 bilhões.