Título: Planalto enquadra ministro
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 10/11/2011, Política, p. 3

Gleisi chama a atenção de Lupi sobre a declaração de que só sairia do cargo "à bala"

Durou menos de 24 horas a certeza do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, de que a presidente Dilma Rousseff não possa demiti-lo do cargo após as recentes denúncias de irregularidades na pasta. Um dia depois da entrevista coletiva em que afirmou que só deixa o cargo "à bala", Lupi foi enquadrado pela ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Ela deixou claro ao colega de Esplanada quem realmente manda em um sistema presidencialista. "Qualquer ministro sabe que quem convida ou demite um ministro de Estado é o Presidente da República, no caso a presidente Dilma Rousseff", disse a ministra, durante reunião com Lupi no Palácio do Planalto.

Ambos tinham uma reunião conjunta para tratar da implantação do ponto eletrônico nas empresas. Assim que a reunião administrativa se encerrou, Gleisi e Lupi tiveram uma conversa reservada. "Eu entendo que as palavras possam ter sido ditas motivadas pelo estresse ou pelo calor do momento. Mas você se excedeu ao dizer o que disse", repreendeu a ministra.

Lupi entendeu o recado. Após a abertura do encontro sobre estratégia de inclusão produtiva urbana do Programa Brasil sem Miséria, no Centro de Convenções Brasil 21, o ministro afirmou que, em nenhum momento, quis desafiar o poder da presidente Dilma. Alegou que, na verdade, o desafio lançado havia sido mal interpretado.

O ministro disse que, de fato, estava questionando a onda de denuncismo existente no país. "Eu estou desafiando aqueles que maculam a honra das pessoas sem direito de defesa. Estou desafiando aqueles que mentem. Estou desafiando aqueles que usam da mentira, um instrumento para acabar com a reputação das pessoas", declarou Lupi.

Leitura dos jornais Antes mesmo da conversa com Gleisi, Lupi havia admitido aos aliados no partido que tinha falado mais do que devia na véspera. Ele percebeu o erro em questionar o poder presidencial durante a leitura dos jornais, logo pela manhã. "Lupi me ligou e disse que o calor do debate e as reiteradas manifestações de apoio tinham deixado-o entusiasmado e, por isso, não medira as consequências do que havia dito", afirmou o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (PDT-SP).

Apesar do enquadramento palaciano, o ministro manteve o tom arrogante ontem, ao dizer que já tinha dado todas as respostas que tinha que dar, apresentado os documentos necessários para sua defesa e que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, já tinha dito que nenhuma das atuais acusações estão ligadas diretamente a ele. E ainda brincou, ao responder se ele poderia ser a bola da vez das demissões ministeriais. "Só se for a bola sete, que é a bola que dá a vitória", provocou. O ministro vai hoje à Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara para defender-se das denúncias que atingem a pasta. Por um acordo de lideranças governistas, ele não foi convidado nem convocado. Vai por livre e espontânea vontade.