Valor econômico, v. 17, n. 4115, 20/10/2016. Brasil, p. A5

Governo procura passar impressão de tranquilidade

Por: Andrea Jubé e Bruno Peres

 

Com o presidente Michel Temer em pleno voo de retorno ao Brasil, o Palácio do Planalto mobilizou-se ontem para imprimir um ambiente de normalidade e negar qualquer impacto da prisão do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no governo ou na agenda de votações. O palácio reforçou o discurso de autonomia da Operação Lava-Jato e de preocupação "zero" com o episódio. Os ministros palacianos cumpriram as agendas previstas, mas evitaram dar declarações sobre a detenção do pemedebista.

Após visitas oficiais à Índia e ao Japão, Temer desembarca hoje no final da manhã em Brasília, disposto a reforçar a articulação para garantir a aprovação da PEC dos Gastos. A Secretaria de Comunicação da Presidência negou que o retorno, antecipado em 12 horas, tivesse relação com a prisão do antigo aliado. Ele teria sido informado da operação após a decolagem de Tóquio, que ocorreu às 22h30 no horário local - 11h30 dessa quarta-feira, no horário de Brasília.

Um auxiliar presidencial esclareceu que a essa antecipação já estava prevista, porque na ida, foi possível abreviar a parada técnica em Atenas para reabastecimento da aeronave, e seria possível economizar esse tempo na volta. Ele observa, ainda, que a antecipação de um plano de voo presidencial demanda muita antecedência, porque implica permissão para adentrar o espaço aéreo de outros países e revezamento de pilotos. "Não há improvisos em voos presidenciais", ressalta o assessor. Ele relembra que Temer também antecipou em três horas o retorno da visita à China, no início de setembro.

Sobre o impacto da prisão de Cunha no governo e os reflexos de uma possível delação premiada, auxiliares de Temer voltaram a negar interferência do governo na Lava-Jato. "O governo tem dito que não interfere na Lava-Jato, são ações de outro poder independente, que é o Judiciário", disse ao Valor um assessor de Michel Temer.

O mesmo assessor rechaça qualquer temor em relação a eventual delação de Cunha, que já deu declarações tentando comprometer um dos auxiliares mais próximos a Temer, o secretário-executivo do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Moreira Franco. "A preocupação do governo é zero", enfatiza.

Sobre o receio de que a prisão ameace os planos de aprovar, em segundo turno, a PEC do Teto dos Gastos, cuja votação está prevista para a próxima terça-feira, o assessor pondera que se tratam de agendas distintas. "A agenda da Lava-Jato não tem nada a ver com retirar o Brasil da crise, a aprovação da PEC implica tirar o país da crise", argumenta.

Os ministros palacianos evitaram a imprensa, mas mantiveram a rotina de trabalho. O ministro da articulação política, Geddel Vieira Lima, reuniu-se com o líder do PSD, Rogério Rosso (DF), e com o líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB). Rosso também se reuniu com o presidente em exercício, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, comandou uma ampla reunião com mais quatro ministros - Dyogo Oliveira (Planejamento), Ricardo Barros (Saúde), Bruno Araújo (Cidades) e Hélder Barbalho (Integração Nacional) - para discutir obras de saneamento básico.