Valor econômico, v. 17, n. 4134, 18/11/2016. Política, p. A11

De olho em atos no Rio, governo teme 'efeito dominó'

Segundo interlocutor de Temer, "há um nível de alerta razoável" com estado governado por Pezão

Por: Andrea Jubé

 

O presidente Michel Temer acompanha, com preocupação, os desdobramentos dos protestos no Rio contra o pacote de medidas econômicas do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), bem como as demais manifestações em todo o país contra a recessão e a PEC do teto dos gastos.

O principal receio é quanto a um possível "efeito dominó" dos protestos que inflamaram a capital fluminense, caso a maioria dos governadores não consiga pagar o 13º dos servidores. Ontem, por meio do porta-voz, Temer disse que seu governo tem feito de tudo para "pacificar" o país.

Para evitar o agravamento da crise, Temer busca construir uma "saída política" para aliviar o rombo dos Estados. Na próxima semana, ele quer reunir os governadores em Brasília para discutir o impasse. O principal caminho é a votação da nova etapa da repatriação, que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), colocará em pauta na próxima terça ou quarta-feira.

O líder do governo no Congresso, Romero Jucá (PMDB-RR), apresentará uma mudança no texto para que além do acesso a uma fatia dos recursos, os governadores também sejam contemplados com uma parcela da multa, que originalmente caberia exclusivamente à União.

Segundo uma fonte credenciada do Planalto, Temer ficou bastante contrariado com a judicialização do problema, já que um grupo de governadores conseguiu no Supremo Tribunal Federal (STF) bloquear os recursos da primeira rodada da repatriação, cerca de R$ 50,9 bilhões.

Segundo uma fonte do Planalto, Temer estava confiante de que a partilha do montante arrecadado com a repatriação garantisse aos governadores e prefeitos pelo menos o pagamento do 13º salário dos servidores, reprimindo uma incipiente onda de protestos em todo o país por causa da crise econômica e da falta de dinheiro no fim de ano.

Agora, enquanto a Advocacia Geral da União busca reverter o bloqueio dos recursos no Supremo, pela via judicial, Temer tenta construir uma saída política para o impasse. Nessa linha, o presidente procurou alguns dos governadores que recorreram ao STF para tentar construir um acordo.

Foi essa a tônica da conversa com o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), na quarta-feira, que se reuniu com Temer no Palácio do Planalto. Segundo o senador Raimundo Lira (PMDB-PB), que participou da reunião, Temer quer construir um acordo político para o aperto financeiro dos Estados.

Se conseguir resolver o impasse pela via política, os governadores podem retirar as ações que pediram o bloqueio dos recursos no STF. Coutinho é autor de uma dessas ações.

Em outra frente, os ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e do Planejamento, Dyogo Oliveira, também conversaram com governadores e senadores em busca de um acordo que contemple todos os Estados.

Auxiliares de Temer reconhecem que há uma preocupação especial com o Rio de Janeiro, onde os funcionários públicos chegaram a invadir a Assembleia Legislativa, para impedir a votação de um pacote de ajuste. O pacote promoveria descontos de até 30% nos vencimentos. Ressalvam, contudo, que o presidente busca uma saída para todos os governadores.

"Há um nível de alerta razoável com o Rio de Janeiro", admitiu um interlocutor de Michel Temer, ressalvando que é preciso encarar o quadro político com "racionalidade".

No Palácio do Planalto, a notícia da prisão do ex-governador Sérgio Cabral -que já foi um dos quadros mais influentes do PMDB fluminense- foi recebida com apreensão, diante do potencial de inflamar ainda mais as manifestações no Rio.

Outro receio foi de que as investigações da Operação Lava-Jato no Rio eventualmente respinguem num dos auxiliares mais próximos de Temer, o secretário-executivo do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Moreira Franco.

Sobre esse temor, o porta-voz de Temer afirmou que "o ex-governador Moreira Franco, que comandou o Rio na década de 80, goza da confiança do presidente da República".

Ontem, por meio do porta-voz, Temer rechaçou o uso da violência como forma de protesto, diante da invasão na Câmara dos Deputados, casa que ele presidiu três vezes, e na Assembleia Legislativa do Rio.

"A tônica do governo do presidente Michel Temer tem sido o diálogo e a busca incansável do convencimento das lideranças e da sociedade civil para tomar as medidas que o Brasil precisa para retomar o crescimento econômico", disse o porta-voz Alexandre Parola. "O governo tem feito de tudo para pacificar o país e evitar que surjam novos conflitos", reforçou.