Juiz desconfia de médico e pede perícia em Garotinho, que recusa

Roberta Pennafort, Beatriz Bulla e Rafael Moraes Moura

22/11/2016

 

 

Hospital afirma que procedimento era necessário; profissional cita possibilidade de enfarte de ex-governador. 

O ex-governador Anthony Garotinho (PR) se recusou a ser examinado por uma equipe do Grupo de Apoio Técnico Especializado (Gate) do Ministério Público, enviada a mando do juiz eleitoral Glaucenir Silva de Oliveira, da 100.ª Zona Eleitoral de Campos dos Goytacazes, para avaliar seu estado de saúde.

Ao decidir pela perícia do MP, o juiz alegou que o médico de Garotinho, o cardiologista Marcial Raul Navarrete Uribe, aparenta “falta de idoneidade” e, por isso, determinou o exame do ex-governador por um “profissional isento”.

Ao verificar documentação fornecida pelos médicos, o MP constatou que Garotinho chegou ao hospital com 60% de obstrução na artéria coronária direita, o que motivou a angioplastia e a colocação de um stent.

Ontem, seu quadro era “estável”, segundo o Quinta D’Or, e com boa evolução. O ex-governador está na Unidade Cardiointensiva, da qual poderá ter alta hoje, disse seu médico particular (o hospital não confirma a previsão), e passar a cumprir prisão domiciliar.

Ao Estado, Uribe disse que o ex-governador poderia ter tido um enfarte agudo fatal caso não tivesse sido transferido para o Quinta D’Or. “Lamentavelmente, ele (Garotinho) não aceitou ser examinado, exigiu a presença do advogado. Nada resiste à verdade. O perito já viu o vídeo do procedimento e o chefe da unidade coronariana deu acesso ao prontuário. A decisão do juiz foi política, tanto que está sobrando até para mim, que sou apartidário”, disse o médico.

Ao determinar a perícia do MP, o juiz Glaucenir Oliveira alegou que o médico de Garotinho apresenta uma aparente “falta de idoneidade” e cita o fato de Uribe ter sido demitido pelo Ministério da Saúde este ano por acumulação ilícita de cargos públicos.

De acordo com Uribe, ele passou a integrar via concurso público os quadros do antigo Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps) em 1975, e depois, em 1978, foi contratado como celetista pela Secretaria Estadual de Administração. “Na época isso, era lícito. Depois passou a não ser, e cassaram minha aposentadoria”, afirmou o médico.

 

Conversas. Garotinho foi preso na quarta-feira, alvo da Operação Chequinho, da Polícia Federal. O cumprimento de prisão domiciliar foi decidido pela ministra Luciana Lóssio, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Anteontem, o programa Fantástico, da TV Globo, divulgou conversas em que Garotinho orienta seu advogado a procurar a ministra para falar em seu nome sobre um habeas corpus preventivo.

Ontem, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) cobrou “apuração imediata” do vazamento à imprensa das gravações.

A decisão de Luciana deve ser levada para análise do plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em sessão ainda nesta semana. 

PR expulsa Clarissa

O PR decidiu expulsar a deputada federal Clarissa Garotinho (RJ), filha do ex-governador Anthony Garotinho, por ela ter votado contra a PEC que cria um teto para os gastos públicos.

 

O Estado de São Paulo, n. 44961, 22/11/2016. Política, p.A6