Título: S&P quer mais esforço fiscal
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 19/11/2011, Economia, p. 17

Apesar de bem avaliado, o Brasil ainda fica atrás de países europeus em crise e de Botswana no ranking de agência

Resistente aos impactos da crise e à desaceleração global, o Brasil passou a ser visto com olhos mais interessados pelas agências de classificação de risco e pelos investidores. A elevação da nota soberana do país pela agência Standard & Poor"s, de BBB- para BBB, na última quinta-feira, evidenciou o momento distinto que a bandeira verde e amarela vive frente a economias maduras e, mais do que nunca, o país foi apresentado como porto seguro e certificado para o capital externo. A S&P avisou, porém, que, para continuar a melhorar a nota, o Brasil precisa fazer o dever de casa.

Os analistas da S&P Joydeep Mukherji Sebastián Briozzo e Milena Zaniboni afirmaram que reformas tributárias e na Previdência poderiam ter "impacto substancial no rating futuro do país". "A classificação tende a voltar a subir caso o Brasil mantenha o empenho em ajustar as contas públicas", afirmou Briozzo. A despeito da melhora na avaliação sobre o Brasil, o ranking da agência ainda causa estranheza. Apenas com essa nova promoção o país ultrapassou a fragilizada economia de Portugal, que se viu obrigado a pedir socorro ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Banco Central Europeu (BCE) para não dar um calote nos seus financiadores.

O Brasil, mesmo com a melhora, ainda figura atrás da Irlanda, nação afogada em uma dívida pública equivalente a quase 100% do Produto Interno Bruto (PIB), desemprego de 30% entre os jovens e com uma grave crise de confiança perante o mercado. É também mais um país europeu sob a tutela do FMI para não quebrar. A economia brasileira ainda perde, no ranking da S&P, para países menores como Botswana (com nota A-), Estônia (AA-) e Malásia (A-).

Falhas Outras distorções figuram no ranking da S&P, como a Itália, ainda classificada com um A, três níveis acima do Brasil, e a França, que, mesmo sendo obrigada a pagar prêmios de risco cada vez maiores, continua classificada com a nota máxima, o triplo A — que significa que aquele país está entre os mais confiáveis e sólidos. A realidade, em contraponto, mostra uma economia francesa sob o risco de ser abatida pela crise, principalmente devido à elevada exposição dos seus bancos a títulos podres gregos e italianos.

Briozzo tenta justificar o ranking explicando que outros fatores são levados em consideração ao se atribuir nota a um país. "O peso da dívida em relação ao orçamento no Brasil é alto e, ainda assim, o setor público investe pouco. Esse equilíbrio de situações fiscais é a questão. Quanto mais o Brasil melhorar esses aspectos, mais importante será para o rating do país", argumentou o analista da S&P.

Para muitos especialistas, porém, as distorções lembram que as agências de classificação passam por uma crise de confiança em função da dificuldade que tiveram em prever a crise de 2008, do rebaixamento da nota dos Estados Unidos e de outros erros e falhas que, inclusive, levaram a própria Standard & Poor"s a ser investigada.

Maurício Bassi, diretor da recém-criada Liberum Ratings, admite que o segmento passa por uma crise de credibilidade. Para ele, o que falta é fazer prestação de contas. "As agências precisam se explicar. Estamos entrando no mercado porque esses problemas mostram que tem uma lacuna a ser preenchida. É preciso quebrar o monopólio do segmento", afirmou. "Com a Liberum, o Brasil tem sete agências, mas o espaço para crescer ainda é grande, devido ao potencial da indústria financeira do país."