O Estado de São Paulo, n. 44969, 30/11/2016. Política, p. A9

PF indica que Bertin pagou obra em Atibaia

 
Ricardo Brandt
Julia Affonso
Mateus Coutinho

 

Um novo laudo da Polícia Federal indica que o Grupo Bertin também participou e custeou as obras do sítio em Atibaia que a Operação Lava Jato afirma pertencer ao expresidente Luiz Inácio Lula da Silva. O petista nega ser o proprietário.

A suspeita dos investigadores é de que as obras no sítio foram pagas como forma de propina por empresas acusadas de envolvimento em esquema de corrupção na Petrobrás, entre elas as empreiteiras Odebrecht, OAS e o pecuarista José Carlos Bumlai – que tem negócios com a família Bertin.

Segundo a PF, a análise da movimentação bancária e de emails do arquiteto Igenes dos Santos Irigaray Neto apontam pagamentos no mesmo período da obra feitos por uma empresa ligada ao Grupo Bertin.

Irigaray Neto prestava serviços para as usinas do Grupo São Fernando, de Bumlai, amigo de Lula, e admitiu ter trabalhado no projeto da reforma do Sítio Santa Bárbara.

“Em três momentos distintos, verificou-se depósitos na conta de Igenes dos Santos Irigaray Neto tendo como remetente empresa Rema Participações Ltda.”, informa o relatório da PF, com análise de mensagens e e-mails apreendidos na 24ª fase da Lava Jato, batizada de Operação Aletheia. A Rema pertence ao Grupo Bertin, antiga Transbertin Transportes Ltda e Universe Transportes.

Os comprovantes de depósito para o arquiteto de Bumlai foram encaminhados por meio do e-mail de um usuário identificado como “SOLFA”, do Grupo Bertin. Para a PF, trata-se de José Eduardo Braga, um dos sócios da Rema Participações.

Os pagamentos da Bertin para o arquiteto da obra foram realizados em 5 de novembro de 2010, no valor de R$ 40 mil, em 29 de novembro de 2010, de R$ 18,5 mil, e o terceiro em 18 de março de 2011, de R$ 52 mil, mostra o relatório.

Em um dos e-mails encontrados, consta pedido de adiantamento e valor total de contrato de R$ 225 mil. Lula é alvo de inquérito no caso por corrupção e lavagem.

 

Obras. Os registros de e-mail também indicam, segundo a PF, que as obras estavam sendo acertadas antes mesmo da compra, e que há possíveis contradições entre o que declararam em depoimento Fernando Bittar, que figura como sócio da propriedade, e outros investigados.

Ao depor sobre o caso, Bittar afirmou que, pensando em receber a família Lula, havia um projeto de um anexo no sítio.

“Desde início ele sabia que reforma em seu sítio, no interesse da família Lula da Silva, não se restringia apenas um anexo, incluindo, além de outras coisas, construção de uma sauna”, informa relatório com base na análise das trocas de mensagens entre eles.

O relatório da PF destaca que e-mail do funcionário do Grupo Bertin Emerson Cardoso, de 19 de outubro de 2010, enviado para Irigaray Neto foi originalmente enviado por Lilian Bittar, mulher de Fernando Bittar, para um gerente de obras de outra empresa no dia 17 daquele mês, ou seja, antes da aquisição do sítio.

A propriedade rural foi comprada em 29 de outubro, por R$ 1,5 milhão, por Bittar e Jonas Suassuna, sócios e amigos dos filhos de Lula.

Procurada pela reportagem, a defesa do Grupo Bertin informou que não vai se manifestar sobre o caso.

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Moro confirma que vai tirar licença de aulas em universidade

 

O juiz federal Sérgio Moro, responsável por conduzir as investigações da Operação Lava Jato na Justiça Federal no Paraná, informou ontem que vai tirar uma licença da Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde é professor de direito processual penal, mas disse que não vai fazer curso nos Estados Unidos.

“É falso o pedido de licença para estudar nos Estados Unidos.

É verdadeiro o pedido de licença das aulas da UFPR”, afirmou o magistrado em nota, diante das especulações sobre sua eventual saída do País. O juiz quer se dedicar aos estudos nos EUA futuramente, o que só ocorreria após o fim da Lava Jato.

Oficialmente, a UFPR não comenta o caso, mas a expectativa é de que Moro deixe de lecionar no ano que vem.

Em julho, durante palestra no Brazil Institute do Wilson Center, em Washington, Moro disse que poderia concluir a sua parte no julgamento dos casos da operação até o fim do ano.

Mas com a delação premiada e o acordo de leniência da Odebrecht e de seus executivos, a expectativa é de que as investigações mais que dobrem de tamanho, avançando sobre novos agentes públicos, empresas e obras do governo federal e de governos estaduais e, assim, tenham sua duração ampliada.