O Estado de São Paulo, n. 44950, 11/11/2016. Política, p. A8

Lava Jato apura lavagem de mais de R$ 50 milhões

 
Julia Affonso
Fausto Macedo
Mateus Coutinho
Ricardo Brandt
Fabio Serapião


A Polícia Federal deflagrou ontem a 36.ª fase da Lava Jato, batizada de Operação Dragão. As equipes policiais cumpriram 18 ordens judiciais em cidades do Ceará, São Paulo e Paraná, sendo 16 mandados de busca e apreensão e dois de prisão preventiva – um contra o empresário e lobista Adir Assad, que já está preso em Curitiba, e o advogado Rodrigo Tacla Duran, que está no exterior. Os dois são acusados pelo Ministério Público Federal de lavar mais de R$50 milhões, entre 2011 e 2013, para empresas investigadas no esquema de corrupção da Petrobrás, como a UTC Engenharia e a Mendes Júnior.

Nesta fase, são apuradas as práticas, dentre outros crimes, de corrupção, manutenção não declarada de valores no exterior e lavagem de dinheiro. Segundo a força-tarefa, Assad e Duran são “operadores financeiros especializados na lavagem de capitais de grandes empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato”.

“Não estamos falando aqui de um ato de corrupção isolado ou de lavagem isolado. Há evidência que esses operadores financeiros atuavam de forma contínua e prolongada na lavagem de dinheiro, fazendo disso a sua profissão”, afirmou o procurador Julio Motta Noronha.

A investigação aponta que “as provas coletadas em fases anteriores da Operação Lava Jato, somadas à análise das informações obtidas por intermédio de afastamentos de sigilo bancário, fiscal e telemático, permitiram identificar que os referidos operadores financeiros participaram ativa e continuamente do grande esquema criminoso de corrupção investigado pela força-tarefa”.

Também foram colhidos depoimentos e provas por meio de acordos de colaboração, “em que executivos confirmaram a natureza dos repasses financeiros aos envolvidos com o objetivo de praticar a lavagem dos capitais”.

De acordo com a Procuradoria, Duran foi responsável por lavar dinheiro por intermédio de pessoas jurídicas por ele controladas, como a Econocell do Brasil, TWC Participações e Tacla Duran Sociedade de Advogados.

“Diversos envolvidos no caso valeram-se dessas empresas a fim de gerar recursos para realizar pagamentos de propina, como a UTC Engenharia e a Mendes Júnior Trading Engenharia, que repassaram, respectivamente, R$ 9.104.000,00 e R$ 25,5 milhões ao operador financeiro entre 2011 e 2013. No mesmo período, outras empresas contratadas pela administração pública também realizaram depósitos de mais de R$ 18 milhões com o mesmo destino”, afirma a nota do MPF.

O Estado apurou que no caso da Mendes Júnior, os repasses ao operador são explicados na proposta de delação premiada em negociação com a Procuradoria- Geral da República. Os valores seriam destinados a agentes públicos envolvidos em irregularidades em obras da Petrobrás e no governo do Rio.

Segundo a força-tarefa, “as investigações também comprovaram que Adir Assad, por meio de transferências de contas mantidas por suas empresas em território nacional, repassou R$ 24.310.320,37 para Rodrigo Tacla Duran”. Empresas relacionadas a Ivan Orefice Carratu, ligado a Duran, receberam de Assad a quantia de R$ 2.905.760,10.

O nome “dragão” dado à investigação é uma referência aos registros na contabilidade da Odebrecht que chamava de “operação dragão” os negócios fechados com parte do grupo criminoso para disponibilizar recursos ilegais no Brasil a partir de pagamentos no exterior.

Os registros são das planilhas do Setor de Operações Estruturadas da empreiteira, chamado de “departamento da propina”.

 

Defesa. O advogado Miguel Pereira Neto, que defende Assad, classificou de “ilegal, desnecessária e inútil” a solicitação de nova prisão de seu cliente. Ele informou ainda que vai adotar as “medidas judiciais adequadas”.

Duran não foi localizado.

A defesa da UTC não quis comentar o assunto e o advogado Marcelo Leonardo, que defende a Mendes Júnior, disse que não poderia falar pois o caso vem sendo tratado nos acordos de delação e leniência da empresa. / JULIA AFFONSO, FAUSTO MACEDO, MATEUS COUTINHO, RICARDO BRANDT, ENVIADO ESPECIAL, e FABIO SERAPIÃO

 

ESQUEMA

● O empresário Adir Assad e o advogado Rodrigo Tacla Duran, alvos da Operação Dragão, 36ª fase da Lava Jato, são acusados de lavar mais de R$ 50 milhões no esquema de corrupção na Petrobrás, entre 2011 e 2013

 

A OPERAÇÃO

18 ordens judiciais

16 mandados de busca e apreensão

2 mandados de prisão preventiva

 

Rodrigo Tacla Duran

Fez repasses para empresas; está no exterior

UTC Engenharia - R$ 9 milhões

Mendes Júnior  - R$ 25 milhões

Outras empresas -  R$ 20 milhões

 

Adir Assad

Fez repasses para Duran; já está preso

R$ 24 milhões

 

ONDE FOI

Londrina

Barueri

Santana de Parnaíba

São Paulo

Curitiba

Jaguarauana - CE

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Temer diz que cheque de R$ 1 milhão foi doação legal ao PMDB

 
Carla Araújo
Rafael Moraes Moura

 

O presidente Michel Temer negou ontem, por meio do porta-voz Alexandre Parola, irregularidades no recebimento de um cheque de R$ 1 milhão em seu nome durante a campanha para Vice-Presidência em 2014. “Trata- se de um cheque nominal ao PMDB repassado à campanha do então vice-presidente, datado de 10 de junho de 2014. Reitera- se que não houve qualquer irregularidade na campanha do então vice-presidente Michel Temer”, disse. Após a fala do porta-voz, a assessoria do Planalto entregou aos jornalistas um papel sulfite com a cópia do documento.

O cheque foi usado pela defesa de Dilma no processo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que pede a cassação da chapa eleita em 2014, segundo revelou o jornal Folha de S.Paulo anteontem.

Os advogados da petista afirmam haver divergência na versão do ex-presidente da construtora Andrade Gutierrez Otávio Azevedo em setembro deste ano.

Na ocasião, o delator afirmou que a empreiteira doou em março daquele ano R$ 1 milhão ao diretório nacional do PT e que esse valor teria sido pago como parte de um acerto de propina de 1% dos contratos da Andrade com o governo federal. A quantia, na versão de Otávio, teria sido repassada do diretório petista para a campanha da chapa Dilma-Temer em 14 de julho.

O cheque e os registros da prestação de contas, contudo, mostram repasse no mesmo valor feito em julho para o diretório nacional do PMDB, em nome de Temer e que, posteriormente, fez o repasse para a campanha. Para a defesa de Dilma, o delator prestou falso testemunho.

 

OAB. O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Claudio Lamachia, defendeu ontem, em nota, esclarecimentos a respeito do repasse de R$ 1 milhão da Andrade Gutierrez para a conta da campanha de Temer nas eleições de 2014. “A sociedade precisa saber se esses recursos são legítimos ou fruto de propina. Outro ponto que precisa ser esclarecido é sobre qual conta foi usada para receber o dinheiro”, disse Lamachia. “Se necessário, a OAB usará de suas prerrogativas constitucionais para fazer valer os interesses da cidadania”, conclui a nota.

 

Acareação. Relator do processo que pode levar à cassação da chapa no TSE, o ministro Herman Benjamin cancelou ontem a acareação entre Azevedo e o ex-tesoureiro da campanha petista Edinho Silva. O ministro, no entanto, decidiu ouvir novamente apenas o ex-presidente da empreiteira.

O pedido de acareação foi formulado pelos advogados que representam o PSDB, autores da ação no TSE. “A divergência constatada (…) exsurgiu da apresentação de documentação eleitoral pelos patronos da representada Dilma, por ocasião da audiência realizada no dia 07/11/2016. Neste sentido, a mera reinquirição do Sr. Otávio configura medida eficaz para a elucidação da divergência, sem prejuízo de que, caso necessário, sejam determinados atos complementares”, diz o despacho do ministro.

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Advogados da União pedem bloqueio de bens

 

Rafael Moraes Moura

 

A Procuradoria da União no Estado do Paraná pediu à Justiça Federal o bloqueio de bens das construtoras Odebrecht, OAS, do ex-diretor de serviços da Petrobrás Renato Duque, e do ex-presidente da OAS José Aldemário Pinheiro, o Léo Pinheiro.

“Há contexto forte de provas já produzidas (...) e de indícios que ainda serão apurados de que referidos réus integraram o esquema criminoso revelado pela Operação Lava Jato, possuindo especial função nos crimes e atos de improbidade”, diz a petição. Os advogados da União argumentam que os grupos OAS e Odebrecht possuíam “papel fundamental na estrutura do cartel de empresas formado para dominar o mercado de grandes obras demandadas pela Petrobrás”, atuando para eliminar diretamente a concorrência e fraudar contratos.

A Procuradoria da União no Estado do Paraná pediu ainda que o Ministério Público Federal e a Petrobrás se manifestem sobre o caso.