O Estado de São Paulo, n. 44950, 11/11/2016. Economia, p. B1

Baixas contábeis levam Petrobrás a prejuízo de R$ 16,4 bi no 3º trimestre

 

Fernanda Nunes
Mariana Durão
Vinicius Neder

 

Mudanças nas projeções para a cotação do dólar e do barril de petróleo levaram a Petrobrás a fazer uma “limpeza” em seu balanço financeiro. Com isso, a petroleira registrou prejuízo de R$ 16,458 bilhões no terceiro trimestre, uma surpresa para analistas do mercado financeiro, que projetavam lucro de até R$ 2,2 bilhões, mais de quatro vezes superior ao resultado negativo de R$ 3,759 bilhões registrado no terceiro trimestre do ano passado. Foi o terceiro maior prejuízo da estatal em um trimestre.

O principal vilão dos resultados financeiros da Petrobrás no período foi uma baixa contábil de R$ 15,709 bilhões. Baixas do tipo são feitas quando uma companhia calcula que seus ativos têm valor menor do que o que vinha sendo contabilizado. Sem essa limpa no balanço, a companhia calcula que teria tido lucro líquido em torno de R$ 600 milhões de julho a setembro.

“A Petrobrás não espera para os próximos trimestres que ocorram valores de imparidade (baixas contábeis) no montante que estamos divulgando para este trimestre”, disse o diretor financeiro da Petrobrás, Ivan Monteiro.

O gerente executivo de controladoria da Petrobrás, Mario Jorge da Silva, diz que o aumento do risco Brasil, com a perda do grau de investimento das agências de classificação de risco, fez a revisão para baixo do preço de ativos, chamada de “taxa de desconto”, ficar maior. Na comparação com o fim de 2015, o risco subiu 23%, informou Silva.

Segundo ele, o novo Plano de Negócios e Gestão, na versão 2017-2021, postergou alguns projetos, que acabaram entrando na baixa contábil do terceiro trimestre.

A companhia também teve uma perda bilionária na venda da Petrobrás Argentina (Pesa), concluída no mês passado. A petroleira vendeu sua participação de 67,19% na subsidiária do país vizinho por US$ 897 milhões para a Pampa Energia, em operação concluída em julho, mas teve uma perda de R$ 3,627 bilhões “oriunda da depreciação cambial do peso argentino frente ao dólar”.

Além disso, houve uma despesa de R$ 1,260 bilhão com o novo Programa de Incentivo ao Desligamento Voluntário, “pela maior adesão ocorrida nos meses de julho e agosto”.

A estatal também registrou perdas por causa de provisões para gastos com acordos em ações judiciais na Corte Federal de Nova York (R$ 1,182 bilhão), para perdas com o adiantamento a fornecedores de cascos de plataformas (R$ 1,128 bilhão) e para assumir dívidas de fornecedores com subcontratadas pela construção de cascos de plataformas (R$ 931 milhões).

Apesar do prejuízo, Monteiro afirmou que ainda não é possível descartar o pagamento de dividendos aos acionistas.