Estado de São Paulo, n. 44942, 03/11/2016.  Política, p. A4

PSB cresce em São Paulo e favorece plano de Alckmin

Presidência. Partido se torna o segundo maior no Estado em eleitorado governado e fortalece vice-governador, que articula apoio da sigla à candidatura do tucano em 2018

Por: Valmar Hupsel Filho e Pedro Venceslau

 

O bom desempenho eleitoral do PSB em São Paulo na disputa deste ano, se tornando a segunda legenda em número de eleitores governados, fortaleceu o diretório estadual do partido, principal fiador do projeto político do governador Geraldo Alckmin para 2018. Se no PSDB o tucano ainda não tem a certeza de que poderá lançar candidatura a presidente da República, dentro do PSB paulista, comandado pelo vice-governador Márcio França, o plano de levar Alckmin ao Palácio do Planalto é prioridade.

“Tenho convicção de que vamos conquistar ampla maioria dentro do partido para apoiar essa tese”, disse França, que preside o diretório estadual da sigla.

O desafio, porém, é convencer o restante do partido, que não bate o martelo sobre o apoio. “Considero a candidatura do governador Geraldo Alckmin à Presidência muito importante, mas acho que isso tem que ser colocado mais à frente, quando o cenário estiver mais claro”, afirmou o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira.

Nos bastidores, dirigentes do partido consideram que a aliança pode ser vantajosa para ambos os lados. A avaliação é de que, após a morte dos ex-governadores de Pernambuco Eduardo Campos e Miguel Arraes, os pessebistas ficaram órfãos de um líder nacional com força para lançar uma candidatura própria à Presidência. Um eventual vice do PSB-PE, onde estão as principais lideranças, poderia ser uma porta de entrada para o tucano no Nordeste.

Além do governador pernambucano, Paulo Câmara, o partido reelegeu no domingo o prefeito do Recife, Geraldo Julio.

 

Acordo. O crescimento do PSB em São Paulo passou por um acordo entre governador e vice. Em cidades em que pessebistas tinham um candidato forte, como Campinas, onde o prefeito Jonas Donizette foi reeleito, o PSDB não lançou candidato.

Na situação inversa, como em São José dos Campos, o PSB se absteve da disputa.

A dias do segundo turno, Alckmin abandonou a postura discreta que teve na primeira etapa de votação e participou de agendas de candidatos de partidos aliados. Em Mauá, foi a um ato de Átila Jacomussi (PSB), que se elegeu. No caso de Guarulhos, embora tenha ficado de fora da campanha no segundo turno por envolver dois candidatos de partidos de sua base (PSB e DEM), o pessebista Gustavo Henric Costa, o Guti, foi o primeiro prefeito eleito a ser recebido pelo tucano no Palácio dos Bandeirantes, anteontem, num sinal de prestígio ao vice, principal articulador da campanha.

Alckmin também tem buscado se aproximar do PSB fora dos limites de São Paulo. Em outubro, esteve no Recife e foi recebido pelo governador Paulo Câmara para um encontro que deixou de fora tucanos locais – o PSDB pernambucano é alinhado ao senador Aécio Neves (MG), outro cotado para disputar o Planalto em 2018.

Em Minas, Alckmin estreita laços com o prefeito Márcio Lacerda, que rompeu com Aécio.

Recentemente, Alckmin e Lacerda, acompanhados de suas mulheres, passaram um fim de semana na casa do prefeito eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), em Campos do Jordão.

 

Outras siglas. Alckmin ainda encontra apoio em outros partidos. “Há setores do PPS que veem esse fortalecimento do PSB, PSDB, PV, DEM, e nós, em São Paulo, como uma boa ideia para uma aliança de centro-esquerda”, disse o presidente do PPS, deputado Roberto Freire.

“Hoje falo que o nosso candidato à Presidência, no cenário atual, é o Alckmin. Seja ele no PSDB ou PSB”, afirmou o presidente do PHS, Eduardo Machado. / COLABOROU ERICH DECAT

 

Candidatura

“Tenho convicção de que vamos conquistar ampla maioria dentro do partido para apoiar essa tese.”

Márcio França

VICE-GOVERNADOR DE SÃO PAULO E PRESIDENTE DO PSB PAULISTA

 

RESULTADOS

Guarulhos

Guti, candidato do PSB, venceu o adversário do DEM no 2º turno com 83,5% dos votos.

 

Mauá

Pelo PSB, Átila Jacomussi obteve 64,5% dos votos no 2º turno e derrotou Donisete Braga, do PT.

 

Campinas

Jonas Donizette (PSB) venceu na maior cidade do interior paulista no 1º turno (65,4% dos votos).

 

DESEMPENHO

● O resultado do PSB nas eleições municipais deste ano em comparação a 2012

 

Número de prefeituras

 

Em São Paulo

2009  - 12

Eleitorado : 5,9%

2016 -44

Eleitorado : 11,3%

 

No Brasil

2009  - 440

Eleitorado : 11%

2016 – 415

Eleitorado : 8,2%

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Para deputado, partido precisa voltar à esquerda

Júlio Delgado (PSB-MG) reconhece o avanço da legenda em São Paulo, mas prega mudanças para as eleições de 2018

Por: Isadora Peron

 

Um dos nomes mais importantes do PSB na Câmara, o deputado Júlio Delgado (MG) reconheceu o crescimento do partido em São Paulo, mas afirmou que está na hora de os dirigentes da legenda colocarem um freio na guinada à direita e decidirem se o partido vai ou não continuar atuando no campo da esquerda.

Para ele, não há dúvida de que o desempenho da sigla em São Paulo mostra que o presidente estadual do partido, Márcio França, acertou ao ser vice do governador Geraldo Alckmin (PSDB). “É preciso reconhecer a liderança que o Márcio exerceu nessas eleições. Com o resultado obtido, ele se torna hoje a maior liderança política do PSB nacional”, disse.

Delgado avaliou que a aliança com o tucano foi um projeto “eleitoralmente vitorioso”, mas precisa de ajustes “ideológicos” se quiser perseverar em 2018. “O partido vai ter que pensar se vai continuar sendo de centro-esquerda ou se vai brigar pelo nicho que os outros partidos, como o PSDB e o DEM, já brigam e que, historicamente, nunca foi o nosso campo.” Desde 2014, quando o então governador de Pernambuco Eduardo Campos decidiu concorrer à Presidência, o PSB foi se afastando da aliança com o PT e se aproximando de setores da direita. Com a morte de Campos, esse processo se acentuou.

No segundo turno das eleições daquele ano, a legenda apoiou o candidato tucano Aécio Neves.

Neste ano, a bancada do partido na Câmara votou maciçamente pelo impeachment de Dilma Rousseff. Há, no entanto, focos de resistência dentro da legenda. Na votação do Senado, os parlamentares foram, na sua maioria, contra o afastamento da petista. Até mesmo na Câmara esse movimento começa aparecer. Apesar de fazer parte da base aliada do presidente Michel Temer, quase um terço da bancada votou contra a PEC do Teto de Gastos.