Correio braziliense, n. 19517, 01/11/2016. Brasil, p.6

 

Enem em nova data para 95 mil alunos

Patrícia Rodrigues

 

 

Com o fim do prazo definido pelo Ministério da Educação para que os estudantes secundaristas saiam das escolas ocupadas em todo o país, a expectativa é que 95 mil alunos não façam o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) no próximo fim de semana. O MEC estuda aplicar o exame em 6 e 7 de dezembro (terça e quarta-feira) para os candidatos cujos locais de prova são colégios invadidos.

A nova data é a mesma que já havia sido definida para candidatos que estão presos e jovens sob medida socioeducativa. Eles fazem uma prova diferente, mas, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), com o mesmo rigor e o mesmo grau de dificuldades aplicado aos alunos em liberdade.

Segundo último levantamento da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes), 1.197 instituições de ensino seguiam ocupadas, na sexta-feira, em 19 estados e no Distrito Federal. O Inep informou que receberá hoje um relatório do Consórcio Aplicador do Exame sobre a situação de todos os 16.476 locais em que serão realizados os exames. Dessa forma, será consolidada a lista final dos locais em que não serão aplicadas as provas em função das ocupações.

No início do mês, o ministro da Educação, Mendonça Filho, apelou para o “bom senso” dos estudantes para que as escolas fossem desocupadas até ontem. A Ubes repudiou as ameaças do ministro e afirmou que os alunos não se intimidariam. “As investidas repressoras do governo não vão impedir os estudantes. Permaneceremos resistindo até que a pauta de reivindicações seja ouvida e discutida”, disse à época.

Os estudantes que ocupam as escolas protestam contra a medida provisória que determinou a reforma do ensino médio, contra a PEC 241 — que limita os gastos do governo — e contra o PL Escola Sem Partido, que tramita no Congresso. 

Pedido

Alunos do Paraná, onde a concentração de escolas ocupadas é maior, pediram ao MEC que transferisse os locais de provas, assim como os Tribunais Regionais Eleitorais mudaram as seções eleitorais no último domingo. No entanto, o ministro Mendonça Filho afirmou que “não tem logística” e que a pasta não poderia ficar “submetida ou submeter a prova à conveniência de uma ocupação ou desocupação pela vontade de um determinado grupo”.

Na semana passada, o ministério informou que a aplicação do Enem em uma nova data acrescentaria R$ 8,5 milhões ao custo total do exame, que em 2016 ficou em R$ 788 milhões. A Advocacia-Geral da União (AGU) afirmou que poderá cobrar judicialmente dos responsáveis o valor gasto por cada nova prova aplicada (R$ 90) e que “vai trabalhar para identificá-los”, sem informar como.

Em meio à discussão sobre a ocupação, a secundarista Ana Júlia Ribeiro, considerada símbolo da luta dos estudantes, foi tratada como celebridade na Comissão de Direitos Humanos do Senado, na manhã de ontem. Na semana passada, a estudante se tornou conhecida ao realizar discurso na Assembleia Legislativa do Paraná para os deputados estaduais. “A nossa única bandeira é a educação. Somos um movimento apartidário, dos estudantes pelos estudantes”, disse.