Correio braziliense, n. 19535, 19/11/2016. Brasil, p. 5
Calero deixa a Cultura
 

Após seis meses à frente do Ministério da Cultura, Marcelo Calero pediu demissão ontem e dará lugar ao presidente nacional do PPS, Roberto Freire. Calero deixou a pasta após divergências com integrantes do governo. A gestão do ministro demissionário teve como marca as polêmicas. Ao receber o convite, Freire se disse “surpreso”. “Não estava imaginando. Não sabia que havia um pedido de exoneração do ministro. Foi uma surpresa. Mas, nós do PPS temos muita clareza que o governo Temer é responsabilidade nossa também. Feito o convite, foi aceito”, afirmou.


Uma das polêmicas de sua gestão ocorreu em junho, quando o então ministro criticou o protesto realizado por intregrantes do filme “Aquarius”, contrários ao governo de Temer, em Cannes. “Agora, acho ruim, em nome de um posicionamento político pessoal, causar prejuízos à reputação e à imagem do Brasil”, disse, à época.

Depois, diante de uma série de demissões em sua pasta, foi criticado publicamente pelo antecessor Juca Ferreira, com o qual bateu boca nas redes sociais. “A ‘esperteza’ de justificar as demissões alegando desaparelhamento tem duas facetas enganosas: enganar a opinião pública e criar um clima de simpatia superficial com os funcionários estáveis”, continuou, antes de chamar Calero de “agente menor do golpe, o que popularmente chamamos de pau mandado”, disse Juca. Em setembro, Calero  teve o discurso interrompido e se retirou do Festival de Cinema de Petrópolis.

Calero encontrou-se com Temer na última quinta-feira e manifestou a intenção de sair. O presidente pediu ao ministro que pensasse melhor. Calero, então, telefonou para Temer no fim da tarde de ontem e confirmou o pedido de demissão. “Saio do Ministério da Cultura com a tranquilidade de quem fez tudo o que era possível fazer, frente aos desafios e limitações com os quais me defrontei. E que o fiz de maneira correta e proba”, afirmou Calero na carta. A principal motivação para a saída de Calero foram discordâncias com o titular da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, em torno de empreendimentos em Salvador. Geddel nega.

Pouco tempo depois de confirmada a demissão, Temer ligou para Roberto Freire e o convidou para assumir o cargo. O presidente do PPS disse que espera os encontros que terá com Calero e o presidente para tomar conhecimento acerca da pasta. “A surpresa também implica em que eu não tenha ainda nenhuma definição do que vou fazer, mas preciso levar em consideração que estávamos com um ministro com planejamento encaminhado”, disse. Freire tem reunião marcada com Temer na segunda-feira.

Em maio, Freire foi sondado e chegou a ir ao Palácio do Jaburu conversar com Temer a respeito. Porém, como Temer não conseguiu convencer Nelson Jobim a assumir o Ministério da Defesa e acabou convidando o deputado Raul Jungmann, pernambucanoFreire, que é presidente do PPS, declinou do convite para que a legenda não ficasse com duas pastas. Depois, Temer decidiu extinguir o Ministério da Cultura, “Nesse momento, cada um de nós tem que dar sua cota de sacrifício para o enxugamento da máquina”, disse, à época.

Calero foi convidado para assumir a Secretaria de Cultura, após a extinção do Ministério da Cultura e fusão com o Ministério da Educação. Temer buscava uma mulher para o posto, mas, diante de sucessivas recursas, convidou Calero. Após uma série de protestos pelo país, Temer acabou por recriar a pasta e Calero tornou-se ministro.

“Saio do Ministério da Cultura com a tranquilidade de quem fez tudo o que era possível fazer, frente aos desafios e limitações com os quais me defrontei”
Marcelo Calero, ex-ministro da Cultura