País perplexo com a morte de Teori

Simone Krafuni

20/01/2017

 

 

 

TRAGÉDIA » Acidente aéreo em Paraty (RJ) mata o relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal às vésperas da homologação da delação da Odebrecht. Avião caiu no mar a 2km do aeroporto. Velório e enterro serão realizados em Porto Alegre, a pedido da família do ministro

 

Às vésperas de assinar a homologação das delações premiadas da Odebrecht, o relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Teori Zavascki, morreu ontem, aos 68 anos, em um acidente aéreo que deixou o país perplexo. Ele estava a bordo da aeronave prefixo PR-SOM, que decolou às 13h01 do Campo de Marte, na capital paulista, com destino a Paraty (RJ). O avião caiu no litoral sul do Rio de Janeiro, próximo à Ilha Rasa, a 2km da cabeceira da pista do aeroporto. Chovia muito no momento do acidente e, conforme o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), é comum passar pela ilha na rota de aterrissagem.

A morte de Teori foi confirmada pelo filho do magistrado, Francisco Zavascki, em uma rede social. Às 18h05, ele escreveu: “Caros amigos, acabamos de receber a confirmação de que o pai faleceu! Muito obrigado a todos pela força!”. Às 17h22, ele havia publicado: “Amigos, infelizmente, o pai estava no avião que caiu! Por favor, rezem por um milagre”. O relator da Lava-Jato interrompeu as férias no Supremo no início do ano para dar seguimento às investigações. O magistrado voltou do recesso para analisar a delação premiada dos 77 executivos da Odebrecht, ponto mais alto da operação, e demonstrava preocupação com o vazamento de informações.

A presidente do STF, Cármen Lúcia, tinha acabado de pousar em Minas Gerais, quando recebeu a informação da morte de Teori. Retornou imediatamente à capital federal e, segundo pessoas próximas, está muito abalada. Cármen Lúcia conversou com a família de Teori Zavascki, e ficou acertado que o velório e o funeral serão realizados em Porto Alegre, onde moram parentes do ministro.

O número de pessoas no avião na hora do acidente ainda é incerto. De acordo com a Aeronáutica, o plano de voo da aeronave de pequeno porte, com capacidade para sete passageiros mais o piloto, informava quatro ocupantes. “Mas os Bombeiros que estão no local nos disseram que são cinco pessoas. Então, essa é a informação oficial”, afirmou a assessoria de imprensa da Aeronáutica.

Testemunhas que chegaram ao local do acidente em embarcações afirmaram que havia uma mulher entre os passageiros, ainda não identificada. E que ela estava viva, presa dentro da aeronave, logo depois da queda. “Tentamos quebrar o vidro para resgatá-la. Como não foi possível, fizemos um buraco na fuselagem para tentar passar oxigênio, mas, quando conseguimos, ela não respondia mais”, contou uma das testemunhas.

 

Resgate

Segundo a assessoria do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, um dos passageiros, de fato, chegou a ser encontrado com vida, mas acabou não resistindo. Os outros dois já estavam mortos. O diretor de Operações do Corpo de Bombeiros do Rio, Ricardo Vale, disse que a equipe permanece no local para estabilizar a aeronave, de forma que ela não afunde mais, porém os mergulhadores só vão iniciar o resgate dos corpos, que ainda estão dentro do avião, hoje. “Nós temos a visibilidade de apenas três corpos lá dentro”, afirmou Vale.

Dois fatores complicaram o trabalho de resgate: as águas no local da queda da aeronave são turvas e o avião ficou bastante retorcido com o impacto com o mar, além de 80% submerso. Bombeiros, militares da Capitania dos Portos e da Polícia Militar estão no local dando apoio.

A aeronave é de propriedade da Emiliano Empreendimentos e Participações Ltda., dona do Hotel Emiliano, em São Paulo, conforme informações da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). O empresário Carlos Alberto Filgueiras, dono da Emiliano Empreendimentos, morto no acidente, era amigo de Teori Zavascki desde 2012, quando o ministro passou a se hospedar no hotel para acompanhar o tratamento contra o câncer da mulher, Maria Helena Marques de Castro Zavascki. Ela morreu em 2013.

 

 

Correio braziliense, n. 19597, 20/01/2017. Político, p. 2.