PF e MP investigam a queda do avião

Margareth Lourenço

20/01/2017

 

 

TRAGÉDIA » Internautas inundam redes sociais com postagens levantando a hipótese de que morte de Teori Zavascki foi um complô. Órgãos abrem inquérito

 

O Ministério Público Federal (MPF) e a delegacia da Polícia Federal de Angra dos Reis abriram inquérito para apurar as causas da queda do avião que provocou a morte do ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF). Ontem, as redes sociais foram inundadas por comentários de internautas desconfiados sobre as circunstâncias do episódio. Seria simples coincidência ou, no melhor jargão policial, uma “queima de arquivo”? A perplexidade tem explicação. Relator dos processos da Lava-Jato no STF, o ministro estava na iminência de tornar públicos 77 depoimentos dados por executivos e funcionários da Odebrecht, que podem envolver dezenas ou até centenas de políticos.

Pelo MPF, a investigação foi aberta pela procuradora da República Cristina Nascimento de Melo. Do lado da PF, o responsável é o delegado Adriano Antônio Soares. Uma equipe de Brasília, formada por um delegado, peritos e papiloscopistas, já se deslocou para o Rio de Janeiro. Antes que essa providência fosse anunciada, por volta das 18h, multiplicaram-se as postagens trazendo à tona a desconfiança dos internautas. Chocado com a morte, Tomislav Blazic, produtor do filme Polícia Federal: a lei é para todos, inspirado na Operação Lava-Jato, não escondeu a desconfiança. “É uma incógnita que precisa ser desvendada. Há bilhões de propina envolvidos. Não posso afirmar nada, mas já tem muita gente com teoria da conspiração por aí.” Com a morte do ministro, ele irá repensar o roteiro da continuação da película, programada para chegar aos cinemas no segundo semestre.

 

Ameaças

Boa parte dos comentários que apostavam na existência de um complô para tirar de cena o relator da maior operação anticorrupção da história do Brasil lembrava uma postagem feita em 26 de maio do ano passado por Francisco Prehn Zavascki, filho do ministro. Ele escreveu que sua família estava sendo alvo de ameaças. “É obvio que há movimentos dos mais variados tipos para frear a Lava-Jato. Penso que é até infantil imaginar que não há, isto é, que criminosos do pior tipo (conforme o MPF afirma) simplesmente resolveram se submeter à lei! Acredito que a lei e as instituições vão vencer. Porém, alerto: se algo acontecer com alguém da minha família, vocês já sabem onde procurar...! Fica o recado!”.

Na época, Teori desconversou. “Não tenho nada a temer”, disse. A postagem de Francisco não está mais visível na página dele. Mas muitos internautas que haviam captado a mensagem a reproduziram ontem. Foi o que fez um dos mais antigos integrantes da força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba, o delegado da Polícia Federal Márcio Anselmo. “Agora, na véspera da homologação da colaboração premiada da Odebrecht, esse ‘acidente’ deve ser investigado a fundo. Sinceramente, se essa notícia se confirmar, é o prenúncio do fim de uma era!”, escreveu. Logo depois, o texto foi apagado, mas sua visualização e captação pela imprensa alimentou ainda mais a teoria da conspiração.

 

Gravações

Ontem, os seguidores de Francisco Zavascki nas redes sociais escreveram centenas de mensagens para “aconselhá-lo” a não acreditar que foi um acidente. “Não acredite em acidente, Francisco. Foi crime premeditado”, escreveu um internauta. No Twitter, o músico Lobão deu sua contribuição para a tese ao escrever em letras maiúsculas: “Apagaram o Teori!” A advogada Janaína Paschoal, uma das autoras do pedido de impeachment da então presidente Dilma Rousseff, também entrou no debate. “Tem de investigar a queda do avião, sim! Queremos investigação transparente, feita por equipe formada por membros de vários órgãos”, tuitou.

O presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil, Roberto Veloso, manifestou pesar pela morte do ministro e pediu esforço das autoridades no trabalho de apuração das circunstâncias da queda do avião. Ao Correio, Veloso disse: “Não tenho temor e, sim, preocupação para que as circunstâncias do acidente sejam esclarecidas o mais rápido possível”.

Também foram ressuscitados nas redes sociais os diálogos gravados entre o então ministro do Planejamento, Romero Jucá, e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. Nas gravações, feitas em março, mas divulgadas em maio do ano passado e que custaram o cargo a Jucá, ele sugeria um “pacto” para tentar barrar a Lava-Jato. Ontem, o senador, que é líder do governo no Congresso, afirmou que a morte do ministro é “uma grande perda para o país e para a Justiça brasileira”.

 

 

Correio braziliense, n. 19597, 20/01/2017. Político, p. 5.