Delatores da Odebrecht iniciam fase final antes de homologação 
Carolina Brígido e André de Souza 
26/01/2017
 
 
Ex-executivos são ouvidos em SP e PR para confirmar depoimentos

-BRASÍLIA- À espera da indicação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) que assumirá a relatoria da Lava-Jato, e com a possibilidade de a própria presidente da Corte, Cármen Lúcia, tomar para si a homologação de parte das delações de exexecutivos da Odebrecht, os investigadores avançaram no maior processo de colaboração premiada já feito no país. Os exfuncionários da empreiteira começaram a ser ouvidos em São Paulo e em Curitiba. O herdeiro da empreiteira, Marcelo Odebrecht, deverá prestar depoimento na sexta-feira.

A ministra Cármen Lúcia poderá homologar as delações da Odebrecht de forma fatiada. Os depoimentos finais dos 77 ex-executivos da empreiteira começaram a ser tomados ontem e serão encaminhados ao tribunal, um a um. A tendência é que a ministra homologue as delações à medida que chegarem à sua mesa.

Cármen Lúcia poderá homologar a parte das delações que forem finalizadas ainda em janeiro, durante o recesso da Corte. Isso porque, nesse período, ela atua como plantonista no STF, responsável por tomar decisões urgentes. Em fevereiro, quando as atividades do tribunal forem retomadas, ela deverá determinar o sorteio da relatoria da Lava-Jato entre os integrantes da Segunda Turma do STF. O novo relator ficaria responsável pela homologação do restante das delações da Odebrecht.

DEPOIMENTO AUTÊNTICO

A atual fase de depoimentos deve ser estendida até a segunda semana de fevereiro. Os exexecutivos deverão declarar apenas se foram obrigados a fazer o acordo de delação premiada com o Ministério Público, ou se deram as declarações de livre e espontânea vontade. Quem toma os depoimentos são juízes auxiliares do gabinete do ministro Teori Zavascki, morto na semana passada em um acidente aéreo.

Anteontem, o procuradorgeral da República, Rodrigo Janot, pediu agilidade na homologação dos acordos. Isso permitirá a Cármen Lúcia começar a homologar as delações, mesmo antes de definido um novo relator para os processos. Com a homologação, os documentos serão devolvidos a Janot. Ele vai analisar os indícios apresentados e, com base neles, vai encaminhar ao STF pedidos de abertura de inquérito contra autoridades mencionadas nas delações, se considerar o material forte o suficiente para embasar o início de uma investigação. As provas apresentadas contra pessoas sem direito ao foro especial serão enviadas para a primeira instância do Judiciário.

Ontem, Cármen Lúcia voltou a conversar com colegas sobre a escolha do novo relator da Lava-Jato. Ao deixar o gabinete da presidente, o ministro Gilmar Mendes afirmou que ela está avaliando a melhor solução institucional para definir o impasse.

— Essa questão vai ser analisada pela presidente. Ela está conduzindo as conversas com todos os colegas para termos o encaminhamento institucional possível. Acho que será o caminho que terá o apoio, se não da unanimidade dos colegas, da ampla maioria — disse Gilmar.

Ele elogiou a decisão da ministra Cármen Lúcia de autorizar a continuidade dos trabalhos dos juízes auxiliares de Teori no processo de homologação das delações.

— A presidente é extremamente competente, hábil, e atua com rigor jurídico e científico, e também com a responsabilidade política que ela tem de não deixar que as matérias sofram qualquer retardo. Esse é certamente o cuidado que a inspira — afirmou Gilmar.

Gilmar não quis apontar qual a melhor solução na sua avaliação e afirmou que, caso seja escolhido, atuará com a mesma naturalidade que atua em outros processos. O ministro se reuniu no último domingo com o presidente Michel Temer, responsável por apontar o novo ministro do STF.

A MAIOR DE TODAS AS DELAÇÕES
 
ACORDO DE COLABORAÇÃO DA ODEBRECHT AINDA DEPENDE DE HOMOLOGAÇÃO NO STF

-77 executivos e funcionários da Odebrecht prestaram informações em acordo de delação premiada

-800 depoimentos foram prestados à força-tarefa da Lava-Jato

-45 executivos e ex-executivos ainda podem ser chamados a colaborar

-R$ 3,3 bilhões em propina, pagos em 12 países, foi o valor admitido pela Odebrecht ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos

-54 parlamentares de 12 partidos são citados por um único delator, Cláudio Melo Filho, ex-vicepresidente de relações institucionais do Grupo Odebrecht

-R$ 17 milhões foram pagos a parlamentares em esquema para aprovar 14 medidas provisórias e projetos que atendiam aos interesses da empresa

A Odebrecht na Lava-Jato

FASES ANTERIORES

NOV/2014

Força-tarefa da Lava-Jato desvenda cartel de empreiteiras em obras na Petrobras. Odebrecht tinha 19 contratos no valor de R$ 17 bilhões

JUN/2015

O presidente da holding Marcelo Odebrecht é preso pela Polícia Federal na 14ª fase da Lava-Jato

FEV/2016

Secretária da Odebrecht é presa e revela, em delação premiada, a existência do Setor de Operações Estruturadas, para pagamento de propina

DEZ/2016

Os 77 executivos e ex-executivos do Grupo Odebrecht prestam depoimentos e fecham acordos de delação premiada. No dia 19, os acordos chegam ao STF para análise antes da homologação

FASE ATUAL

JAN/2017

A morte do ministro Teori Zavascki, que era o relator da Lava-Jato no STF, atrasa a homologação dos acordos de delação premiada. Juízes auxiliares continuam analisando aspectos formais dos acordos, mas a homologação depende de uma decisão da presidente do STF, Cármen Lúcia, ou da designação de um novo relator

PRÓXIMA ETAPA

Em caso de homologação dos acordos ,a Procuradoria-Geral da República e a Justiça federal podem usar informações que fazem parte das delações para pedir abertura de inquéritos sobre os fatos narrados

O globo, n. 30488, 26/01/2017. País, p. 4