Futuro do DF é...

Cristovam Buarque

28/03/2017

 

 

O futuro é obviamente a educação. Sem a universalização da educação com a máxima qualidade para todos, o Distrito Federal (DF) não terá as condições necessárias para gerar emprego, produzir bens de alta tecnologia, reduzir a desigualdade, proteger o meio ambiente. Mais do que no passado, no século 21, a educação será a base para o futuro. O DF não deve ficar fora deste destino, assegurando escola pública de máxima qualidade e igual para todas as suas crianças. Temos que ser o exemplo de que é possível educar o país inteiro com a qualidade que o futuro requer. Nesse sentido, até para justificar o fato de a nossa educação ser financiada com recursos federais, devemos lutar pela federalização nos custos e na qualidade da educação em todo o Brasil.

O futuro exigirá eficiência e austeridade. Os limites dos recursos, financeiros e naturais, não permitem continuar o desperdício que tem caracterizado diversos governos locais. Daqui para frente, o DF precisará saber usá-los com eficiência. O resto do Brasil não aceitará continuar financiando nossos gastos com o Fundo Constitucional de R$ 13,2 bilhões por ano, R$ 4,4 mil por cada um de nós brasilienses, que temos a maior renda per capita do país, sabendo que o governo federal financia os custos do Judiciário, além de educação, saúde e segurança. O DF, tanto quanto o Legislativo, deverão aprender a funcionar com recursos limitados, sendo exemplo de gestão com eficiência e austeridade.

O futuro exige reduzir nossa dependência em relação ao governo federal. O DF é mais do que a capital do Brasil. Com o tamanho que adquiriu e com a dinâmica demográfica crescendo pelo aumento vegetativo da população, Brasília precisa definir seu crescimento cada vez menos dependente do Tesouro Nacional e do emprego público federal. É preciso ter como meta aumentar, cada vez mais, a receita interna, reduzindo a dependência do Fundo.

O futuro é o emprego moderno, usando e produzindo alta tecnologia, cada trabalhador com qualificação para reciclar suas habilidades e mudar de atividade ao longo de sua vida. Isso exigirá o casamento da educação de base, com o ensino superior, instituições de pesquisas na ciência e tecnologia, e promoção do empreendedorismo. É necessário entender que o emprego será cada vez menos baseado no setor público e mais dependente da formação do trabalhador e de regras nacionais que ofereçam flexibilidade compatível com a revolução tecnológica em marcha no mundo.

O futuro está na sustentabilidade com equilíbrio ecológico. Com o racionamento de água, o DF está sentindo, por força da pedagogia da catástrofe, as consequências do desrespeito ao meio ambiente. Daqui para frente, será necessário respeitar os recursos naturais: usar menos água, poluir menos o ambiente, usar menos o transporte privado e priorizar o transporte coletivo.

O futuro é a fraternidade. Cada categoria deve respeitar os interesses dos demais setores sociais, se os sindicatos agirem em movimentos por reivindicações que sacrificam os outros grupos. O futuro exige a fraternidade de máximo respeito a todos os que necessitam atendimento especial, por deficiência, velhice, doença. O DF deve ser o exemplo no cuidado aos idosos, às crianças, aos deficientes físicos e mentais, aos pobres; assim como já fomos, graças a programas pioneiros.

O futuro é o respeito à diversidade. O DF deve ser a capital da tolerância religiosa, protegendo suas igrejas e seus terreiros, suas mesquitas, suas sinagogas, seus templos budistas. Deve ser a capital de todas as raças, dos brasileiros de todas as regiões; a cidade do respeito a todas as minorias, com políticas de proteção dos seus direitos e de luta contra a violência.

O futuro é o interesse público. Diferentemente dos dias de hoje, em que as decisões se dividem entre interesses estatais ou privados, o futuro exigirá que o DF seja exemplo de respeito absoluto ao interesse do público, da população, combinando para isso os setores estatal e privado.

No futuro, a saúde pública será cuidada sobretudo na prevenção: no saneamento, no trânsito, na atenção à saúde da família perto de casa, na promoção de exercícios físicos, na garantia de checapes periódicos gratuitos ou de baixo custo a toda a população.

(...)

 

» CRISTOVAM BUARQUE

Senador pelo PPS-DF e professor emérito da UnB

 

 

Correio braziliense, n. 19663, 28/03/2017. Opinião, p. 13.