Teori pediu investigação sobre ameaças feitas à família 
Madalena Romeo 
23/01/2017
 
 
Filho de ministro revela que Polícia Federal descartou riscos

O advogado Francisco Zavascki, filho de Teori Zavascki, revelou ontem em entrevista ao “Fantástico” que, a pedido do pai, foi aberto inquérito na Polícia Federal para investigar ameaças. A PF, no entanto, informou que não havia risco real. O advogado Francisco Zavascki, filho do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki, morto na queda de um avião bimotor no mar em Paraty (RJ), quinta-feira, revelou ontem em entrevista ao “Fantástico”, que, a pedido do pai, foi aberto inquérito na Polícia Federal para investigar os autores de algumas ameaças dirigidas ao ministro e sua família desde o ano passado.

Em nota ao “Fantástico”, a Polícia Federal informou que “todas as ocorrências foram analisadas e concluiu-se que nenhuma delas apresentava risco real à segurança do ministro”.

Foi na casa em que o ministro viveu com a primeira mulher e os três filhos, hoje transformada em escritório de advocacia da família, em Porto Alegre, que Francisco falou com o pai pela última vez.

— Ele estava trabalhando e veio me visitar na quarta-feira à tarde (dia 18). A gente conversou longamente sobre muitos e muitos assuntos. Ele se mostrou muito preocupado: “Olha acho que 2017 vai ser muito mais complicado que 2016”... Eu vi uma apreensão muito grande dele em relação ao que ele já tinha analisado das delações, o que tinha lá dentro e uma preocupação de como o país e as instituições iriam reagir à divulgação desses depoimentos — disse Francisco.

O filho do ministro acrescentou que as preocupações de seu pai, relator do processo da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal, deviam-se à importância dos nomes envolvidos nas delações de 77 executivos da Odebrecht, que o magistrado analisava, mesmo em férias.

— (Sua apreensão era) pelo envolvimento — não me disse as pessoas —, pelo envolvimento de pessoas realmente poderosas.

A respeito de um post de Francisco numa rede social no ano passado, alertando sobre as ameaças e afirmando que “se sofrer algo com alguém da minha família, vocês sabem onde procurar”, o advogado comentou:

— Seja via redes sociais, seja via telefone ou aqui mesmo, nós sofremos diversos tipos de ameaças de todos os tipos. Até um sobrinho, que, na época, não tinha 3 anos de idade, teve sua foto espalhada pela internet com os dizeres: “Se encontrar por aí, dá um tranco nele, dá uma lição nele”.

Sobre as palavras “vocês sabem onde procurar”, que finalizavam o post, Francisco acrescentou:

— Como eu imaginava que esse era um caso que trazia muita repercussão, e se davam as ameaças, que, então, se procurasse (no processo) um vínculo (entre as ameaças) e esse caso, esse processo da Lava-Jato.

Francisco disse ainda ao “Fantástico” que a imagem de técnico discreto não combinava com a do pai em casa:

— Ele era uma pessoa muito alegre, muito brincalhona... A gente brinca, que, se deixasse a bolinha quicando, ele ia chutar com certeza e não ia perder a chance de brincar com alguém.

PERFIS FALSOS NAS REDES SOCIAIS

Francisco alertou, ontem, para a criação de perfis falsos em seu nome na internet, e pediu ajuda aos amigos para denunciar a prática. Num desses perfis falsos, no Facebook, o autor diz que uma fonte da Aeronáutica comunicou que o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) identificou que a gravação entre o piloto da aeronave e a torre de controle tinha sido apagada. A notícia é falsa. Esse mesmo perfil também informa, erroneamente, que técnicos da Aeronáutica suspeitam que um sargento chamado Marcondes, filiado a um partido político, teria orientado o piloto a descer a uma altitude não recomendável, causando desorientação visual ao piloto.

Em outro perfil falso com o nome de Francisco Zavascki, o autor compartilha uma imagem que mostra uma foto de Teori e um texto que diz que a probabilidade de um avião cair seria de uma em 1,2 milhão, e pergunta: “Qual a chance de isso acontecer com o único responsável pela Lava-Jato no STF prestes a homologar uma delação-bomba?”

VERDADES E MENTIRAS NAS REDES SOCIAIS

Várias versões, nem sempre verdadeiras, circulam pelas redes sociais desde a morte do ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki. O GLOBO levantou histórias e dúvidas que circulam pela internet para esclarecer o que é verdade e o que é mentira.

O filho de Teori disse que o pai sofreu um atentado?

Não. O advogado Francisco Zavascki afirmou não ter dúvidas de que “muitas pessoas comemoraram” a morte do seu pai. Chegou a comentar a possibilidade de um atentado, mas evitou colocar essa suspeita como principal hipótese.

O filho de Teori postou mensagem sobre ameaças para frear a Lava-Jato antes do acidente?

Sim. Uma mensagem postada em maio de 2016 por Francisco Zavascki voltou a circular nas redes sociais após a morte do ministro. No entanto, o filho do ministro tem sido bastante cuidadoso ao falar das possíveis causas do acidente.

Teori sofria ameaças e estava preocupado com isso?

Amigo de Teori Zavascki há mais de 40 anos, o ex-presidente do Grêmio e ex-deputado estadual Paulo Odone conta que o ministro do STF não dava importância a ameaças, recebidas, principalmente, por meio de redes sociais.

O avião tinha caixa-preta?

A Força Aérea Brasileira informou que foi encontrado nos destroços da aeronave que caiu em Paraty um gravador de voz da aeronave. No entanto, segundo as regras de segurança da Agência Nacional de Aviação Civil, o modelo da aeronave, um King Air C90GT, não era obrigada a ter qualquer equipamento de gravação de dados ou voz.

A conversa entre piloto e torre de controle foi apagada?

Ainda não há informações sobre o estado do gravador de voz. É preciso ainda confirmar se o equipamento estava ligado. O gravador está na Aeronáutica.

Havia documentos dos processos da Lava-Jato no avião?

Não há informações sobre isso. Mesmo de férias, Teori acompanhava o trabalho no Supremo sobre a delação premiada de 77 executivos da Odebrecht, mas não há indícios de que havia documentos importantes da Lava-Jato na aeronave.

Um “sargento” deu orientações erradas ao piloto?

Mentira. Mensagem compartilhada pelo WhatsApp cita um suposto sargento que teria orientado, por meio de rádio, o piloto do avião a descer em Paraty a uma altura não recomendável. Segundo a mensagem, essa orientação teria levado a aeronave a cair, e o suposto sargento chegou a ser preso. Mas, ainda segundo a mensagem, foi solto em tempo recorde com base em liminar emitida pelo ministro do STF Ricardo Lewandowski.

Quais as circunstâncias da queda?

O bimotor de prefixo PR-SOM decolou com o ministro Teori e mais quatro pessoas do aeroporto Campo de Marte, em São Paulo, por volta das 13h, rumo a Paraty. Antes das 14h, porém, a aeronave caiu no mar próximo a Ilha Rasa, em condições climáticas desfavoráveis e com pouquíssima visibilidade, segundo testemunhas.

(Madalena Romeo)

O globo, n. 30485, 23/01/2017. País, p. 4