O Estado de São Paulo, n. 45024, 24/01/2017. Política, p. A6

103 anos para FBI decifrar dados da odebrecht

 

Jamil Chade

 

Quase um ano após os investigadores da Operação Lava Jato identificarem servidores da Odebrecht na Suíça, parte das informações da empreiteira sobre pagamentos de propinas pelo mundo continua em segredo.

Sem conseguir acessar os dados, protegidos por uma série de códigos e chave de segurança, a Procuradoria-Geral da República recorreu até ao FBI, órgão de investigação dos Estados Unidos.

A resposta dos americanos, porém, não foi nada animadora. Em comunicado ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o FBI disse que, mesmo usando toda a sua tecnologia disponível, precisaria de 103 anos para superar as sofisticadas camadas de proteção dos servidores da Odebrecht.

A existência destes servidores na Suíça foi revelada no início de 2016 por funcionários do Setor de Operações Estruturadas, o “departamento de propinas” da empreiteira. Eles afirmaram que, para consultar os documentos, o sistema exigia um código secreto que era trocado diariamente, além do uso de uma chave no computador central. Os funcionários disseram que desconheciam esta chave.

 

Conexão. Após o pedido de ajuda dos investigadores brasileiros, o FBI indicou que estava disposto a colaborar e que poderia romper o código se soubesse qual havia sido o último computador a fazer uma conexão ao servidor. Uma vez mais, porém, os funcionários da Odebrecht indicaram que não tinham esse controle e não saberiam dar uma resposta. Segundo eles, eram os altos executivos da empresa que davam as ordens para os pagamentos de propinas.

O FBI, então, avisou a Janot que poderia iniciar um processo para tentar romper o código. Mas, que, por suas previsões, teria de fazer simulações com diferentes combinações de códigos por 103 anos para que pudesse superar o sistema de proteção criado pela Odebrecht.

Uma saída encontrada pela Procuradoria-Geral da República foi buscar a cooperação da Suíça, que classificou a operação da empresa brasileira como “altamente profissional”. Berna, segundo os brasileiros, conseguiu acesso a cerca de um terço do material contido nos servidores. Em um documento revelado pelo Estado no fim de dezembro, o Ministério Público suíço confirmou que os servidores têm “uma enorme quantidade de dados” sobre pagamentos de propinas.

Neles, informações equivalentes a 2 milhões de páginas de documentos poderiam ser retiradas, “incluindo e-mails, ordens de pagamentos, conferências e contratos que serviriam para justificar pagamentos”. “Além disso, milhares de listas foram confiscadas e pagamentos relatados por meio do sistema ilegal foram listados, com datas, o valor e o nome dos recipientes”, informou o Ministério Público suíço.

Segundo Berna, um ex-executivo da Odebrecht, Fernando Miggliaccio, apagou parte dos rastros nos servidores. Ele fez isso em fevereiro de 2016, pouco antes de ser preso em Genebra tentando encerrar contas bancárias e retirar pertences de cofres.

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PSDB cobra Planalto por ministério ‘inteiro’

 
Carla Araújo
Ricardo Brito

 

Em mais um lance da queda de braço entre o PMDB e o PSDB por espaços no governo do presidente Michel Temer, os tucanos cobram do Palácio do Planalto que o partido tenha direito a indicar toda a estrutura da Secretaria de Governo.

O PMDB, entretanto, já sinalizou que rechaça a possibilidade de que o PSDB garanta a chamada “porteira fechada”, modelo no qual apadrinhados de um partido ocupam todos os cargos de livre nomeação de uma determinada pasta.

Tanto os tucanos quanto o Planalto já dão como certa a nomeação para a Secretaria de Governo do líder do PSDB na Câmara, deputado Antonio Imbassahy (BA), aliado do presidente nacional da legenda, senador Aécio Neves (MG), logo após a eleição da Mesa Diretora da Casa, no dia 2 de fevereiro.

A pasta, com status de ministério, é responsável, entre outros assuntos, por fazer a articulação com o Congresso.

Aécio esteve ontem no Planalto e conversou com Temer e com o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. Segundo interlocutores do presidente, o senador tucano manifestou o desejo de que o PSDB, com Imbassahy na Secretaria de Governo, tenha liberdade para fazer as nomeações da pasta. Até o momento, Temer não decidiu de que lado ficará na disputa: do PMDB, seu partido, ou do PSDB, de sua base aliada.

Por meio da assessoria de imprensa, o presidente nacional do PSDB disse que não tratou com Temer sobre o ministério e afirmou que cabe apenas ao presidente da República realizar as nomeações dos cargos.

 

Ex-ministro. A Secretaria de Governo está vaga desde o dia 25 de novembro, quando o peemedebista Geddel Vieira Lima deixou o cargo sob a acusação de ter praticado tráfico de influência. Geddel teria pressionado um colega de Esplanada – o então ministro da Cultura Marcelo Calero – para liberar as obras de um prédio em Salvador, no qual ele possui um apartamento, embargadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Mesmo com a saída de Geddel do cargo, a Secretaria de Governo continua em atividade e nomes indicados de peemedebistas ainda ocupam os postos-chave da pasta.

Um dos principais entraves entre tucanos e peemedebistas é a chefia de gabinete do ministro, cargo que é ocupado, desde maio passado, por Carlos Henrique Sobral, ex-assessor especial do ex-presidente da Câmara e deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Em conversas reservadas, integrantes do PMDB têm dito que não abrem mão de manter Sobral no cargo. Os peemedebistas consideram fundamental ter um aliado na pasta, que cuida também do cronograma de liberação de emendas parlamentares.

 

Estrutura. A Secretaria de Governo é composta, além do gabinete do ministro, pela secretaria executiva, por cinco secretarias setoriais (Articulação Social, Administração, Micro e Pequena Empresa, Juventude e Controle Interno), por duas subchefias (Assuntos Parlamentares e de Assuntos Federativos) e ainda por um escritório especial em Altamira.

Como mostrou o Estado, governo Michel Temer adotou a prática da chamada “porteira aberta” na distribuição de cargos do primeiro escalão. Segundo esse modelo, postos na estrutura de um determinado ministério ou órgão são rateados por apadrinhados de políticos de diversos partidos. O objetivo da pulverização é garantir o apoio de aliados em votações no Congresso.

 

Novo diretor no Inep

O presidente Michel Temer nomeou ontem Rui Barbosa de Brito Júnior para o cargo de Diretor de Avaliação da Educação Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep).