Na Justiça, Velloso deve ficar com PF, e Mariz, com Segurança 
Catarina Alencastro e Simone Iglesias 
16/02/2017
 
 
Temer estuda alterar estrutura da pasta para fugir de polêmicas

-BRASÍLIA- Depois de uma série de medidas polêmicas e contrárias à opinião pública, o presidente Michel Temer busca remendar equívocos montando um superministério da Justiça e da Segurança Pública indicando nomes mais técnicos e “notáveis”. Ontem à noite, no Palácio do Planalto, o nome de Carlos Velloso era dado como o favorito para assumir o Ministério da Justiça. Mas, assim como o titular da pasta parece estar fechado, o formato do ministério sofrerá alterações. O presidente Temer pediu à sua equipe um estudo para desvincular a Secretaria Nacional de Segurança Pública da pasta. Seria um órgão autônomo, mas sem status de ministério. No fim da tarde de ontem, o advogado Antonio Cláudio Mariz era o mais cotado para o posto e teria inclusive recebido o convite do presidente.

— Só não é ele se escorregar de novo — revelou um assessor presidencial.

Nesse formato, a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal permaneceriam sob o guarda-chuva do Ministério da Justiça. Já a secretaria cuidaria das políticas de segurança e de tocar uma nova política penitenciária. Um conselheiro de Temer na área jurídica diz ser esta a área de expertise de Mariz.

O advogado foi o primeiro nome cotado para suceder Alexandre de Moraes na Justiça, mas Temer acabou desistindo da nomeação do amigo de longa data em função das críticas explícitas dele à Lava-Jato. Com o novo formato, a PF e a PRF não ficariam mais sob sua responsabilidade, o que, na avaliação do Planalto, deve diminuir as críticas de que o governo estaria tentando atrapalhar as investigações.

O nome de José Mariano Beltrame, também cotado para essa vaga, foi perdendo força ao longo do dia. Interlocutores de Temer explicaram esse esvaziamento do exsecretário de Segurança do Rio devido ao comportamento dele durante os Jogos Olímpicos quando, segundo um auxiliar palaciano, Beltrame teria entrado em conflito com o comando federal.

— Nas Olimpíadas o Beltrame teve dificuldade de se integrar com a Força Nacional e apresentou problemas de relacionamento com a equipe do governo federal. Isso está sendo lembrado ao presidente — disse esse auxiliar.

Beltrame é policial federal de carreira e se aposentou no ano passado. Atua, hoje, como consultor da Vale e integra o Conselho de Gestão de Segurança Urbana na gestão João Doria (PSDB), em São Paulo, numa função não remunerada.

Um auxiliar palaciano afirma que, embora a sucessão de Alexandre de Moraes já esteja praticamente equacionada, Temer não tem por que antecipar o anúncio para antes da aprovação do nome de Moraes pelo Senado. Isso foi cogitado quando a crise no Espírito Santo estava no auge. Agora, explica ele, o cenário é melhor e o Ministério da Justiça está em funcionamento, podendo aguardar até a semana que vem.

Ontem pela manhã, o presidente Temer relatou a reunião com Velloso em sua conta no Twitter:

“Estive com Carlos Velloso ontem. Conversamos privadamente por mais de 1h. Meu amigo há mais de 35 anos. Marcamos esse encontro diretamente. Continuaremos a conversar nos próximos dias. A escolha do novo ministro da Justiça será minha, pessoal, sem conotações partidárias”, escreveu Temer.

O ministro Eliseu Padilha (Casa Civil), encampou o discurso do chefe:

— Se ele diz que é um técnico, será um técnico.

O globo, n. 30509, 16/02/2017. País, p. 6