Senador investigado na lava-Jato vai presidir CCJ
Cristiane Jungblut, André de Souza e Carolina Brígido
09/02/2017
 
 
Lobão comandará comissão que fará sabatina com indicado ao STF

-BRASÍLIA- Investigado na Lava-Jato, o senador Edison Lobão (PMDB-MA) foi indicado ontem para a presidência da Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ). Ele foi o escolhido pela bancada do PMDB, liderada por Renan Calheiros (AL), que tinha direito ao posto por ser o partido com maior número de senadores. Assim, a eleição dele hoje, às 10h, é vista como mera formalidade. O senador tem quatro inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF), dois deles relacionados à Lava-Jato, e será o responsável por comandar a sabatina de Alexandre de Moraes, indicado ao STF pelo presidente Michel Temer para a vaga de Teori Zavascki, morto no último dia 19. Lobão já presidiu a CCJ entre 2003 e 2004.

Depois de muita briga na véspera, Lobão foi aclamado pela bancada do PMDB após o senador Raimundo Lira (PMDB-PB) desistir de uma disputa dentro da bancada. A escolha representou a vitória do grupo do ex-senador José Sarney (PMDB-AP), que ainda controla o PMDB do Senado, e tem hoje como principal representante Renan. Após a escolha, Lobão recebeu um telefonema de Michel Temer.

Com a instalação da comissão hoje, prevalece o plano do presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), de votar a indicação de Alexandre de Moraes no plenário da Casa até o dia 22 de fevereiro. O relator do caso deverá ser o senador Eduardo Braga (PMDB-MA).

Lobão é investigado em quatro inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF). Dois deles apuram a participação dele no esquema de corrupção na Petrobras e desvendado pela Lava-Jato. Outros dois são desdobramentos da operação e investigam irregularidades na construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. Lobão disse que as investigações não lhe constrangem para assumir o novo cargo.

— A investigação não deve causar constrangimento a ninguém. É uma forma inclusive de o alegado poder demonstrar que não é responsável por tais alegações caluniosas. A investigação não deve molestar a ninguém, não molesta a mim. Se houve alegação contra mim, é bom que seja investigado para que eu possa demonstrar que não passa de uma calúnia — disse Lobão, completando: — Sempre dormi tranquilo, Graças a Deus.

Em um dos inquéritos da Lava-Jato, a Polícia Federal (PF) apontou que Lobão acertou em 2014 uma propina de R$ 30 milhões com Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC, para financiar campanhas do PMDB. Na época, Lobão era ministro de Minas e Energia. O segundo inquérito investiga vários senadores do PMDB e pessoas associadas por quadrilha, lavagem de dinheiro e corrupção passiva. O STF chegou a abrir mais dois inquéritos na Lava-Jato contra Lobão, mas eles foram arquivados por falta de provas.

Lobão também é alvo de dois inquéritos envolvendo a Usina de Belo Monte.

O globo, n. 30502, 09/02/2017. País, p. 4