Henrique Gomes Batista
07/02/2017
Dias após ter destacado as qualidades do ministro Edson Fachin, que assumiu a relatoria da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal, o juiz Sérgio Moro, responsável pela operação na Justiça Federal, em Curitiba, adotou a cautela para avaliar a indicação de Alexandre de Moraes. Moro proferiu palestra na Columbia University, em Nova York, na qual tratou da investigação e respondeu a críticas sobre seu trabalho na condução do processo.
Diante de uma plateia dividida — ele enfrentou protestos, mas também foi aplaudido de pé — o magistrado limitou-se a uma frase, após ser informado do nome que seria apresentado oficialmente poucas horas depois:
— Boa sorte para ele, mas não tenho opinião para dar — disse o magistrado.
No caso de Fachin, Moro afirmou que não tem condições de avaliar um ministro do Supremo, mas lembrou que o colega do STF tem tomado “decisões importantes e independentes”. O juiz de Curitiba aproveitou ainda para criticar a falta de ações de governo e Congresso para coibir a corrupção.
— Até agora o Executivo e o Congresso não deram uma contribuição tão grande para o combate a corrupção — afirmou, antes de dar a receita para reduzir o conflito entre investigadores e políticos: — Eu tive uma grande oportunidade no ano passado de conversar com pessoas da Operação Mãos Limpas (na Itália), e eles me disseram que, se a gente quer parar o conflito entre a Justiça criminal e a política, os políticos precisam parar de cometer crimes.
Moro voltou a defender a publicidade total dos casos de corrupção e afirmou que o país sairá melhor, inclusive na economia:
— A economia é importante e o país pode se tornar mais competitivo, os custos dos contratos públicos podem ser reduzidos, a luta contra a corrupção pode atrair investidores e gerar mais estabilidade — disse o juiz.
Mas Moro, porém, advertiu que a sociedade também precisa se engajar, que os brasileiros “não fechem os olhos” para a corrupção. Ele afirmou que o crime está presente em todo o mundo, mas salientou que, no Brasil, todo o sistema estava corrompido.
O globo, n. 30500, 07/02/2017. País, p. 5