Pedido para destruir provas

Julia Chaib

21/04/2017

 

 

Citado por diversos delatores da Odebrecht, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou ainda mais exposto ao ser alvo de dois depoimentos prestados ontem ao juiz federal Sérgio Moro, responsável pela operação Lava-Jato. O ex-presidente da OAS Engenharia José Aldemario Pinheiro, o Leo Pinheiro, afirmou que Lula pediu a ele a destruição das provas e garantiu que o tríplex no Guarujá, o qual Lula é acusado pela Justiça de manter como patrimônio oculto, pertencia ao petista. Em outra audiência, o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, considerado o principal angariador de recursos para campanhas eleitorais do petista, afirmou ter informações que renderiam investigações por mais um ano.


Leo Pinheiro prestou depoimento na 13ª Vara de Justiça Federal, em Curitiba, no âmbito da ação em que o ex-presidente é réu, junto com o empreiteiro. O petista é acusado pelo Ministério Público Federal de ter recebido R$ 3,7 milhões de propina da OAS, em valores que teriam sido pagos por meio de reformas no triplex no Guarujá. O pagamento da propina, fruto de contratos com a Petrobras, também teria ocorrido por meio do armazenamento de bens do ex-presidente, de 2011 a 2016.
Na audiência, o empreiteiro garantiu que o tríplex no condomínio Solaris, no Guarujá, era, sim, de Lula e, por isso, jamais foi colocado à venda. O edifício pertencia à cooperativa habitacional Bancoop, que faliu e passou o controle do local à OAS. De acordo com Pinheiro, foi o próprio Vaccari que o procurou e pediu para que a empreiteira fizesse parte do condomínio, com a justificativa de que um dos empreendimentos era de Lula. “O apartamento era do presidente Lula. Desde o dia em que me passaram para estudar os empreendimentos da Bancoop já me foi dito que era do presidente Lula e sua família e que eu não comercializasse e tratasse aquilo como propriedade do presidente”, afirmou o empreiteiro.

Pinheiro relatou ter visitado o tríplex junto com Lula e a mulher, Marisa Letícia, e definido algumas mudanças no apartamento. Em seguida, segundo o depoimento, houve nova reunião com o casal, dessa vez, no apartamento do petista em São Bernardo do Campo (SP), onde se confirmaram as mudanças a serem feitas na reforma. “Todas essas modificações ocorreram após solicitação feita no dia em que eu fui com o presidente e a ex-primeira-dama ao tríplex. Foi fruto de nossa visita”, afirmou o ex-presidente da OAS.

Pagamentos

O empreiteiro ainda afirmou que Lula pediu a ele que destruísse provas. Segundo o depoimento, ambos teriam discutido os pagamentos prestados pela construtora em maio de 2014, dois meses após ser deflagrada a operação Lava-Jato. O ex-presidente teria perguntado a Pinheiro se ele pagava propina ao PT no Brasil ou no exterior e de que forma eram efetuados os pagamentos ao partido. Leo explicou que era por meio do ex-tesoureiro do partido João Vaccari. Então, Lula teria dito: “Você tem algum registro de algum encontro de contas feitas com João Vaccari com vocês? Se tiver, destrua”, afirmou o empreiteiro.

Condenado a 26 anos e quatro meses de reclusão por corrupção ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa no esquema de corrupção da Petrobras, está preso desde setembro de 2016 na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba. Ele foi preso pela primeira vez em novembro de 2014, depois chegou a ganhar direito à prisão domiciliar, mas, em setembro do ano passado, Moro mandou prendê-lo novamente sob suspeita de tentar obstruir a operação. O delator negocia uma delação premiada para tentar abater a pena.

A defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nega as acusações e diz que o empreiteiro criou uma “versão” acordada com o MPF para conseguir o acordo de delação. “Ele foi claramente incumbido de criar uma narrativa que sustentasse ser Lula o proprietário do chamado triplex do Guarujá. É a palavra dele contra o depoimento de 73 testemunhas, inclusive funcionários da OAS, negando ser Lula o dono do imóvel”, diz a nota, assinada pelo advogado do ex-presidente, Cristiano Zanin Martins.

Segundo a defesa, a afirmação é “fantasiosa” e contraria documentos da empresa. O advogado refuta também a acusação de que Lula mandou destruir provas. “É uma tese esdrúxula que já foi veiculada até em um e-mail falso encaminhado ao Instituto Lula que, a despeito de ter sido apresentada ao Juízo, não mereceu nenhuma providência”, afirma.

 

 

Correio braziliense, n. 19687, 21/04/2017. Político, p. 2.