Publicitário diz não saber origem de R$ 7,7 milhões

Chico Otavio 

04/02/2017

 

 

Ex-subsecretário do governo Cabral foi alvo da Operação Eficiência

No primeiro depoimento após ser preso, o publicitário Francisco de Assis Neto, o Kiko, exsubsecretário adjunto de Comunicação do governo Sérgio Cabral, disse desconhecer a origem dos R$ 7,7 milhões que recebeu do esquema de propinas comandado pelo ex-governador. O advogado de Kiko, Bruno Melaragno, disse que o cliente teria explicado aos investigadores como o dinheiro chegou e onde foi empregado, não se negando a responder as perguntas feitas em quatro horas de depoimento. Melaragno, contudo, não quis revelar detalhes e disse que o publicitário não fez a delação premiada.

Kiko, que era o único ainda foragido dos envolvidos na Operação Eficiência e estava na lista vermelha de procurados pela Interpol, foi preso assim que desembarcou no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro, procedente dos Estados Unidos. O advogado garantiu que ele estava de férias com a família. Ao todo, foram expedidos nove mandados de prisão preventiva na operação, incluindo o do empresário Eike Batista, que também estava nos EUA. Como apresentou diploma de curso superior, Kiko foi encaminhado para Bangu 8, unidade do Complexo de Gericinó, Zona Oeste do Rio.

— Como vasculharam todos os endereços e nada encontraram com ele, considero o meu cliente testemunha e não réu — alegou Melaragno.

SUSPEITA NA PUBLICIDADE

O publicitário é um dos sócios da empresa de comunicação Corcovado, cujo endereço, na Rua Nilo Peçanha, no Centro do Rio, é citado na lista apontada pelos doleiros de Sérgio Cabral. Corretor de seguros no Centro do Rio, ele começou na política pelas mãos do prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis. Cabia a ele organizar os eventos populares da prefeitura. Com o sucesso do empreendimento, Kiko foi nomeado secretário de Comunicação e Eventos do município. Nesta época, conheceu o secretario estadual de governo de Cabral, Wilson Carlos. Impressionado com o desempenho do assessor de Reis, Wilson o convidou para integrar a equipe de comunicação do governo Cabral.

Kiko assumiu o cargo de subsecretário adjunto cuidando especificamente dos investimentos publicitários e dos eventos do governo. Os investigadores suspeitam que o dinheiro transferido para Kiko pode ser a ponta de lança do esquema que envolvia o pagamento de propina em contratos na área publicitária.

O globo, n. 30497, 04/02/2017. País, p. 5