Após resistência, família Temer se muda, enfim, para o Alvorada

Simone Iglesias 

19/02/2017

 

 

Pela primeira vez, desde Jango, criança terá residência fixa no Palácio

Depois de quase seis meses na Presidência, Michel Temer passou a morar na residência oficial, o Palácio da Alvorada. Desde outubro passado, o palácio estava em reforma, especialmente para acomodar o filho caçula de Temer, Michelzinho.
Novo inquilino. Palácio da Alvorada passou por reforma no segundo andar

Inicialmente, o peemedebista resistia em se mudar para o local, que ficou ocupado pela presidente afastada Dilma Rousseff até 6 de setembro. Temer estava usando o Alvorada para jantares e reuniões políticas, mas morando no Palácio do Jaburu, reservado aos vice-presidentes.

Para receber Temer, a primeira-dama, Marcela, e o filho, o palácio passou por ajustes, especialmente no segundo andar, onde fica a área íntima. Pela primeira vez desde que foi construído, o Alvorada recebeu telas de proteção nas janelas voltadas para o Lago Paranoá.

O quarto de Michelzinho era usado anteriormente como um escritório, localizado próximo à suíte principal. A última vez que crianças moraram na residência oficial foi no governo do expresidente João Goulart (19611964). Na gestão Dilma, era comum a petista receber o neto Gabriel, hoje com 6 anos.

A primeira-dama montou ainda no Alvorada um escritório para atender ao programa Criança Feliz, do qual é embaixadora.

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Dilma admite que pode ser candidata no ano que vem

19/02/2017

 

 

Ex-presidente manteve direitos políticos, apesar do impeachment

A ex-presidente Dilma Rousseff afirmou, em entrevista à agência de notícias France-Press, que poderá se candidatar à Câmara dos Deputados ou ao Senado Federal. Embora tenha sido afastada de seu mandato em agosto do ano passado, Dilma não perdeu os direitos políticos para ocupar cargos públicos, e pode, portanto, ser candidata a cargos eletivos. Em suas redes sociais, mantém a frase “presidenta eleita do Brasil.”

— Eu não serei candidata a presidente da República. Agora, atividade política, nunca vou deixar de fazer (...) Eu não afasto a possibilidade de eu me candidatar para esse tipo de cargo: senadora, deputada, esses cargos — disse Dilma à agência de notícias, em Brasília.

“SEM RANCOR" COM ADVERSÁRIOS

Dilma diz não guardar rancores pessoais nem mesmo de seus detratores como o ex-deputado cassado Eduardo Cunha, responsável por comandar o processo de impeachment da ex-presidente na Câmara. Ela disse que conserva a mesma atitude em relação aos algozes que a torturam na ditadura militar (1964-1985):

— Eu não tenho em relação ao Eduardo Cunha nenhum sentimento de vingança ou qualquer coisa que o valha. Eu não tive em relação ao torturador. Não dou luxo para torturador de ter ódio de torturador, nem tampouco para o Eduardo Cunha.

Dilma demonstrou irritação ao ser questionada sobre o escândalo de corrupção da Petrobras. Em troca de contratos com a estatal, um cartel de empreiteiras superfaturava preços de licitações e pagava propina a agentes públicos e partidos políticos para financiar campanhas eleitorais:

— Os processos são extremamente complicados (...) Ninguém no Brasil sabe de todos os processos de corrupção hoje.

Dilma disse que continua analisando os documentos do processo que a retirou do poder, substituindo-a por seu vice, Michel Temer, a quem voltou a acusar novamente de líder de um “golpe parlamentar”.

— As pedras de Brasília e as emas da Alvorada sabiam que eles estavam inventando um motivo para me afastar — afirmou a ex-presidente, em alusão aos animais que vivem nos jardins do Palácio da Alvorada.

Ela comentou o resultado das pesquisas eleitorais recentes que projetam o ex-presidente Lula em primeiro lugar em todos os cenários para 2018. Disse que há um “segundo golpe” em andamento: criminalizar Lula para impedir sua candidatura:

— Apesar de todo o processo de tentativa de destruição da personalidade, da história e tudo, o Lula continua em primeiro lugar, continua sendo espontaneamente o mais votado.

 

O globo, n. 30512, 19/02/2017. País, p. 9