Família autoriza doação de órgãos de dona Marisa

Luiza Souto e Gustavo Schmitt

03/02/2017

 

 

Lula recebe visita de FH, e chegada de Temer provoca protestos

-SÃO PAULO- Poucas horas depois da constatação de que o grave estado de saúde da ex-primeira-dama Marisa Letícia era irreversível, o boletim médico divulgado pelo Hospital SírioLibanês ontem, às 10h25m, revelava o maior temor da equipe médica: o diagnóstico de ausência do fluxo sanguíneo cerebral. A nota curta, diferentemente dos outros dias, não veio acompanhada de explicações do cardiologista Roberto Kalil Filho à imprensa, e reforçou a gravidade da situação: o hospital já iniciava os procedimentos para a doação de órgãos de dona Marisa. Ao mesmo tempo, nas redes sociais, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva agradecia manifestações de solidariedade. Até a noite de ontem, no entanto, não havia confirmação oficial da morte da ex-primeira-dama.

“A família Lula da Silva agradece as manifestações de carinho e solidariedade recebidas nesses últimos dez dias pela recuperação da ex-primeira-dama Dona Marisa Letícia Lula da Silva. A família autorizou os procedimentos preparativos para a doação dos órgãos”, escreveu Lula no Facebook

Os médicos suspenderam os sedativos em dona Marisa ontem de manhã. Desde então, respira com ajuda de aparelhos. Ao longo dos últimos dias, a equipe fazia controle da sua pressão intracraniana, que chegou a ser estabilizada, mas voltou a oscilar nas primeiras horas de ontem.

Familiares, amigos e políticos passaram o dia prestando homenagens. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi ao hospital para dar apoio a Lula. Imagens do encontro foram divulgadas pela assessoria do petista. Nelas, Lula, abatido, é abraçado por Fernando Henrique, acompanhado no encontro pelos ex-ministros José Gregori e Celso Amorim. A ex-presidente Dilma Rousseff, que antecipou a volta de uma viagem ao exterior, esteve no hospital para dar apoio à família.

“Hoje é um dia triste para todos nós, que conhecemos e admiramos Dona Marisa Letícia”, escreveu Dilma. “Sabemos do amor e da força que sempre emprestou ao presidente Lula. Uma mulher de fibra, batalhadora, que conquistou espaço e teve importante papel político”, escreveu Dilma, em sua página no Facebook.

À noite, a chegada do presidente Michel Temer e sua comitiva ao hospital foi marcada por tumulto. Um grupo de manifestantes xingou ministros e senadores, enquanto eles deixavam a van e seguiam para o interior do prédio. Além de Temer, estavam o ex-senador José Sarney, o recém-eleito presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), o senador Romero Jucá (PMDB-RR), os ministros José Serra, Henrique Meirelles e Eliseu Padilha, e Moreira Franco, que assumirá a Secretaria Geral da Presidência. Os manifestantes, muitos ligados a sindicatos apoiados pelo PT, xingavam o grupo de “golpistas, vagabundos e assassinos”

No Congresso, parlamentares fizeram um minuto de silêncio. Reeleito presidente da Câmara, Rodrigo Maia também prestou homenagem. O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) postou uma imagem em que expressava sua tristeza. Os deputados Ivan Valente (PSOL-SP) e Jean Wyllys (PSOL-RJ) também mandaram condolências aos familiares. A eles se juntaram Jandira Feghali (PCdoB-RJ), Glauber Braga (PSOL-RJ) e outros políticos. Já o ex-ministro Paulo Bernardo, e os senadores Lindbergh Faria (PT-RJ) e Gleisi Hoffmann (PT-PR) estiveram no hospital, onde se encontraram com Lula e familiares.

Também à noite, chegaram ao hospital deputados que estavam na votação para a presidência da Câmara. Maria do Rosário (PT-RS)) pediu basta ao que chamou de “perseguições contra o presidente Lula”.

— Basta de ódio no Brasil, de ódio a dona Marisa, basta das pessoas ficarem agredindo e basta da perseguição ao Lula. A gente quer plantar mais respeito no Brasil — disse a deputada.

“A família Lula da Silva agradece as manifestações de carinho e solidariedade recebidas nesses últimos dez dias pela recuperação da ex-primeira-dama”

Luiz Inácio Lula da Silva

Ex-presidente da República

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Aneurisma atinge 2% da população mundial

03/02/2017

 

 

Falta de controle da pressão arterial, fumo e diabetes levam a AVC hemorrágico

Estima-se que 2% da população mundial tenha algum aneurisma — uma dilatação anormal de qualquer artéria do corpo —, que, se rompido, leva ao Acidente Vascular Cerebral (AVC), como o ocorrido com a ex-primeira-dama Marisa Letícia. De acordo com especialistas, quem já sabe que tem o problema deve seguir à risca recomendações médicas para diminuir o risco de a artéria estourar: manter a pressão arterial controlada, não fumar, ter índices de glicose dentro do normal — para evitar a evolução para o diabetes — e fazer exercícios físicos de leves a moderados. Participar de uma maratona, por exemplo, nem pensar, mas correr é, em geral, permitido.

— O que faz existir uma espécie de bomba-relógio é a pessoa já estar diagnosticada com aneurisma e viver situações de pressão arterial descontrolada ou fumar, por exemplo — destaca o neurologista do Hospital Quinta D’Or Pedro Varanda.

Se o aneurisma cerebral tiver menos que 4mm e sua parede for grossa, os médicos consideram que o risco é baixo, portanto preferem não realizar uma cirurgia para retirá-lo. Mas, se ele for maior do que 10mm e tiver parede fina, pouco resistente ao aumento do fluxo de sangue, a indicação cirúrgica é alta. Foi nos últimos meses, segundo boletim médico, que se identificou que o aneurisma de dona Marisa, que foi fumante, havia crescido para pouco menos que 10mm.

Segundo Pedro Varanda, a grande maioria dos rompimentos de aneurisma ocorrem por causa de hipertensão, problema de saúde que dona Marisa tinha.

— No caso de dona Marisa, pode ter ocorrido um pico de pressão e isso ter levado ao rompimento do aneurisma. Mas o mais comum é que seja um resultado de uma pressão elevada durante um longo prazo — analisa Varanda. — O que mais acontece é a pessoa passar anos tendo sua artéria desgastada por conta da hipertensão e, em determinado momento, ela romper. Não necessariamente por conta de um pico.

Chefe de neurologia do Hospital Pró-Cardíaco, Daniel Bezerra explica que a incidência do problema é maior em mulheres, em especial depois da menopausa. Já o diretor científico da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), Rubens Gagliardi, diz que as causas para a formação são variadas. A pessoa pode nascer com ele, pode desenvolver ao longo da vida uma alteração nas artérias ou pode ter uma infecção nelas. (Clarissa Pains)

 

O globo, n. 30496, 03/02/2017. País, p. 10