Inclusão de policiais em reforma está ameaçada

Maria Cristina Fernandes

17/02/2017

 

 

Espraia-se, entre os governadores, a percepção de que o motim deflagrado no Espírito Santo inviabilizou a inclusão dos policiais militares na reforma previdenciária, antiga demanda dos Estados. A convicção de que o momento é desfavorável une desde governadores outrora ferrenhos defensores de reformas fiscais, como Paulo Hartung, do Espírito Santo, quanto críticos da ofensiva reformista do Executivo em momento de recessão, como o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel.

No comando do Estado em que o piso de soldado é o quarto maior do país, R$ 4,1 mil, Pimentel tem feito visitas a quartéis em atos que marcam a renovação da frota, mantido contato mais frequente com os comandos policiais e discursado pedindo serenidade às tropas. Apesar de não ter detectado, no seu Estado, movimentações de policiais militares no sentido de aderir a uma movimentação nacional que estaria programada para o Carnaval, o governador mineiro não vê condições de fazer qualquer investida reformista - "É tocar fogo no paiol", disse Pimentel ao Valor.

A avaliação dos governadores converge com a do núcleo do Palácio do Planalto, que teme o desgaste na já dilapidada popularidade presidencial se um movimento nacional de greve de policiais militares vier a eclodir. O governo Michel Temer, no entanto, não dá sinais de que vá recuar na reforma do regime geral da Previdência para trabalhadores dos setores público e privado.

A postura do presidente encontra respaldo nos indicadores do mercado financeiro - bolsa de valores em pico histórico e dólar na menor cotação dos últimos dois anos - e no principal aliado, o PSDB, cujo presidente nacional, o senador Aécio Neves, já declarou que não foi para o presidente Michel Temer desfrutar de altos índices de popularidade que seu partido apoiou sua assunção ao cargo.

O governador de Minas diz que a disposição do governo de levar à frente "a ferro e fogo" a reforma previdenciária ignora os sinais emitidos pela pesquisa CNT/MDA, que indica vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em todos os cenários de primeiro e segundo turno, e a popularidade de Temer no pior fosso de um presidente da República desde a gestão Fernando Henrique Cardoso.

A pesquisa e, principalmente, o motim do Espírito Santo, na avaliação do governador, sinalizaram que a pauta do ajuste deu sinais de esgotamento e não promove o consenso que o país busca desde a queda da ex-presidente Dilma Rousseff.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4198, 17/02/2017. Política, p. A7.