Entre aposentados por idade, mulher é maioria, e renda é menor

Lena Lavinas

05/03/2017

 

 

Estudo mostra que população feminina deve ser mais atingida por reforma


As mulheres podem ser mais penalizadas na reforma da Previdência Social, de acordo com estudo da pesquisadora Ana Amélia Camarano, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A proposta que o governo enviou ao Congresso prevê que as mulheres devem se aposentar aos 65 anos, cinco a mais do que hoje e contribuir por 25 anos. Atualmente, o mínimo previsto são 15 anos para ambos os sexos.
Hoje, as mulheres são maioria entre os que se aposentam por idade. Representam 64%, com benefícios em torno de um salário mínimo. Já por tempo de contribuição, a presença feminina é de 30%, exatamente onde os rendimentos são maiores.
— Tentei calcular qual o custo da equiparação por idade para homens e mulheres. De fato, não é função da Previdência corrigir distorções do mercado de trabalho, mas não se pode fazer isso de uma hora para outra. É preciso um amortecedor.
Na aposentadoria por idade, a mulher consegue, em média, comprovar 18 anos de contribuição, e os homens, 21 anos. Na reforma, a mulher precisaria trabalhar mais sete anos, enquanto o homem, quatro.
— Menos mulheres conseguem se aposentar, têm menos emprego e mais informalidade. As mulheres com filhos têm jornada menor e isso afeta o rendimento — diz Ana Amélia.
Pelo estudo, as aposentadas com filhos ganham em média R$ 1.229,79 enquanto as que não têm filhos recebem R$ 1.602,20, o que é 30,2% a mais.
— De todas as justificativas históricas para a diferença na idade de se aposentar, a maternidade com baixa oferta de serviço de cuidados permanece — afirma Ana Amélia.
Para ela, se não houver política para conciliar maternidade e carreira, as mulheres terão menos filhos. Hoje, são 1,7 por mulher:
— É preciso aumentar a capacidade contributiva das mulheres. (Cássia Almeida)

O globo, n.30526 , 05/03/2017. Economia, p. 28