Jucá compara-se a vítimas do holocausto e da guilhotina

Vandson Lima e Fabio Murakawa

21/02/2017

 

 

Líder do governo no Congresso Nacional e presidente nacional do PMDB, Romero Jucá (RR) foi à tribuna do Senado e fez um discurso de quase uma hora, no qual atacou a imprensa brasileira, a quem comparou com carrascos que promoveram a caça às bruxas, as mortes nas guilhotinas da Revolução Francesa e a perseguição aos judeus pelos nazistas.

A fala deu-se ao se referir ao episódio, na semana passada, em que o senador apresentou e teve, horas depois, de retirar de tramitação uma PEC que blindava presidentes do Legislativo de investigações durante o mandato.

"Está parecendo que estamos vivendo o período da inquisição, ou a Revolução Francesa. Estão querendo pregar em todos nós a cruz de Israel no peito, como os nazistas pregaram nos judeus que viviam na Alemanha. No passado, a turba fazia linchamentos, hoje quem tenta fazer é a imprensa e setores da sociedade", atacou. "A diferença é que a turba que apontava agora é outra. Quem aponta a guilhotina é a imprensa. Apontam e partem para o estraçalhamento", continuou. Ele citou nominalmente colunistas de grandes jornais que criticaram sua iniciativa.

Jucá garantiu que apresentou a proposta sem ouvir o governo nem os presidentes da Câmara, do Senado ou o aliado Renan Calheiros. E que sua pretensão era reafirmar a independência entre os Poderes. "Quando aconteceu o caso Renan Calheiros [em que um ministro do STF pediu por liminar o afastamento do ex-presidente] pensei: 'O poder congressual pode ser quebrado na sua coluna vertebral, colocado de cócoras? Esta é a estabilidade para o Legislativo que queremos que haja no Brasil?'".

Jucá disse que a retirada de pauta ocorreu após pedido expresso do presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE) por conta da ação da imprensa. Investigado pela Lava-Jato, Jucá disse que "clama" para ser investigado e ter as acusações contra si julgadas rapidamente. "Eu clamo por ser investigado. Façam um mutirão Romero Jucá".

Apesar das muitas críticas recebidas, o senador garante que continuará a pautar questões polêmicas. "Jucá é sinônimo de uma madeira que não quebra e não se enverga. Eu não vou morrer de véspera. Eu não me entrego. Sei o que fiz e o que vou fazer. Vou continuar aqui agindo como sempre agi. Não vou me acovardar", avisou.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4200, 21/02/2017. Política, p. A8.