UAU !!!!

George Vidor 

20/03/2017
 
 
 
Números do emprego melhoraram antes do esperado. Se obras de infraestrutura fossem destravadas, RJ não estaria tão mal

Por essa, ninguém esperava: uma reação mais rápida do mercado de trabalho, a ponto de os números de emprego com carteira assinada aparecem no azul em fevereiro, pela primeira vez após 22 meses consecutivos no vermelho. Além da boa surpresa do setor de serviços, a indústria de transformação está reagindo. Como assinalei na coluna da semana passada, a economia está ainda naquela fase em que alguns segmentos se recuperam enquanto outros continuam a afundar. A construção civil permanece negativa, embora o número já seja positivo quando se observa apenas a edificação de prédios.

Portanto, é um quadro que depende mais da retomada de obras de infraestrutura do que da construção de habitações, que tem dado sinais de vida. Nesse particular há uma situação esdrúxula no Rio de Janeiro. Entre os estados que mais contribuem para a economia brasileira, o RJ foi o único a registrar queda de empregos formais em fevereiro. São Paulo, Minas, Rio Grande do Sul e Paraná já aparecem no azul.

O governo estadual está completamente incapacitado a realizar obras no momento. Na pindaíba, aguarda ajuda federal para conseguir pagar as aposentadorias de 200 mil servidores inativos e pensionistas. A obra do metrô poderia ser retomada de imediato, concluindo-se o trecho da Linha 4 do Leblon até a estação Gávea, mas como depende de recursos públicos, a solução agora terá de vir das mãos de algum mágico. A prefeitura do Rio está naquela fase de enrolação, típica de começo de administração, em que tudo para até que os novos mandatários tomem o pé das coisas. A obra do BRT TransBrasil, ultranecessária, já poderia ter sido retomada. Conta com recursos federais, mas é essencialmente um investimento municipal. Está em volta de uma discussão sobre o sexo dos anjos.

O mais chocante é o impasse diante das obras da nova descida da Serra de Araras, na Via Dutra, e da subida da Serra de Petrópolis (esta parou com cerca de metade do cronograma realizado). O governo deseja relicitar as concessões, cujos contratos terminam em 2021. A opção adotada já permite imaginar que o recomeço dessas obras venha a fazer parte das comemorações do bicentenário da independência do Brasil. Enquanto isso, azar dos usuários de duas das mais importantes rodovias brasileiras. E azar dos que esperam por uma recuperação mais rápida da economia fluminense.

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Sai miami, entre ‘Made in Brazil’

As lojas de Miami devem ter sentido também um baque com a crise da economia brasileira. Seja pela perda de renda e pelo ajuste na cotação do dólar, aquele festival de enxovais de bebê que acontecia em viagens de brasileiros à Flórida diminuiu muito. Tinha gente que viajava para os Estados Unidos só com esse objetivo, tal a variedade de oferta de produtos e preços em dólar favorecidos pela apreciação excessiva do real por longo período.

Mas se as lojas de Miami perderam clientes, ganharam algumas brasileiras especializadas para venda de roupas nessa faixa etária, que geralmente vai até os 6, 7 anos. Foi o caso da “BB Básico”, que cresceu 7% no ano passado, em plena crise da economia. Trata-se de uma rede de 67 lojas, quase todas nas mãos de franqueadas, que foi criada anos atrás por duas sócias. Atualmente é controlada por um fundo, que é dono também da Uncle K, rede de lojas de bolsas e acessórios femininos.

Sérgio Barbosa, que é diretor de criação da BB Básico, atribui o crescimento também a outro fator. Como diz o próprio nome da rede, a marca sempre focou no vestuário básico infantil, mas, por solicitação da clientela, acabou desenvolvendo coleções de verão e inverno mais elaboradas. E essas coleções agora já respondem por 35% do faturamento.

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Haja paciência

Para ajudar os que têm dificuldade de raciocínio (para os que têm cegueira ideológica ou má fé, nada vai adiantar), o governo deveria recorrer a professores de matemática com conhecimentos simples de economia que possam explicar porque a Previdência social é uma bomba relógio e precisa de reforma. Se o montante dos benefícios tende a crescer mais rapidamente que a arrecadação — devido ao fator demográfico, pois há mais gente vivendo cada vez mais, enquanto o número de jovens contribuintes começa a diminuir — o déficit torna-se explosivo. Como o governo não tem de onde tirar dinheiro para cobrir o rombo, se endivida. E como o Brasil não tem um guarda-chuva semelhante ao do euro, que socorreu a Grécia, Espanha, Portugal e Irlanda em momento crítico, sobre a dívida pública brasileira pesam juros altos, que a transformam em bola de neve. Se o processo não for estancado, a música para e não haverá cadeiras para todo mundo sentar. Na prática, a dívida só poderá ser amortizada por meio de inflação, parecida com a dos tempos de antes do real, ou por calote, que afetaria todos os brasileiros que pouparam em fundos de previdência e pensão (iludem-se aqueles que acham que só os bancos ficariam com esse ônus). (...)

O globo, n.30541 , 20/03/2017. Economia, p.18