Vigilância Sanitária do Rio faz inspeção

Pollyanna Brêtas 

Analice Paron

Roberta Scrivano

19/03/2017

 

 

Órgão recolheu cinco lotes de carne para análise. Em São Paulo, executivo da BRF é detido em aeroporto
 

Um dia após a deflagração da Operação Carne Fraca pela Polícia Federal (PF), a Vigilância Sanitária do Rio começou a recolher produtos para análise em supermercados cariocas. Ontem, técnicos do órgão visitaram dois estabelecimentos na cidade. Segundo as investigações da PF, empresários pagavam propina a fiscais do Ministério da Agricultura para liberar carne sem a fiscalização adequada.

Nessa primeira visita, a Vigilância Sanitária recolheu cinco lotes de carne moída e carne embalada a vácuo para análise química. Os resultados devem sair entre cinco e sete dias. Em caso de problemas, serão encaminhados ao governo federal, para que os produtores sejam comunicados.

— Todos os dias, na próxima semana, a Vigilância Sanitária estará em pelo menos três supermercados, observando o armazenamento, a temperatura, além da higiene do manipulador e integridade da embalagem. Estes são itens fundamentais — afirmou Aline Borges, coordenadora técnica de Alimentos da Vigilância Sanitária Municipal.

Para os consumidores, a recomendação é observar as características do produto, especialmente os fracionados e reembalados pelo estabelecimento.

— Se comprar a carne e, na hora de abrir a embalagem, encontrar uma característica suspeita, a orientação é entrar em contato com o número 1746, da Prefeitura do Rio, para coleta do lote e para a verificação do problema — explicou Aline Borges.

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CONSUMIDORES CAUTELOSOS

Quem estava nos supermercados ontem mostrava cautela. A aposentada Selma Ferreira Cardoso, de 67 anos, faz compras todos os sábados e, um dia depois da operação Carne Fraca, recebeu do filho a missão de escolher as melhores peças para um churrasco que seria oferecido aos amigos.

— Vou levar um coração da alcatra maturada, que é um produto que sempre comprei e nunca apresentou problemas. Confesso que comprei, mas não sei se terei coragem de comer. Esses embutidos eu tenho pavor e também não compro mais salsicha, mesmo antes da operação — contou.

Ontem, em São Paulo, agentes da PF prenderam no aeroporto de Guarulhos Roney Nogueira dos Santos, diretor de Relações Institucionais da BRF — uma das empresas investigadas, dona das marcas Sadia e Perdigão. Ele teve seu mandado de prisão expedido na sexta-feira, mas estava na África a trabalho. Um dos diálogos grampeados pela Pf mostra que Roney foi o executivo que viabilizou a liberação de carne de frango com salmonela por meio do uso de influência no Ministério da Agricultura.

A BRF disse, por nota, que “está colaborando com as autoridades para o esclarecimento dos fatos”. A companhia reiterou “que cumpre as normas e regulamentos referentes à produção e comercialização de seus produtos, possui rigorosos processos e controles e não compactua com práticas ilícitas”.

Ontem, a companhia divulgou ainda uma nota em que contesta a presença de papelão e da bactéria Salmonella em seus produtos. De acordo com a nota da BRF, houve um equívoco na interpretação do áudio capturado pelos investigadores. A empresa sustenta que o funcionário gravado, ao mencionar o papelão, estava se referindo às embalagens do produto e não ao seu conteúdo. A BRF afirma ainda que esse produto é normalmente embalado em plástico e que, na frase seguinte, o empregado “deixa claro que, caso não obtenha a aprovação para a mudança de embalagem, terá de condenar o produto, ou seja, descartá-lo”. Quanto à bactéria, a fabricante diz que o tipo de Salmonella encontrado em alguns lotes de contêineres para exportação é o Salmonella Saint Paul, que é tolerado pela legislação europeia para carnes in natura “e, portanto, não justificaria a proibição de entrada na Itália”.

O globo, n.30540 , 19/03/2017. Economia, p. 33