Temer: ‘Vale a pena reduzir déficit em R$ 600 bilhões, ou não fazer nada?’

21/04/2017

 

 

Presidente rebate críticas à economia da reforma e minimiza flexibilização do texto

O presidente Michel Temer rebateu, ontem, as críticas de que a reforma da Previdência não vai reduzir suficientemente o déficit do sistema. Inicialmente, a previsão da equipe econômica era que a economia gerada pelas mudanças seria de algo em torno de R$ 800 bilhões. Porém, o número já caiu, até agora, para cerca de R$ 600 bilhões.

— A pergunta que se coloca é a seguinte: vale a pena reduzir um déficit em 600 e tantos bilhões, ou não fazer nada? — questionou Temer.

O presidente também minimizou as articulações para flexibilizar ao máximo pontos no texto do relator, deputado Arthur Maia (PPS-BA), o que fez atrasar o cronograma previsto pelo governo. Segundo o presidente, se houver demora pelo bem da reforma, isso não seria um problema. Ele negou, no entanto, que tenha havido atraso nos planos do governo.

— Não atrasou nada, não. E se atrasar e for para o benefício da reforma... Não há razão para invocar atraso — disse Temer.

Outra preocupação do governo é com a reforma trabalhista. A vitória, na última quarta-feira, da aprovação da urgência para uma tramitação mais rápida do projeto na Câmara foi resultado de uma cobrança expressa de Temer da lealdade dos partidos da base aliada e, ainda, de uma postura menos “afoita” do presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ). A avaliação do Palácio do Planalto é que o mapeamento das insatisfações precisa ser mantido e que agora é fazer a cobrança direta: você é leal ou não?

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MEIRELLES: MERCADO JÁ ESPERAVA

Acionados pelo Planalto, os líderes passaram a enquadrar diretamente os parlamentares “traidores”. As pressões deram resultado: o governo aprovou a urgência um dia depois de ser derrotado na mesma votação. O próximo teste será na terça-feira, na comissão especial da reforma trabalhista, e na quarta-feira, quando ela deverá ser votada em plenário.

Também ontem, em Washington, onde participa da reunião anual de primavera (no Hemisfério Norte) do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou que a reforma da Previdência no tamanho que está é adequada. Segundo ele, o atual impacto da reforma, que equivaleria a redução de custos de R$ 600 bilhões em 10 anos, significa 76% da proposta original enviada pelo governo ao Congresso e que isso é normal em uma reforma democrática.

— Evidentemente que estes são números extremamente imprecisos, estamos falando de uma proposta que não foi aprovada, qualquer mudança pode variar um pouquinho para baixo ou para cima — disse o ministro, acrescentando que essa economia abaixo da proposta original já estava precificada pelo mercado. (Letícia Fernandes, Cristiane Jungblut, Eduardo Barretto e Henrique Gomes Batista)

O globo, n. 30573 , 21/04/2017. Economia, p. 17