Temer pede fim da ‘raivosidade’ no Brasil

Eduardo Barretto e Cristiane Jungblut 

11/05/2017

 

 

Presidente afirma que é preciso ‘pacificar’ o país; Marco Aurélio diz não ser o momento para decretar prisão

-BRASÍLIA- No dia em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prestou depoimento pela primeira vez ao juiz Sergio Moro na Operação Lava-Jato, o presidente Michel Temer pediu o fim da “raivosidade”. Temer ressaltou a “cordialidade” do brasileiro e condenou agressões.

— Precisamos também pacificar o país. Nós precisamos ter mais tranquilidade no país. O país não pode ficar nessa posição de embate permanente, brasileiro contra brasileiro. Ao contrário, a regra geral, conhecida nacional e internacionalmente, é exata e precisamente a cordialidade entre os brasileiros. É claro que há disputas as mais variadas. Mas jamais agressões de natureza verbal e muito menos de natureza física — declarou Temer a ministros e parlamentares, pedindo que eles levassem a mensagem adiante. Como de praxe, o peemedebista não citou nomes de Lula ou opositores.

— É preciso eliminar uma certa raivosidade, que muitas vezes permeia a consciência nacional. Nós precisamos ter paz, ter tranquilidade, e saber que nada vai impedir que o Brasil continue a trabalhar. É por isso que estamos aqui hoje trabalhando e assinando esse decreto — emendou.

BANCADA DO PT NA CÂMARA É DESCONTADA

Temer tomou café com parlamentares aliados de São Paulo e assinou decreto de regularização portuária. Depois, inaugurou uma exposição no próprio Palácio do Planalto. No discurso de abertura, voltou a exaltar a “cordialidade” nacional, defendendo a solidariedade como marca da História do Brasil.

— Procurou-se sempre uma pacificação, uma cordialidade extraordinária entre todos os brasileiros. Ou seja, sem embargo de uma ou outra divergência que se verificasse ao longo do tempo, a História brasileira sempre nos revela essa tentativa de união, de aliança, de solidariedade, uma fraternidade entre todos os brasileiros — declarou.

Ao comentar a ação penal na qual o ex-presidente Lula é réu e prestou depoimento ontem, o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse que este não é o momento para decretar prisão. Segundo ele, é preciso respeitar a ordem natural do processo: primeiro há uma condenação que justifique o cumprimento da pena, e só depois a prisão.

— Temos que parar com essa mania de inverter a ordem natural do processo crime — disse Marco Aurélio, acrescentando: — O que deveria ser a exceção, a prisão provisória, preventiva, processual, passou a ser regra. Só se for reincidente, se tiver periculosidade, se houver ato concreto tentando embaralhar a instrução.

Ontem, mais da metade da bancada do PT na Câmara esteve ausente da discussão do projeto de socorro a estados endividados e levará falta na sessão. As bancadas do PT na Câmara e no Senado foram em caravana para Curitiba, em apoio ao ex-presidente Lula durante seu depoimento a Moro. Do total de 59 deputados da bancada, apenas 25 registraram presença na votação: sete votaram contra o governo e 18 declararam estar em obstrução. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), avisou que a sessão terá efeito administrativo, ou seja, quem faltar será descontado.

Entre os presentes, coube ao deputado Pepe Vargas (PT-RS) falar em nome do partido. O líder do partido na Câmara, Carlos Zarattini (SP), foi a Curitiba. No Senado, o cenário foi o mesmo. A líder do PT na Casa, Gleisi Hofmann (PR), estava ao lado de Lula na capital paranaense.

 

O globo, n. 30593, 11/05/2017. País, p. 8