Nem a Justiça e nem o MPF tinham conhecimento da movimentação. O procurador da República Rodrigo Timóteo pediu que o banco fosse acionado para explicar o que aconteceu e quem solicitou e liberou o resgate. Ele disse que será investigado se houve uma quebra, por parte de Adriana, de uma decisão da Justiça, uma vez que ela teve investimentos bloqueados. Caso isso seja constatado, o MPF pode pedir a volta de Adriana para a cadeia. A mulher do ex-governador Sérgio Cabral foi presa em dezembro do ano passado e foi levada para Bangu 8, mas, desde março deste ano, está em prisão domiciliar.

— Vamos solicitar informação ao Itaú, o banco vai esclarecer para nós como tomou essa decisão, quem deu essa ordem e, a partir disso, vamos ter que decidir a respeito. Pode ser que tenha uma quebra a uma ordem judicial de bloqueio e, se houve esse desrespeito, vamos tomar as providências necessárias para tentar resgatar o dinheiro, ver para quem foi. Isso precisa ser investigado — afirmou o procurador. — Vamos analisar, mas pode ser que seja solicitado o regresso dela (para a prisão) — completou.

Adriana disse no depoimento que o dinheiro foi resgatado e enviado para sua conta pessoal. Depois, foi usado para pagar honorários advocatícios, dívidas com funcionários e outras despesas. Agora, diz ela, todo o dinheiro já foi retirado da conta.

— O meu gerente disse que não estavam sujeitas a bloqueio as previdências dos meus filhos. No primeiro momento, eu precisava me manter. Não tenho dinheiro em qualquer outro lugar, baixei a aplicação da previdência do meu filho, esse valor entrou na minha conta. (A previdência) estava no meu nome, e eles eram os beneficiários — afirmou Adriana. — Isso (o resgate) foi solicitado pela minha secretária. Só tinha ela para realizar os pagamentos. Eu estava presa.

Durante o depoimento, Adriana disse que as joias apreendidas em sua casa foram compradas por ela com dinheiro lícito ou foram presentes de seu marido, Sérgio Cabral, que está preso desde novembro do ano passado. No depoimento, a ex-primeira-dama reconheceu que, em 2009, ganhou um anel do empreiteiro Fernando Cavendish, que, à época, tinha diversos contratos com o governo do estado. Adriana disse não saber o valor da joia, que custou aproximadamente R$ 800 mil:

— Ali, naquela situação específica, recebi o presente do Cavendish, que era um amigo. Na situação, não era um empreiteiro, mas um amigo.

A ex-primeira-dama afirmou ainda que nunca recebeu dinheiro em seu escritório.

— A mim, nunca foi entregue nenhum centavo — declarou Adriana.

Ex-auxiliar de Adriana, Michelle Tomaz Pinto trabalhou no escritório como assistente administrativa e secretária executiva de 2005 a 2015, quando foi demitida. Em depoimentos ao MPF, ela contou que Luiz Carlos Bezerra — apontado pelos procuradores como operador financeiro de Cabral — ia ao escritório de Adriana Ancelmo para efetuar entregas de quantias entre R$ 200 mil e R$ 300 mil em espécie. Michelle, conforme O GLOBO já havia revelado, contou que o dinheiro era usado para pagar funcionários e contas pessoais de Adriana.

A ex-funcionária de Adriana acrescentou que participou da contagem dos valores, que chegavam em uma mochila, junto com Thiago Aragão, ex-sócio de Adriana, que foi preso durante a Operação Eficiência.

ADRIANA DIZ ESTAR “TRANQUILA”

No depoimento a Bretas, Adriana afirmou que Bezerra ia ao escritório para buscar planilhas de itens usados para a decoração de um imóvel que deveriam ser pagos.

— Houve outros motivos para a ida dele (Bezerra) ao escritório, jamais para me entregar valores em espécie — disse Adriana.

A ex-primeira-dama disse a Bretas estar tranquila porque nenhum delator poderia mencionar qualquer tratativa de pagamentos ilícitos ao seu escritório de advocacia:

— Quero esclarecer que, embora esteja sendo discutida aqui a contratação do meu escritório, fico tranquila de que nenhum empresário, nenhum delator, nenhum operador, nenhuma pessoa poderá mencionar qualquer tratativa de recebimentos de pagamentos ilícitos, seja essa pessoa quem for. Jamais contribuí com qualquer atividade supostamente ilícita em todos esses processos.

A ex-primeira-dama é ré no processo da Calicute, a que Cabral também responde, acusada de usar seu escritório para lavar dinheiro.