Moro ‘cumpre papel importante’, diz Lula

Elisa Clavery

08/04/2017

 

 

Petista, que será interrogado pelo juiz da Lava Jato em maio, afirma ainda estar ‘ansioso’ para ‘saber qual é a acusação e a prova’ que há contra ele

 

 

 

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem estar “ansioso” para depor ao juiz Sérgio Moro, no dia 3 de maio, em Curitiba. “É a primeira oportunidade que vou ter de saber qual é a acusação e a prova que tem contra mim”, afirmou o petista em entrevista à rádio O Povo, do Ceará.

Lula declarou ainda que o magistrado, que conduz a Operação Lava Jato na primeira instância, “cumpre um papel importante na história do País”.

“A única coisa que eu condeno nisso tudo é utilizar a imprensa para condenar as pessoas previamente, antes de haver provas”, afirmou o ex-presidente.

O interrogatório do petista é relativo ao processo em que ele é réu por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Segundo denúncia do Ministério Público Federal, Lula recebeu R$ 3,7 milhões em benefício próprio da OAS. O ex-presidente nega. Entidades como CUT e movimentos como a Frente Brasil Popular estão mobilizando militantes para um ato em Curitiba no dia do depoimento do petista.

“A única coisa que ouvi até agora é ‘não esperem prova, tenho convicção’. As pessoas não podem dizer que têm convicção, é preciso mostrar’, disse Lula, em referência à declaração atribuída ao procurador da República Deltan Dallagnol, no dia da apresentação da denúncia.

Sem citar nomes, Lula também criticou a atuação de alguns juízes. “Eu vejo juiz dando declaração na televisão fora dos autos do processo. As pessoas que querem emitir opinião sobre política deveriam deixar um cargo vitalício e entrar num partido político”, declarou.

Sobre o julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que pode levar à cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, Lula definiu o caso como “uma confusão política desnecessária”.

“Você tentar, nessa altura do campeonato, cassar a Dilma que já foi cassada? A desgraça que tinha de ser feita contra Dilma eles já fizeram, que foi inventar uma mentira da pedalada.”

Doria. Questionado sobre recentes declarações do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), que o chamou de “cara de pau”, Lula respondeu: “Aprendi quando um político quer ter dois minutos de glória”.

“No fundo, no fundo, ele quer que eu o transforme num personagem antagônico que eu não vou transformar.”

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Gilmar: decisão sobre chapa será mais grave do TSE

Cláudia Trevisan/ Rafael Moraes Moura/ Breno Pires/ Fábio Serapião/ Beatriz Bulla

08/04/2017

 

 

A decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre o pedido de cassação da chapa Dilma-Temer será a mais “grave” da história da corte, avaliou ontem o presidente da instituição, Gilmar Mendes, em palestra no Massachusetts Institute of Technology (MIT), em Cambridge, nos Estados Unidos. Gilmar espera que o julgamento seja retomado em maio.

“O tribunal terá de ter noção de suas responsabilidades”, afirmou. Além do potencial impacto da decisão, o caso é importante por revelar como foram financiadas as campanhas eleitorais no Brasil, em especial a de 2014, disse Gilmar. O ministro não quis estimar um prazo para conclusão do julgamento.

Depoimentos. Relator do caso no TSE, o ministro Herman Benjamin marcou para o dia 17 deste mês os depoimentos do marqueteiro João Santana, da empresária Mônica Moura e de André Santana, funcionário do casal. O pedido para que eles fossem ouvidos pelo TSE veio do vice-procurador-geral eleitoral, Nicolao Dino.

O marqueteiro foi responsável pelas campanhas de Dilma à Presidência, em 2010 e 2014. Os depoimentos vão ocorrer no Tribunal Regional Eleitoral da Bahia (TRE-BA). Até agora, já foram ouvidas 52 testemunhas, entre elas dez ex-executivos da Odebrecht.

Os depoimentos de ex-diretores da Odebrecht mostram que as delações premiadas de João Santana e Mônica Moura devem revelar detalhes do caixa dois em campanhas do Brasil e no exterior realizadas de 2008 a 2014.

Em fevereiro, João Santana e Mônica Moura foram condenados pelo juiz federal Sérgio Moro por crime de lavagem de dinheiro no esquema de corrupção instalado na Petrobrás. Ambos foram condenados a oito anos e quatro meses de prisão. 

 

Acesso

A defesa da ex-presidente Dilma Rousseff pediu ao TSE acesso às delações premiadas de João Santana e Mônica Moura, marcadas para o dia 17. Caberá ao ministro Herman Benjamin decidir.

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45098, 08/04/2017. Política, p. A7.