Valor econômico, v. 17, n. 4243, 27/04/2017. Política, p. A7

Lula se diz aberto a conversa com FHC sobre reforma política

 

Cristiane Agostine

 

Alvo das investigações da Operação Lava-Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que tem condições jurídicas de ser candidato à Presidência em 2018 e reafirmou seu desejo de disputar novamente o cargo. Em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, do SBT, Lula afirmou que não teme a delação do ex-ministro Antonio Palocci e disse que não pretende fazer um "acordo de sobrevivência" na Lava-Jato, em consonância com o presidente Michel Temer e com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O petista disse não ter disposição em dialogar com Temer, mas mostrou-se aberto a conversar com FHC.

Na entrevista, exibida parcialmente na noite de ontem pelo SBT, Lula afirmou que "está com vontade" de prestar depoimento ao juiz Sergio Moro, responsável pela Lava-Jato, para "falar o que pensa, o que fez" e para rebater as acusações contra ele. "Eu não tenho que provar a minha inocência, mas eles têm que provar minha culpabilidade", disse.

O ex-presidente reforçou que não teme ser preso e disse que para isso "é preciso cometer crime, delito grave, gravíssimo". Pouco depois, negou ter cometido irregularidades, como o pedido de recursos ilícitos para campanha eleitoral. Lula desafiou seus acusadores a mostrar "um único empresário" a quem ele "tenha pedido R$ 10 reais" e disse que nunca fez esse tipo de pedido para "não perder a moral" nas relações com empresários. O petista citou o empresário Emilio Odebrecht e negou ter pedido recursos. "Se conversa [sobre doação de recursos] cria relação de promiscuidade e presidente não pode ter relação promíscua".

Lula criticou as delações premiadas e disse os acusados têm sido pressionados a vincular seu nome a atos de corrupção. "Todo mundo que foi preso tem como condição 'sine qua non' citar meu nome", disse. Como exemplo, citou o ex-presidente da OAS Leo Pinheiro e disse que o empresário "vem sendo pressionado há dois anos" a acusá-lo. Lula disse ainda que os detidos estão sendo torturados psicologicamente e afirmou que Marcelo Odebrecht tem sido "coagido todos os dias" a acusá-lo. "Estou cansado de brincadeira com meu nome, de achincalhamento. Isso tem que parar". Na sequência, disse que Palocci "enquanto não falar" sobre ele não sairá da prisão. "Eu não tenho nenhuma preocupação com a delação do Palocci".

O ex-presidente atacou também o Ministério Público, que o acusou de ter se beneficiado com um apartamento tríplex no Guarujá reformado pela OAS

Questionado sobre um eventual acordo com Temer e FHC, recusou o pemedebista, mas elogiou o tucano. Lembrou da visita que o ex-presidente fez a ele no hospital, pouco antes da morte de sua esposa, Marisa Letícia. "[Com FHC] tem espaço para conversar sobre reforma política".

Ao falar sobre sua candidatura em 2018, o ex-presidente evitou comentar a eventual candidatura do prefeito paulistano, João Doria (PSDB), e disse que o tucano precisa governar antes de querer disputar.