Serraglio recusa Ministério da Transparência e retoma mandato de deputado

Eduardo Bresciani, Júnia Gama e Cristiane Jungblut 

31/05/2017

 

 

Decisão retira foro privilegiado de deputado flagrado com mala com R$ 500 mil

-BRASÍLIA- Demitido do Ministério da Justiça, Osmar Serraglio decidiu não aceitar o comando do Ministério da Transparência. Na véspera, o deputado disse a aliados ter se sentido “traído” e passou o dia em avaliações com correligionários do PMDB. Após ser informado da decisão de Serraglio e de que seu partido não pretendi indicar ninguém para o posto, o presidente Michel Temer decidiu que o secretário-executivo da pasta, Wagner Rosário, irá administrála interinamente.

Com o retorno de Serraglio à Câmara, o suplente Rocha Loures (PMDB-PR), que é investigado como emissário de Temer em pagamento de propinas da JBS, perde o foro privilegiado. Loures foi flagrado pela Polícia Federal carregando uma mala com R$ 500 mil em propina. Há um temor, no governo, de que Loures faça uma delação premiada complicando ainda mais a vida de Temer junto ao Supremo Tribunal Federal (STF).

SOB FOGO CRUZADO

A ideia inicial de Temer era fazer apenas uma troca na Esplanada, com Serraglio substituindo Torquato Jardim, que era ministro da Transparência e foi indicado para a Justiça. A posse do novo ministro está marcada para a tarde de hoje.

Após adiar a decisão, Serraglio resolveu não aceitar o convite de Temer e retornar ao seu mandato de deputado federal. Segundo interlocutores de Serraglio, ele teria ficado chateado com a forma como a troca foi feita, sem que fosse consultado, e avaliou que ficaria sob fogo cruzado dos funcionários do ministério, que, na segunda-feira, se manifestaram contra sua ida, e permaneceria no foco das investigações da operação Carne Fraca, na qual é citado.

O Planalto ainda estuda alternativas para o comando do Ministério da Transparência, mas a bancada do PMDB na Câmara avisou ontem que não tem interesse no cargo, por se tratar de uma pasta sem contratos com prefeituras, recursos ou “interlocução política”.

Temer ficou irritado com a decisão de Serraglio. O presidente ainda tentou convencêlo, mas o ex-ministro avaliou que estaria com sua carreira acabada no Paraná caso ficasse apenas para manter foro a um investigado da Lava-Jato, cujo centro nervoso fica em seu estado. Segundo integrantes do Palácio do Planalto, Temer desistiu de nomear um outro deputado para manter, indiretamente, o foro de Rocha Loures pois a estratégia seria muito evidente e o governo ficaria exposto.

Alçado a ministro interino da Transparência, Wagner Rosario passou 27 anos de sua vida profissional servindo ao Exército, do qual saiu como capitão. Neste período, se formou em Educação Física e Fisiologia. Em 2009, no entanto, se tornou servidor da Controladoria-Geral da União (CGU) e, em 2015, ingressou em um mestrado em Corrupção e Estado de Direito pela Universidade de Salamanca, na Espanha.

MENSAGEM AOS SERVIDORES

Rosário ocupou por seis anos um cargo na Coordenação de Operações Especiais da CGU, que participa de ações conjuntas com Polícia Federal e Ministério Público Federal, em casos graves de dano ao erário com evidências de corrupção. Por esse motivo, mantém bom trânsito entre as instituições, incluindo a Advocacia-Geral da União.

Ontem, Rosário convocou todos os servidores da Transparência, após protesto ao redor do prédio contra a indicação de Serraglio, para dizer que a pasta é um órgão de Estado e que todos deveriam atuar de acordo com essa diretriz. 

 

O globo, n. 30613, 31/05/2017. País, p. 3