Fala de FH sobre renúncia anima ala jovem do PSDB

Maria Lima 

17/06/2017

 

 

Mas sugestão sobre saída de Temer não deve repercutir na Executiva

A guinada do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que na quinta-feira se reposicionou e passou a defender que o presidente Michel Temer adote um “gesto de grandeza” e antecipe as eleições de 2018, agradou a ala jovem do PSDB, que defende o desembarque do governo. O ex-presidente deseja que a renúncia de Temer leve seu substituto — hoje o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) — a chamar eleições diretas. O movimento, no entanto, não deve repercutir na nova reunião da Executiva Nacional, marcada para o início da próxima semana.
A pauta do encontro deve girar em torno da antecipação de uma convenção nacional a fim de eleger um novo presidente definitivo para o PSDB, que é comandado interinamente pelo senador Tasso Jereissatti desde o afastamento do senador Aécio Neves (MG) em maio.

Os defensores da manutenção do apoio ao governo — majoritários e coordenados pelos governadores e ministros — não quiseram se manifestar sobre a posição de Fernando Henrique.

“NÃO PODEMOS SER COVARDES”

Um dos principais defensores do desembarque na bancada do Senado, Ricardo Ferraço (PSDB-ES), disse que, com 84 anos, FH tem a cabeça “mais preta” do que todos os deputados jovens, apelidados dessa forma em contraponto aos mais antigos, os “cabeças brancas”. Ferraço avalia que a tese de um governo legal, do ponto de vista constitucional, mas com sua legitimidade ferida em razão dos fatos, apresentada por FH, pode estar levando o PSDB ao colapso.

Para o tucano, mesmo que pareça reunir condições para conduzir as mudanças que o Brasil precisa, o governo gasta toda sua energia em sua defesa. O senador diz que a “cooptação vai explodir” em razão da manutenção do mandato “a todo e qualquer custo”.

Mesmo diante da posição majoritária da Executiva, Ferraço afirma que o partido está obrigado a debater a reflexão trazida por Fernando Henrique. Ele argumenta que a deterioração política é grave e coloca em risco a recuperação econômica, agravando o problema social. À medida que prolonga as incertezas e a crise de confiança, a recessão se mantém, avalia.

— O PSDB precisa considerar o alerta feito por Fernando Henrique e agir. Não dá pra continuar optando pela velha política. O cavalo está passando arriado. Não podemos ser covardes diante do desafio que se apresenta. Além disso é urgente eleger presidente de fato, o senador Tasso Jereissatti. Ele está conectado com o pulsar das ruas e não com as benesses do poder — disse Ferraço.

Na mesma linha de Ferraço, o deputado Pedro Cunha Lima (PSDB-PB) aplaudiu a posição de Fernando Henrique, a quem chamou de o cabeça “mais preta” do PSDB hoje. No entanto, Cunha Lima também não acha que as considerações do ex-presidente mudarão a posição do partido sobre a permanência no governo Temer.

— A resposta sincera é não. Mas tenho tentado estimular esse ambiente. Pode ser que mude — disse o deputado Pedro Cunha Lima (PSDB-PB).

— FH sempre (está) na vanguarda. Ele tem a cabeça preta — concordou o deputado Daniel Coelho (PSDB-PE).

“O PSDB precisa considerar o alerta feito por Fernando Henrique e agir. Não dá pra continuar optando pela velha política” Ricardo Ferraço Senador

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Dória e a opção do ‘ruim’ em vez do ‘péssimo’

17/06/2017

 

 

Para Alckmin, 2018 não pautou PSDB a prosseguir no governo

“Se fosse para pensar em eleição, esse é o argumento de muita gente (referindo-se aos cabeças pretas) para sair, porque a popularidade está muito ruim.” Geraldo Alckmin Governador de São Paulo

Oprefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), considerou “ruim” o governo do presidente Michel Temer (PMDB) em uma entrevista divulgada ontem pela BBC Brasil. Ele voltou a defender a decisão do PSDB de manter o apoio ao peemedebista e disse que, às vezes, é preciso escolher entre o “ruim e o péssimo”.

— É a velha política (governo Temer). E é ruim. Você tem razão. Mas há certos momentos na vida em que você tem que fazer a avaliação sobre o ruim e o péssimo. Entre o ruim e o péssimo, o ruim é melhor que o péssimo — declarou.

Embora tenha afirmado que o próximo presidente do Brasil deveria ser “um inovador, um gestor”, o prefeito não deu uma resposta direta sobre uma possível candidatura dele em 2018.

— Estou correndo, agindo para ser um bom prefeito da cidade de São Paulo. Eu fui eleito para ser prefeito por quatro anos. Não é hora de se discutir uma eleição presidencial. É hora de ajudar a resolver a crise brasileira. E cada administrador cumprindo o seu papel. Eu como prefeito, outros como governadores e assim por diante. Temos que pensar em eleição em janeiro do ano que vem. Aí, quem sabe.

Outro candidato à vaga de presidenciável tucano, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, disse em entrevista ao “Estado de S.Paulo” publicada ontem que, se o PSDB tivesse pautado sua decisão sobre o futuro do partido na gestão Temer nas eleições do ano que vem, a sigla teria anunciado o desembarque.

— Se fosse para pensar em eleição, esse é o argumento de muita gente (referindo-se aos cabeças pretas) para sair, porque a popularidade está muito ruim. Mas temos de agir com espírito público e ele nos orienta a esperar para terminar a reforma trabalhista, concluí-la até a sanção presidencial. A reforma previdenciária é mais difícil porque é emenda constitucional, mas vamos ajudá-la porque é importante para o País, e a reforma política, que tem de ser feita até setembro, um ano antes da eleição do ano que vem.

Doria defendeu que o PSDB deve se reunir para discutir a situação de Aécio Neves, presidente afastado do partido. Segundo o prefeito, a decisão de expulsálo ou não da sigla deve levar em consideração o que for melhor para o partido.

— Entendo que o diretório deve se posiciona, como também entendo que o senador deve ter direito à plena defesa.

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Justiça da Espanha autoriza extradição de operador da Odebrecht

17/06/2017

 

 

Rodrigo Tacla Duran foi preso em Madri na 36ª fase da Lava-Jato

A Justiça da Espanha autorizou a extradição do advogado Rodrigo Tacla Duran, que foi alvo da 36ª fase da Operação LavaJato, denominada “Dragão”, em novembro do ano passado. Duran foi preso em Madri no dia 18 de novembro sob a acusação de integrar o Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, que ficou conhecido como o “departamento da propina”. A decisão ainda vai ser avaliada pelo governo espanhol.

O advogado é suspeito ter operado várias contas no exterior e faturado R$ 61 milhões entre 2011 e 2013. Ele é investigado por operações de lavagem de dinheiro no escândalo de corrupção na Petrobras.

Duran foi denunciado pelo força-tarefa da Lava-Jato em abril, mas não se tornou réu por decisão do juiz Sergio Moro. O magistrado avaliou que, por estar no exterior, sua imputação adiaria o processo contra os outros acusados no Brasil.

FUGA PARA OS EUA

Como tem dupla nacionalidade — brasileira e espanhola —, Duran recorreu à Justiça da Espanha para continuar no país. Ele chegou a conseguir liberdade provisória em fevereiro e fugiu para os Estados Unidos em abril.

Às autoridades, alegou que corria risco de vida se fosse preso no Brasil. Agora, os magistrados que autorizaram a extradição afirmaram, no despacho, que não há provas dessas ameaças.

Os juízes espanhóis rejeitaram também o argumento de dupla nacionalidade, argumentando que Duran não “construiu” sua vida na Espanha, mas sim no Brasil. Na decisão, destacaram ainda o princípio de reciprocidade, ou seja, o Brasil também terá que extraditar, no prazo de três meses, algum investigado na Espanha que tenha dupla nacionalidade, assim como o advogado. No entanto, este dispositivo vai contra o artigo 5º da Constituição brasileira.

Duran foi detido em um hotel de Madri e identificado pelas autoridades espanholas com as iniciais R.T.D. Advogado da empreiteira Odebrecht, ele foi citado pela Guarda Civil espanhola como “responsável pelo pagamento de comissões como contrapartida à concessão de contratos de obras públicas e privadas, tanto no Brasil como no exterior”.

 

O globo, n. 30630, 17/06/2017. País, p. 6