Presidenciáveis ensaiam discurso ético para 2018

Bernardo Gonzaga

16/04/2017

 

 

Marina, Bolsonaro e Ciro, três pré-candidatos que ficaram de fora da lista de Fachin, atacam investigados e criticam o Congresso Nacional

 

 

Os três presidenciáveis que ficaram de fora da “lista de Fachin” já ensaiam um discurso ético para as eleições de 2018. Ciro Gomes (PDT-CE), Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e Marina Silva (Rede-AC) avaliam que a lista de pessoas citadas não surpreende e criticam os investigados pela Lava Jato.

A ex-ministra do Meio Ambiente no governo Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou para atacar a gestão Michel Temer, o Congresso Nacional e o PT, para o qual, segundo ela, “o poder de partido falou mais alto do que o poder de nação”.

Marina ressaltou que “não é o momento para discutir nomes de quem está ou não na lista, mas, sim, de pensar como o Brasil vai fazer essa travessia para uma sociedade melhor, de como mudar um Congresso que está lá graças ao caixa 2 e à corrupção”.

A ex-ministra disse ainda que “a eleição de 2014 foi uma fraude por causa do abuso de poder econômico”. Questionada sobre como fazer uma campanha sem se relacionar com a corrupção, ela afirmou que as campanhas podem ser diferenciadas e não precisam ser do jeito que estão. “Esse modelo de política não funciona. O poder concentra o poder nele mesmo”, disse.

Já Bolsonaro afirmou que esperava os nomes que estão na lista. Disse que, “quando o Poder Executivo vai ao Congresso, é para comprar voto”. Quanto às eleições de 2018, o deputado afirmou que, “se o povo reeleger o atual Congresso, ele merece o poder que tem”.

O deputado afirmou que, se eleito, não vai lotear o governo em troca de governabilidade. Perguntado se isso não traria caos ao Planalto, Bolsonaro disse que “caos é o atual governo”.

Risco. Ex-ministro de Itamar Franco e também de Lula, Ciro Gomes atacou a generalização que a divulgação dos investigados no STF causa na sociedade. “A pena política não pode ser a mesma de alguém que recebeu R$ 50 mil com recibo e de outro que vendeu uma medida provisória”, afirmou. Segundo ele, “o pior dos mundos é incitar a opinião pública, o que coloca em risco a democracia”.

O pré-candidato do PDT ainda criticou os outros dois que estão fora da lista de Fachin. “Olha o moralismo da Marina, do Bolsonaro!” Quando questionado quem seria seu maior adversário em uma corrida presidencial, o cearense respondeu: “Se o debate for inteligente sobre qual a solução do Brasil, eu reino!”.

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‘Outsiders podem acabar logrando êxito’

Julianna Granjeia

16/04/2017

 

 

A análise do cenário pós-lista de Fachin não é animadora para o professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Marcus Melo. Ao menos não a curto prazo. Para 2018, ele diz acreditar que não há tempo para grandes mudanças. Melo, porém, afirma que a Lava Jato se tornou ferramenta de modernização e fortalecimento da democracia brasileira. Porém, só a médio e longo prazo.

 

Como a lista de Fachin pode influenciar as eleições de 2018?

O diabo está nos detalhes, e o detalhe, nesse caso, é o timing. E o timing é claramente pró-status quo, de manutenção da classe política.

 

Com a impossibilidade de julgamento de todos os inquéritos, a tendência, então, é a manutenção dos investigados no poder?

Muito provavelmente não haverá nenhum desenlace a ponto de, por exemplo, impugnar candidaturas. Mas isso não significa que não tenha um custo. Não é novidade que parte do Congresso estava sendo investigada. O custo na reputação é grande.

 

O que se pode analisar agora sobre as eleições de 2018, sem grandes mudanças no sistema?

Tem duas coisas que têm sido ditas que me parecem ignorar aspectos relevantes. Uma é que, nesse contexto em que todos são afetados negativamente, a chance de uma candidatura extrema se eleva. Acho que a chance de um (Jair) Bolsonaro (PSC-RJ), por exemplo, são reduzidas para candidaturas majoritárias. Há um exagero descabível. Outra coisa é a ideia de que as reformas se tornaram totalmente inviáveis. A Lava Jato produziu certa coesão na base porque os deputados passaram a ver sua sobrevivência na vida parlamentar ligada ao sucesso da economia. Em 2018, se a economia estiver bem, esses candidatos terão chance de reeleição e isso garantirá o foro.

 

Há também uma rejeição à classe política hoje.

Sim, o que pode haver são candidaturas que, se antigamente não eram muito viáveis, agora ganham mais visibilidade, como Marina Silva (Rede) e João Doria (PSDB). Alguns outsiders podem acabar logrando.

 

E o que esperar?

A médio, longo prazo, o que vamos observar é o fortalecimento da democracia. Esse processo tem custos no curto prazo, mas ao cabo é bom. O que estamos observando agora é uma modernização da democracia. É tortuoso, é sujo, com idas e vindas, mas é assim que ocorre uma mudança institucional. A curto prazo, o cenário não é animador.

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45106, 16/04/2017. Política, p. A5.