Ministro se diz ‘mais que constrangido’

Célia Froufe

20/04/2017

 

 

A DELAÇÃO DA ODEBRECHT / Bruno Araújo afirma que seu caso é ‘questão mais política que jurídica’; ele pediu ao STF para separar da Lava Jato inquérito que o investiga

 

 

O ministro das Cidades, Bruno Araújo (PSDB-PE), afirmou ontem que se sente “constrangido” por constar na lista de investigados do Supremo Tribunal Federal (STF) baseada em delações da Odebrecht. “Quem tem vergonha na cara tem que se constranger”, disse ele durante um evento em Lisboa.

O ministro afirmou ainda que se “surpreende” com a reação de outras pessoas que estão na mesma situação que ele. “Quem aparece (na lista) acha que as investigações são naturais, que fazem parte das instituições democráticas. Eu estou mais do que constrangido. Diferente disso, é não saber o que isso significa”, declarou.

Araújo afirmou que a petição feita ao Supremo para que o inquérito contra ele – que investiga o suposto recebimento de recursos da Odebrecht por meio de caixa 2 – seja separado dos processos da Lava Jato teve como objetivo deixar claro que, no seu caso, as apurações não têm relação com a operação.

“A questão é mais política que jurídica. Politicamente, é muito importante nos distanciar do tema Lava Jato”, afirmou o ministro, que está em Portugal para participar do segundo dia do 5.º Seminário Luso- Brasileiro de Direito, promovido pela Escola de Direito de Brasília do Instituto Brasiliense de Direito Público (EDB/IDP) e pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (Fdul).

 

‘Aposta’. O atual ministro das Cidades recebeu R$ 600 mil não contabilizados da Odebrecht porque era uma “aposta” da empreiteira, disse em delação o ex-executivo João Pacífico. “Bruno Araújo é um político jovem, foi deputado estadual, hoje é deputado federal. Eu conheço ele desde quando ele era adolescente.

Tenho relações com a família dele, conheço o pai, irmãos”, disse o delator.

“Isso (o repasse) era em função da relação e também de uma aposta que nós fazíamos de que ele viria a ser um político de destaque. Tanto que ele foi. Hoje é ministro de Estado”, afirmou Pacífico em depoimento.

O ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo, autorizou a Polícia Federal a levantar as obras da Odebrecht “no local de origem” do ministro. A determinação de Fachin alcança ainda todas as emendas parlamentares propostas pelo tucano, no período em que ele estava na Câmara.

Araújo será investigado na Corte pelos crimes de corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro. Araúj o afirmou que todas as s u a s emendas parlamentares do período de 2008 a 2016 estarão em um site para consulta popular. “Todas as nossas obras são pequenas. Não me parece crível que a Odebrecht vá fazer obras de calçamento de R$ 200 mil no município do semiárido, mas esse juízo de valor não quero fazer”, disse.

 

Desembargador. Também convidado do evento em Lisboa, o desembargador federal e relator da Lava Jato no Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), João Pedro Gebran Neto, comentou a crise. “A crise brasileira hoje não é econômica, é ética, e, se não chegamos ao fundo do poço, chegamos a um momento de autorreflexão”, afirmou.

Gebran demonstrou preocupação sobre a aprovação de leis que possam interferir no rumo de investigações. “Em três anos, fizemos no TRF julgamento de 650 recursos decorrentes da Lava Jato. Sua dimensão é amazônica e é absolutamente natural que, dentro de um megaprocesso, haja processados, condenados, investigados com as mais diferentes reações. Reações desde defesa técnica até mudanças legislativas.”

 

Citado. Delator diz que Araújo recebeu valor via caixa 2

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Lula é o presidenciável com maior potencial de votos, afirma Ibope

José Roberto de Toledo e Daniel Bramatti

20/04/2017

 

 

Já o índice dos três principais tucanos teve queda; levantamento foi feito antes de vir a público a lista de Fachin

 

 

Pesquisa inédita do Ibope mostra que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a ser o presidenciável com maior potencial de voto entre nove nomes testados pelo instituto. Pela primeira vez desde 2015, os eleitores que dizem que votariam nele com certeza (30%) ou que poderiam votar (17%) se equivalem aos que não votariam de jeito nenhum (51%), considerada a margem de erro.

Desde o impeachment de Dilma Rousseff, há um ano, a rejeição a Lula caiu 14 pontos.

A pesquisa foi feita antes de vir a público a lista do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), com as delações de executivos da Odebrecht que acusaram o ex-presidente de corrupção, junto com dezenas de outros políticos. Se a divulgação das denúncias prejudicou a imagem de Lula (e de outros denunciados), não houve tempo de isso ser captado pelo Ibope.

Os três principais nomes do PSDB, por sua vez, viram seu potencial de voto diminuir ao longo do último ano e meio. Desde outubro de 2015, a soma dos que votariam com certeza ou poderiam votar no senador Aécio Neves (PSDB-MG) despencou de 41% para 22%. O potencial do senador José Serra (PSDB-SP) caiu de 32% para 25%, e o do governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) foi de 29% para 22%. Os três tucanos aparecem na pesquisa com taxas de rejeição superiores à de Lula: 62%, 58% e 54%, respectivamente.

O Ibope testou pela primeira vez o potencial do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), em uma eleição para presidente.

Embora seja muito menos conhecido do que seus colegas de PSDB (44% de desconhecimento, contra 24% de Alckmin e 16% de Serra e Aécio), Doria já tem 24% de eleitores potenciais (metade votaria com certeza), ou seja, tanto quanto os outros tucanos, levando-se em conta a margem de erro. Mas sua vantagem é ter uma rejeição muito menor que a dos concorrentes dentro do partido: 32%.

Assim como os nomes tradicionais do PSDB, a ex-ministra Marina Silva (Rede) sofreu redução de potencial de voto e aumento da rejeição. Agora, um terço dos eleitores a indicam como possível opção – eram 39% há um ano.

 

Método. Entre os dias 7 e 11 de abril, o Ibope realizou 2.002 entrevistas face a face, em 143 municípios de todas as regiões do Brasil. A margem de erro é de dois pontos porcentuais, para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%. As perguntas eleitorais fizeram parte da pesquisa que o instituto conduz mensalmente com questionário variável, o chamado BUS.

Na pesquisa de potencial de voto, o entrevistador apresenta um nome de cada vez e pede ao eleitor que escolha qual frase descreve melhor sua opinião sobre aquela pessoa: se votaria nela com certeza, se poderia votar, se não votaria de jeito nenhum, ou se não a conhece o suficiente para opinar. É diferente da intenção de voto.

 

1ª vez. Instituto testou potencial do prefeito João Doria

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45110, 20/04/2017. Política, p. A9.