COM 5%, TEMER TEM A PIOR TAXA DE APROVAÇÃO DESDE A DITADURA

EDUARDO BARRETTO

 CRISTIANE JUNGBLUT

28/07/2017

 

 

Presidente ultrapassa Sarney e atinge nível recorde de impopularidade

 

Com a pior taxa de aprovação desde o fim da ditadura, o governo do presidente Michel Temer é avaliado como ótimo ou bom por apenas 5% dos brasileiros, uma queda de cinco pontos percentuais em relação à pesquisa feita em março. O índice de rejeição a Temer — os que consideram o governo ruim ou péssimo — é de 70%. Para 21%, o governo é regular. E 3% não souberam avaliar ou não responderam. Os dados divulgados ontem são da pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com o Ibope.

A série histórica foi iniciada com a redemocratização, em levantamento de março de 1986 com o ex-presidente José Sarney. Com os resultados desta semana, Temer atinge um nível recorde de impopularidade nesses 31 anos. Até agora, o pior índice era de Sarney, cujo governo, em 1989, chegou a ser considerado ótimo e bom por apenas 7%. O segundo lugar era da expresidente Dilma Rousseff, que atingiu 9% em 2015.

No último levantamento, feito em 31 de março, 10% avaliaram o governo como ótimo ou bom; 31%, regular; 55%, ruim ou péssimo; e 4% não souberam ou não responderam. Antes dessa pesquisa, em dezembro de 2016, Michel Temer era aprovado por 13% dos entrevistados, enquanto 46% consideravam o governo ruim ou péssimo, e 35%, regular. Outros 6% não souberam opinar ou não responderam.

De acordo com a pesquisa divulgada ontem, 83% dos entrevistados desaprovam a maneira como o peemedebista governa, enquanto 11% aprovam e 5% não responderam. Já a confiança no presidente da República é de 10%, ante 87% de desconfiança; 3% não responderam.

Na comparação com o governo Dilma Rousseff, 52% acham Temer pior. Para 35%, é igual, e 11% acham a gestão Temer melhor do que a da antecessora, da qual foi vice-presidente. As perspectivas para o restante do mandato são ruins ou péssimas para 65%, regulares para 22% e ótimas ou boas para 9%.

O jeito de Temer governar é mais desaprovado nas capitais (86%) do que no interior (69%). Já analisando a renda familiar dos entrevistados, os que têm ganhos acima de cinco salários mínimos foram mais simpáticos ao presidente: 22% de aprovação da maneira de governar. Se em famílias com renda mensal de até cinco salários mínimos, 66% acham o governo Temer ruim ou péssimo, nas famílias com rendimento de até dois salários a taxa sobre para 72%.

A pesquisa CNI/Ibope foi feita entre os dias 13 e 16 deste mês — antes, portanto, do aumento dos impostos sobre combustíveis —, com 2 mil pessoas em 125 municípios brasileiros, e tem margem de erro de dois pontos percentuais.

 

MARUN: “NÃO BUSCAMOS POPULARIDADE IMEDIATA”

O presidente e aliados avaliam que o resultado ruim na pesquisa Ibope/CNI era esperado, mas eles reforçam ter a “fidelidade” da base neste momento para derrubar a denúncia de corrupção passiva contra Temer. O presidente quer o maior número de votos justamente para mostrar que o governo tem força e condições de tocar a agenda no Congresso. Aliados dizem que a derrubada da denúncia é certa, porque a oposição admite não ter 342 votos para aprovar a abertura de processo.

Segundo um dos interlocutores, o comportamento da bancada do Rio ainda é uma incógnita, mesmo com o gesto de liberar recursos para o carnaval em meio à crise fiscal. Há temores de que os parlamentares oscilem entre ficar com Temer e mostrar apoio tanto a Sergio Zveiter (PMDB-RJ), que teve seu parecer a favor da denúncia derrotado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, quanto ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que é o primeiro na linha sucessória de Temer.

Integrante da tropa de choque de Temer, o deputado Carlos Marun (PMDB-MS) disse que um resultado negativo em pesquisas de opinião era esperado porque o governo Temer está “tendo a coragem” de tomar medidas impopulares, como a aprovação da reforma trabalhista e a discussão da reforma da Previdência. Marun disse que o governo Temer está sofrendo com notícias negativas:

— É natural que a popularidade esteja baixa depois de 60 dias de carga negativa da mídia. Mas o interessante é que existe o descontentamento, mas não o repúdio ao governo do presidente. Não estamos buscando popularidade imediata.

O Planalto quer manter um quartel-general até o dia da votação. Na próxima segunda-feira, todos os líderes aliados estarão em Brasília para uma reunião que definirá a estratégia.

— Temos a confiança de que ganhamos a parada — disse o deputado Nelson Marquezelli (PTB-PR), um dos mais próximos a Temer.

 

 

O globo, n.30671 , 28/07/2017. PAÍS, p. 6