Governo negocia Refis para ruralistas

Adriana Fernandes / Igor Gadelha / Idiana Tomazelli

04/05/2017

 

 

Acordo com bancada ruralista, que tem 100 parlamentares, é importante para reformas

 

 

Na corrida para garantir os 308 votos necessários à aprovação da reforma da Previdência na Câmara, o governo negocia com ruralistas um programa de parcelamento (Refis) de 15 anos para dívidas em atraso da contribuição ao Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural) e acena com novas mudanças na proposta.

Lideranças governistas admitem negociar no plenário flexibilizações nas regras para que os servidores públicos que ingressaram até 2003 tenham direito ao salário integral. Também poderão ser mantidas as regras que já existem hoje para acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), concedido a idosos de baixa renda e pessoas com deficiência.

Os negociadores do governo também estão mapeando pleitos dos deputados, além da articulação na distribuição de cargos.

Apesar das concessões, ainda não garantias de aprovação da reforma da Previdência.

O novo Refis terá desconto de juros e multas, segundo informou um integrante do governo.

Os valores do benefício ainda estão sendo definidos. A expectativa é que até a semana que vem seja editada uma medida provisória (MP) criando o Refis.

Conforme mostrou reportagem do Estado, na semana passada, a negociação de dívida do Funrural virou moeda de troca para aprovação da proposta de reforma da Previdência. A bancada ruralista é uma das mais poderosas no Congresso e conta com cerca de 100 parlamentares somente na Câmara.

Os ruralistas queriam o perdão da dívida do Funrural – um passivo que pode superar R$ 10 bilhões –, mas a equipe econômica não concordou com a remissão dos débitos, alegando riscos de o governo cometer crime de responsabilidade fiscal.

Chegou-se a um acordo de parcelamento por 180 meses.

A discussão sobre a cobrança do Funrural entrou nas negociações da reforma depois que o Supremo Tribunal Federal declarou constitucional a cobrança do fundo do empregador rural pessoa física. O Funrural é, para o setor rural, o equivalente à contribuição à Previdência. O parecer do relator da proposta de reforma da Previdência, deputado Arthur Oliveira Maia (PPS-BA), proíbe a concessão de novos incentivos tributários com contribuições previdenciárias.

 

Cartas. Antes mesmo de concluir ontem a votação da proposta na comissão especial, o governo já admitia nos bastidores que terá de fazer novas concessões para aprovar no plenário da Câmara. O argumento de interlocutores do Executivo no Congresso é de que o governo não poderia ceder em tudo já na comissão, pois precisa ter “cartas na manga” para negociar no plenário.

Negociadores do governo já dão como certo, por exemplo, que terão de ceder e manter em 65 anos a idade para idosos carentes terem acesso ao BPC. A manutenção tem sido cobrada por líderes de influentes partidos da base aliada, como do PSDB, principal aliado do governo Michel Temer.

O líder da sigla na Câmara, deputado Ricardo Tripoli (SP), defende a medida. O BPC é um benefício de um salário mínimo pago a pessoas com deficiência e idosos de baixa renda. Hoje, só pessoas acima de 65 anos têm direito ao benefício. Para isso, precisam comprovar que a renda familiar por pessoa é menor que 1/4 do salário mínimo.

No texto original da reforma, o governo propôs desvincular o valor do benefício do salário mínimo e elevar a idade de acesso de idosos para 70 anos.

A mudança enfrentou resistência tanto de parlamentares da oposição quanto da base e o governo desistiu dela. Em troca, negociou com relator Oliveira Maia o aumento, de 65 anos para 68 anos, da idade mínima.

O governo também já admite que terá de ceder nas regras de aposentadoria dos servidores.

Hoje, funcionários públicos têm direito a se aposentar com salário integral e a ter reajustes reais iguais aos dos que estão na ativa.

 

Relatório. Proposta é ‘carta na manga’ do governo plenário

 

Tamanho do buraco

R$ 10 bi é o valor da dívida do Funrural, que ruralistas queriam que governo perdoasse. Tentativa foi barrada por equipe econômica

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Relatório da reforma trabalhista fica pronto neste mês

Erich Decat / Igor Gadelha / Julia Lindner

04/05/2017

 

 

Escolhido pelo PSDB para ser o relator da reforma trabalhista na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, o senador Ricardo Ferraço (ES), pretende apresentar o texto final da proposta para votação no colegiado ainda este mês. Além da CAE, o projeto deverá passar pela Comissão de Assuntos Sociais (CAS) antes de ser encaminhado para votação no plenário.

“Espero até o final do mês entregar meu relatório. O acervo de informação, debates, indicadores, enfim, tudo que foi feito na Câmara será levado em consideração”, ressaltou Ferraço. “É preciso que a gente olhe para o impacto que isso pode produzir na economia brasileira, na geração de emprego.” Em mais uma tentativa de reduzir resistências contra a reforma da Previdência, articuladores do governo acertaram com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que a proposta só será votada no plenário da Casa após o Senado concluir a votação da reforma trabalhista, apurou o Estado.

A avaliação de interlocutores do governo é de que a votação da reforma trabalhista pelo Senado será uma sinalização importante para os deputados de que os senadores também arcarão com o ônus das reformas.

Hoje, há reclamação recorrente de que só os deputados se desgastam para votar medidas impopulares, que acabam paralisadas no Senado.

Se o acerto for mantido, a reforma da Previdência só deve começar a ser votada no plenário da Câmara em junho – o calendário do governo previa início da votação em maio.

Ferraço disse que ouvirá todos, o que inclui representantes das centrais sindicais, que têm encampado uma campanha contra a reforma. A principal queixa dos sindicalistas é a possibilidade de ser extinta contribuição sindical.

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), ressaltou que o partido irá defender que o fim da contribuição sindical permaneça no relatório final da proposta. “Essa acabou sendo uma posição consensual dentro do partido.

Discutimos até uma alternativa de uma possível transição de alguns anos para que isso ocorresse.

Mas há hoje uma posição amplamente majoritária pela manutenção do texto.” Aliados do líder do PMDB, senador Renan Calheiros (AL), apresentaram ontem um requerimento para que a reforma trabalhista seja também discutida pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), presidida pelo senador Edison Lobão (PMDB-MA), e que integra o grupo mais próximo do senador alagoano.

Renan é um dos principais críticos à reforma do governo Temer.

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45124, 05/04/2017. Economia, p. B4.